“Se eu fosse qualquer outro jogador já teria saído pelo dinheiro”

Fabrício chegou a Portugal em 2011 e até esta época só tinha jogado na II Liga e pelo Portimonense

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Fabrício e Luisão lutam pela posse de bola Lusa

O regresso do emblema algarvio ao principal escalão do futebol português proporcionou a estreia a Fabrício na I Liga. Estreou-se a marcar no campeonato em pleno Estádio da Luz, na derrota do Portimonense por 2-1 – “Na verdade fiz dois golos, mas um foi anulado”, atira com uma gargalhada – e admite que gostava de celebrar também no Dragão, que a equipa de Vítor Oliveira visita logo à noite (20h30, SP-TV1). Sobre o técnico que consumou o regresso do Portimonense à I Liga, o futebolista brasileiro de 27 anos confessa que não lhe conhecia a fama de especialista em subidas de divisão. Mas não levou muito tempo a render-se.

Após seis anos em Portugal, chegou à I Liga. Quais são as principais diferenças?
Foi demorado... É um sonho realizado poder jogar na I Liga pelo Portimonense, o clube que me recebeu na Europa. Fico muito feliz. Estes seis anos foram muito bons, recebi várias propostas para jogar na I Liga, mas sempre acreditei que o Portimonense pudesse subir de divisão. Demorou bastante, um ano ficámos a quatro pontos, na época passada ficámos em igualdade pontual mas não subimos devido à diferença de golos. Tardou mas não falhou, como a nossa vitória no campeonato [contra o Feirense]. Estávamos a jogar bem para caramba mas a perder sempre. Mas chegou a altura em que ganhámos.

É mais fácil jogar na I Liga?
A I Liga é muito melhor em termos de futebol, em termos de qualidade. Os estádios, os adversários têm mais qualidade. Gosto muito mais de jogar na I Liga (risos). É menos difícil porque as equipas têm muita qualidade e o futebol é mais bonito. As equipas jogam e deixam jogar. Há mais espaço para jogar, enquanto na II Liga há mais bola pelo ar e pouco espectáculo.

Estreou-se a marcar na I Liga ao Benfica, na Luz. O que é que significou esse momento?
Foi maravilhoso, um presente de Deus. Vou ficar com ele guardado para sempre, uma recordação no coração. Uma estreia num estádio lindo, contra uma grande equipa, e poder fazer um golo. Na verdade foram dois, mas um foi anulado (risos). Foi um golo muito especial para mim e para a minha carreira. Um sentimento único.

Agora segue-se uma visita ao Dragão. Gostava de marcar lá também?
Seria uma grande felicidade ajudar o Portimonense com golos. Vai ser a minha estreia no Dragão e confio na minha equipa. Vamos jogar num estádio lotado e eu quero desfrutar ao máximo e tentar dar o meu melhor.

O FC Porto é líder do campeonato, só com vitórias, a par do Sporting. Ainda é muito cedo, mas como acha que vai ser a luta pelo título?
São duas equipas que já estão a destacar-se na classificação. Nenhuma equipa ‘grande’ quer ficar para trás logo no começo do campeonato. O mercado no período de transferências de Janeiro ainda vai mexer muito, mas com certeza que os que vão neste momento na frente são os favoritos. É um grande desafio defrontar um dos favoritos ao título nesta altura, e em casa deles. Para mim é uma felicidade muito grande poder jogar num estádio como o Dragão.

Há alguns anos que o Algarve não tinha uma equipa na I Liga. As pessoas estavam ansiosas por disso?
Sim, sim. Fiquei muito feliz quando o Portimonense subiu. Com as condições que há aqui, em todos os aspectos, podia haver três equipas na I Liga. Isso seria muito bom, até por causa das viagens. Temos muitas viagens longas para o norte do país. (risos)

A ouvi-lo percebo que está integrado e gosta de viver em Portimão, correcto?
Sim, gosto. Se eu fosse qualquer outro jogador já teria saído pelo dinheiro. Mas eu fiquei por amor e pela minha família. Tinha o objectivo de subir de divisão com o Portimonense e jogar na I Liga por este clube é muito especial para mim. Atingi essa meta e no futuro vou traçar a próxima meta para a minha carreira.

