Girona perde com o Barcelona mas Puigdemont goleia em Montilivi

Histórico derby catalão não teve surpresas, com o conjunto de Messi a vencer por 3-0. Nas bancadas a grande ovação foi para o líder dos independentistas

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Carles Puigdemont teve uma grande noite em Girona LUSA/Robin Townsend

Foram necessários 87 anos para o intitulado “novo derby” catalão ser uma realidade na liga espanhola. Pela primeira vez na sua história, o Girona, recém-promovido ao primeiro escalão, recebeu o grande Barcelona. Mas a noite foi memorável para todos os girondenses não apenas pelas presenças de estrelas como Messi, Iniesta ou Suárez. Na realidade, foi um político, Carles Puigdemont, quem fez vibrar a assistência no Estádio Montilivi.

O presidente do governo da Catalunha, adepto dos dois emblemas, que desafia por estes dias o Governo de Madrid com um referendo independentista, marcado para dia 1 de Outubro, foi recebido pelos adeptos das duas equipas com gritos de “votarem, votarem” (“vamos votar, vamos votar”). E depois cantou-se o hino catalão a plenos plumões.

O resultado acabou por ser o menos importante neste turbilhão emocional, mas, a título de curiosidade, o Barcelona venceu, por 3-0, com dois autogolos de jogadores do Girona (Aday, 17’; Iraizoz, 48’) a facilitarem o triunfo dos visitantes, que foi confirmado com um golo do uruguaio Luis Suárez (69’). Desta vez, a equipa da casa não surpreendeu, como quando impôs um empate a duas bolas ao Atlético de Madrid neste mesmo palco. Um desfecho que não terá deixado Puigdemont insatisfeito, até porque no seu “jogo” em Montilivi já tinha vencido de goleada.

 O desporto tem um lugar especial no coração de Puigdemont, nascido em Amer, aldeia próxima da cidade de Girona. Em jovem praticou râguebi, hóquei-patins e futebol, onde se estreou como guarda-redes, estabilizando-se depois no meio-campo. Como jornalista, profissão que exerceu antes de se dedicar exclusivamente à política, começou por escrever crónicas de futebol e nunca mais deixou de marcar presença nos grandes jogos que envolvem equipas catalãs. Mais concretamente o Girona, o seu primeiro clube, e o Barcelona de que também é fervoroso adepto.

 Por ironia do destino, o “seu” Girona chegou esta temporada pela primeira vez à liga principal, depois de várias tentativas fracassadas em alcançar o patamar máximo do futebol espanhol. Mas este sucesso poderá ser efémero, caso os independentistas vençam o referendo do próximo dia 1 de Outubro, considerado “ilegal” pelo Governo de Madrid e suspenso pelo Tribunal Constitucional.

 É que na eventualidade de Puigdemont declarar unilateralmente a independência da Catalunha (cenário que Madrid não contempla), as equipas da agora comunidade autonómica deixariam de poder participar nos escalões profissionais espanhóis. Uma promessa, em tom de ameaça, de Javier Tebas, presidente da Liga. O que, hipoteticamente e à falta de melhor solução, implicaria a criação de um campeonato catalão previsivelmente enfadonho. Ou seja, uma superpotência mundial como o Barcelona estaria reduzido a disputar a prova com oponentes a léguas de distância competitiva.

 Este também seria um desfecho ingrato para o Girona, o primeiro emblema da província catalã com o mesmo nome (maioritariamente independentista) a chegar ao escalão principal. Tudo começou a ganhar forma há dois anos, quando Jaume Roures, patrão do gigante da comunicação Mediapro (com sede em Barcelona), e Pere Guardiola, empresário de jogadores e irmão do treinador Pep Guardiola, adquiriram 80% das acções do clube, que atravessava uma complicadíssima crise financeira e estava à beira da liquidação. Estas acções foram depois parar às mãos da francesa TVSE Fútbol.

Já em Agosto deste ano, com a subida à Liga principal assegurada, Pere Guardiola e o City Football Group, sociedade proprietária do Manchester City, tornaram-se proprietários do Girona, através do denominado Girona Football Group, controlando, em partes iguais, 88,6% do capital, com o remanescente a ficar nas mãos de pequenos accionistas. Uma operação que acabou por ser positiva para o clube em termos competitivos, pois possibilitou a chegada de vários jovens talentos provenientes do gigante inglês.

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