Deixe os binóculos à mão. É tempo de observar as aves a abandonarem o país

Há muitas actividades espalhadas por Portugal para poder observar as migrações, uma altura em que "tudo pode acontecer nos céus".

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Há cerca de 360 espécies diferentes de aves para serem observadas em Portugal asm ADRIANO MIRANDA

Longe da cidade, há pessoas que caminham com cuidado, equipadas com binóculos e chapéu, a olhar frequentemente para o céu, ao mesmo tempo que tentam não fazer muito barulho. Afinal, há aves a migrarem para Sul e não convém assustá-las. Este é apenas um cenário provável do que vai acontecer no último dia de Setembro e primeiro de Outubro. O Eurobirdwatch está quase aí e em Portugal há 26 eventos espalhados por continente e ilhas que querem pôr o público em contacto com a actividade destes animais.

No ano passado, cerca de 400 pessoas aderiram ao convite feito pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) que, com a ajuda de várias entidades, organiza o evento em Portugal desde o início do século e este ano não será excepção. Mas não se pense que o Eurobirdwatch é só um evento de recriação. “A iniciativa tem dois níveis: incentivar as pessoas a ir para o campo e despertar a curiosidade para as aves que nos rodeiam, mas também funciona como um pretexto para conservar e dar a conhecer os problemas que estas aves enfrentam”, sintetiza a coordenadora do departamento de cidadania ambiental da SPEA, Alexandra Lopes.

As observações são feitas na companhia de guias especializados e as inscrições são limitadas — grupos pequenos, no máximo com 15/20 pessoas, são ideais para ter o “mínimo impacto possível” na natureza e na actividade dos animais. Participa no evento quem já tem algum conhecimento de observação mas também há “cada vez mais” grupos e pessoas que trazem a família, nota a coordenadora. A data também contribui para que não haja esquecimentos: “É sempre no primeiro fim-de-semana de Outubro”. Mas porquê? Anualmente há duas migrações, uma durante a Primavera, outra durante o Outono. Esta última ocorre entre os meses de Agosto e Novembro. O fim-de-semana escolhido é, portanto, uma “boa altura” para observar a migração das aves para África.

Ao todo, o Turismo de Portugal contabiliza, entre continente e ilhas, 36 sítios de interesse para a melhor observação possível do que se passa a muitos metros de altitude.

A Ria de Aveiro, a Serra da Estrela ou o Paul de Arzila, em Coimbra, são apenas alguns exemplos de locais onde vão decorrer os eventos, que se espalham por todo o país, desde o Minho ao Algarve, sem esquecer as ilhas.

Sagres é o local de excelência para esta actividade pois é uma das últimas paragens das aves que se dirigem para África. Devido à sua localização geográfica, concentra uma elevada abundância e diversidade de aves migradoras. 

Um relatório do Turismo de Portugal de 2012 apontava para a existência de 360 espécies diferentes “que podem ser observadas regularmente” no país. Obviamente que é praticamente impossível registar o aparecimento de todas as espécies durante um fim-de-semana mas, como nota Alexandra Lopes, “na altura de migração, tudo pode acontecer nos céus” e é até possível ver espécies de diferentes latitudes a sobrevoar, por acidente, os céus portugueses. 

Texto editado por Ana Fernandes     

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