Duelo de “estrategas” Machado e Jesus com bênção do cónego Manoel

Avançado brasileiro, que passou pelos dois clubes, marcou o golo da única vitória do Moreirense sobre o Sporting na Liga.

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Manoel durante um jogo com o Vitória, em 2004 SIMÃO FREITAS/ASF

Aos 39 anos, uma década depois de ter encerrado a passagem de sete temporadas pelo futebol português, Manoel admite que chega uma hora em que a saudade bate forte. O Moreirense-Sporting da 7.ª jornada da Liga portuguesa proporciona um desses momentos.

Em Itu, interior de São Paulo, Manoel tenta manter-se a par do campeonato português, apesar de aos poucos estar a perder os contactos que mantinha com ex-companheiros e treinadores. Por incrível que pareça, o antigo avançado confessa não ter uma memória fotográfica tão nítida como seria de esperar daquele golo que deu ao Moreirense, há precisamente 14 anos, a única vitória dos “cónegos” sobre o Sporting, em jogos do campeonato. Um golo fora de horas, no último minuto do período de compensação, de que Manoel guarda um registo vago e impreciso.

“Sei que estava uma chuva danada e houve polémica. O Sporting reclamou uma falta na nossa área, mas a jogada seguiu e o Lito cruzou para eu marcar”, atesta em declarações ao PÚBLICO, sem saber muito bem por quem torcer neste confronto que, além de ex-clubes, promove um duelo de antigos técnicos do brasileiro, ao serviço do Moreirense. 

Depois de iniciar o trajecto no futebol português com as cores do Vitória de Guimarães, Manoel passou por Gil Vicente e Moreirense antes de assinar pelo Sporting. No processo, teve alguns treinadores que admira, como Manuel Machado e Jorge Jesus, rivais directos neste jogo de coincidências.

“Esses dois são tarados por futebol. Dois estrategas. No 4x3x3 do Machado, para jogar comigo e com o Armando, eu era o segundo avançado. Por vezes jogava nas alas. Variava muito. Como era um falso lento, jogava bem pela esquerda. Com o Jesus não é preciso nem comentar. Ele já estava à frente da maioria. Há dias, num debate de futebol na TV aqui no Brasil, discutia-se o treino sem bola para aperfeiçoar o posicionamento. Aí eu falei que o Jorge Jesus costumava fazer isso há quase 15 anos”, sublinha Manoel, para quem seguir a carreira de treinador nunca foi uma opção.

“Aprendi muito no futebol, convivi com muita gente. Mas não levo jeito para essa vida de técnico. Ainda tentei manter a ligação com o futebol, mas o agenciamento de jogadores também não me seduziu. Não é tão simples como muitos pensam”, admite.

O PSV de Van Nistelrooy

Depois de em 2007, por lesão, ter proposto ao Belenenses (então orientado por Jorge Jesus) a rescisão contratual por sentir que não podia dar o contributo que desejava, Manoel regressou ao Brasil para nunca mais regressar a Portugal.

“Tinha uma lesão no calcanhar e mal podia correr. Então falei com o técnico e com a direcção. Abdiquei mesmo do contrato e parti pouco depois. Mas em breve voltarei para mostrar a minha segunda pátria aos meus filhos”, promete, numa declaração de amor que cresceu no Minho, mas que se estendeu obviamente a Lisboa, depois de um contrato de cinco épocas com o PSV Eindhoven.

Com 21 anos, Manoel foi transferido do Inter de Porto Alegre para os holandeses, onde se cruzou com Abel Xavier, o primeiro contacto com a realidade portuguesa. “O presidente do Internacional foi muito criticado por ter aceitado vender o meu passe para o PSV e logo depois convenceu-me a regressar. Na Holanda conheci o Abel Xavier e ele disse-me para não voltar para o Brasil. Hoje sinto que devia ter seguido o conselho dele”, concede, apesar de reconhecer a concorrência que teria de enfrentar em Eindhoven, com Van Nistelrooy e companhia.

“Voltei ao Brasil e ao Internacional para dois anos depois assinar pelo Vitória de Guimarães, de Paulo Autuori, sempre cedido pelo PSV. Seguiu-se o Gil Vicente e, depois de ter marcado o primeiro golo numa goleada histórica em Alvalade, surgiram os primeiros rumores sobre o interesse do Sporting. Ganhámos 3-0 — com mais dois golos do Gaspar e do Paulo Alves — e o Laszlo Bölöni desmentiu, no final, o interesse do Sporting em mim. Na verdade não havia nada de concreto, apenas um namoro. Os jornais insistiam, mas seguiu-se o Moreirense”, recorda. 

Ao Minho, o avançado chegou pela mão de Manuel Machado, referência que o transporta de novo até ao desafio de hoje (18h15, SportTV). “O jogo é em Moreira de Cónegos? Aí pode complicar para o Sporting. É um terreno difícil. Nunca se sabe o que pode acontecer”, antecipa, na tentativa de não se comprometer com nenhuma das partes, apesar de a passagem pelo Sporting, em 2005, ter sido efémera (não chegou a jogar em Alvalade).

“No segundo ano de Moreirense, o meu agente disse-me que havia a hipótese de ir para o Sporting. O pior é que nesse ano, depois de ter assinado por três épocas, o José Peseiro optou pelo Elpídio Silva e eu voltei para Guimarães”, diz, sem deixar transparecer qualquer nota de mágoa. Mágoa, apenas pela despromoção do Vitória nesse ano e por ter deixado Portugal ainda numa idade tão jovem.

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