Um espaço só para mulheres nos transportes públicos? Há quem o proponha

"Apartheid" e "Big Brother" foram as qualificações encontradas por candidatos à câmara de Lisboa para classificar propostas como a criação de uma divisória nos transportes ou a aposta na videovigilância.

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Margarida Basto

Criar uma divisória nos transportes públicos para defender as mulheres do assédio foi uma das propostas que incendiou o debate sobre o tema entre os candidatos à Câmara de Lisboa nesta quarta-feira à noite. Mas não foi a única polémica — a videovigilância do espaço público também dividiu os intervenientes.

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Criar uma divisória nos transportes públicos para defender as mulheres do assédio foi uma das propostas que incendiou o debate sobre o tema entre os candidatos à Câmara de Lisboa nesta quarta-feira à noite. Mas não foi a única polémica — a videovigilância do espaço público também dividiu os intervenientes.

A solução da videovigilância, apontada por Carlos Teixeira, candidato independente da coligação PDR e Juntos pelo Povo, e a da criação de zonas específicas para mulheres nos transportes públicos, defendida por Joana Amaral Dias, do partido Nós, Cidadãos!, foram as que mais celeuma causaram no debate "Mulheres, raparigas e a cidade: o direito ao espaço público em Lisboa", organizado pelas Associações Mulheres sem Fronteiras e Mulheres na Arquitectura e a Casa do Brasil de Lisboa.

"A videovigilância pode ter duas vertentes: a vigilância propriamente dita e a vídeo protecção. Eu prefiro a segunda. Uma das grandes carências da nossa cidade é a iluminação. A videovigilância pode resolver esse problema", defendeu Carlos Teixeira.

Luís Júdice, o cabeça de lista do PCTP/MRPP, manifestou o seu repúdio pela ideia, considerando-a um regresso ao fascismo. "A videovigilância potencia o 'Big Brother' e eu não quero o 'Big Brother'", garantiu, indicando que o esvaziamento do centro de Lisboa potencia a sensação de insegurança.

"Chamar vídeo protecção à videovigilância é enganar as pessoas. Usar a videovigilância como método não acredito que seja solução. A seguir à vigilância vem a repressão", lembrou Isabel Pires, candidata do BE à Assembleia Municipal de Lisboa, que propôs a melhoria da iluminação nocturna e do funcionamento dos transportes públicos.

Também a proposta de Joana Amaral Dias, que sugeriu a criação de divisórias nos transportes lisboetas de modo a reduzir o assédio, foi recebida com relutância pela plateia — a Casa do Brasil teve lotação esgotada — e pelos participantes do debate, para o qual foram convidadas todas as candidaturas, à excepção do PNR.

"Haver áreas específicas só para mulheres seria voltar aos tempos do 'apartheid'", afiançou Inês Sousa Real, a candidata do PAN, para quem é preciso, acima de tudo, incentivar a educação para a cidadania.

Tal como Ana Margarida Carvalho (CDU), que definiu a sugestão como "carruagem cor-de-rosa", também Margarida Saavedra, das listas do PSD/"Por uma Senhora Lisboa", rejeitou a medida segregadora e sugeriu o regresso da figura do guarda nocturno.

Helena Roseta, presidente da Assembleia Municipal de Lisboa, revelou que o executivo de Fernando Medina está já a preparar um centro de atendimento para pessoas que são vítimas de violência no espaço privado ou público.

Nas eleições de 1 de Outubro concorrem à presidência da Câmara de Lisboa Assunção Cristas (CDS-PP/MPT/PPM), João Ferreira (CDU), Ricardo Robles (BE), Teresa Leal Coelho (PSD), o actual presidente, Fernando Medina (PS), Inês Sousa Real (PAN), Joana Amaral Dias (Nós, Cidadãos!), Carlos Teixeira (PDR/JPP), António Arruda (PURP), José Pinto-Coelho (PNR), Amândio Madaleno (PTP) e Luís Júdice (PCTP-MRPP).