O nome Vítor Oliveira é indissociável da subida do Portimonense. Quando souberam que ele ia treinar o clube sentiram que a subida estava mais perto?
Por acaso eu sou meio desligado do futebol, só fiquei a conhecê-lo depois de ele vir (risos). Uns amigos que trabalharam com ele no Moreirense falaram-me sobre ele e, depois de começarmos a trabalhar, entendi que ele tem uma visão vencedora. Está habituado a ganhar e encaixou certinho no Portimonense. Passou a sua experiência e espírito vitorioso para o grupo e tudo deu certo. É bom estar perto de pessoas vencedoras.

Há dez anos que o Vítor Oliveira não treinava na I Liga. Como conseguiram convencê-lo a ficar em Portimão?
Acho que ele gostou do grupo e quis arriscar fazer algo mais. O accionista deve ter-lhe dado uma certa tranquilidade e espero que dê tudo certo e consigamos atingir os nossos objectivos.

Ao longo destes seis anos teve duas passagens pela Ásia, primeiro na China e depois no Japão. Como é que foram essas experiências?
Foi maravilhoso, é sempre bom sair da rotina. A China deixou-me um pouco mais assustado, porque era a primeira vez que ia para a Ásia. É tudo um pouco mais complicado, mas fui bem recebido e trabalhei com um treinador japonês, Takeshi Okada, um dos melhores técnicos que já tive. Quando voltei vinha mais forte, mais confiante, depois dessa experiência. A saída para o Japão foi maravilhosa. Aconteceu num momento muito difícil da minha vida pessoal, eu tinha acabado de perder a minha filha recém-nascida. Foi muito difícil, cheguei ao Kashima Antlers um mês depois de ter perdido a minha filha. Mas Deus abençoou-me muito, conquistei dois títulos (campeonato e Taça do Imperador) e ainda cheguei à final do Mundial de clubes, contra o Real Madrid. Foi no Japão que eu superei... é lógico que isso está sempre ali no coração, a cicatriz fica para sempre, mas no Japão vivi momentos abençoados que nunca vou esquecer.

O Kashima Antlers até levou essa final contra o Real Madrid para prolongamento. Acreditou numa surpresa?
Sim, estávamos todos motivados. Com 2-2 vimos que era possível. Chegámos a ter duas situações claras de golo no prolongamento. Mas infelizmente deixaram o homem sozinho duas vezes dentro da área e as coisas complicaram-se. Largam o CR7 sozinho na área e ele não perdoa. (risos)

Como era a vida no Japão?
É bastante diferente. O que me assustou mais foi o preço das coisas lá. Era tudo baratinho nos países por onde passei, mas lá é tudo caro. Mas é maravilhoso, a comida é óptima, as condições de treino, gostei de tudo. O oposto da China, que era a minha única experiência asiática.

E ficou a falar alguma coisa de japonês? No Portimonense tem tido companheiros de equipa japoneses.
Só bom dia, boa tarde, boa noite... Só o básico. Tínhamos um intérprete e ficávamos preguiçosos, não estudávamos muito. Era só mesmo o básico para o dia-a-dia.

Qual foi o defesa mais complicado que teve de enfrentar na carreira?
Só joguei uma vez contra ele, mas achei o Sergio Ramos complicado. É um defesa rápido. Só tive umas duas ou três oportunidades mano-a-mano com ele, mas que eu me lembre foi um dos mais difíceis.

Quais são as suas referências no futebol? Que jogadores admira?
Quando era pequeno sempre me inspirei no Kaká e no Ronaldinho Gaúcho. Sempre gostei muito deles. Há outros jogadores que admiro muito, como o Ronaldo “Fenómeno”, mas do meu tempo de criança aqueles que eu mais via e gostava eram o Kaká e o Ronaldinho Gaúcho.

Em que campeonato gostava de actuar na sua carreira?
Tenho vontade de jogar num monte de países da Europa. Gostava de jogar em Espanha, na Alemanha, na Itália. E também sonho em voltar ao Japão. A gente vai planeando, vai sonhando, e Deus sabe para onde nos guia.

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