Kalashnikov: quando uma máquina de matar se transforma em estátua

Mikhail Kalashnikov, o criador da icónica espingarda automática, tem, a partir desta terça-feira, direito a uma estátua em Moscovo, na Rússia.

Reuters/SERGEI KARPUKHIN
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Acabou a sua vida praticamente surdo, resultado de anos e anos de testes de tiro para a sua célebre invenção, uma arma responsável pela morte de milhões de pessoas ao longo de décadas. Nada que o impedisse de dormir descansado. "Sinto-me como uma mãe — sempre orgulhoso", afirmou Mikhail Kalashnikov numa entrevista em 2003. Esta terça-feira, no centro de Moscovo, passou a ter direito a uma estátua de nove metros em sua honra.

Numa cerimónia que misturou honras militares com a presença de figuras religiosas, foi o ministro da Cultura russa a lançar o tom da homenagem. "[A kalashnikov] é uma marca cultural da Rússia", afirmou Vladimir Medinsky, antes de um sacerdote ortodoxo russo abençoar a estátua. "[Mikhail Kalashnikov] criou esta arma para defender a pátria", acrescentou o padre Konstantin. O jornal britânico Guardian nota que o polémico sacerdote Vsevolod Tchapline, antigo porta-voz da Igreja Ortodoxa Russa, escreveu na sua página no Facebook que "a nossa arma é uma arma sagrada".

O monumento não se restringe à figura do militar e inventor russo. Nas costas da estátua principal, ergue-se uma segunda escultura que representa o Arcanjo Miguel matando um dragão com uma lança. Segundo o autor da obra, a própria lança simboliza a AK-47, o nome do modelo original da kalashnikov.

A inauguração do monumento causou polémica, depois de vários moscovitas se terem mostrado contra a sua localização. Um manifestante foi mesmo detido pela polícia enquanto tentava abrir um cartaz onde se podia ler "um criador de armas é um criador de morte". Um advogado que reside na zona, citado pelo Guardian, referia que colocar uma estátua de Kalashnikov "numa das mais movimentadas ruas da cidade reafirma uma imagem da Rússia como um país militarista e neo-imperialista que se sente cercado por inimigos".

Mikhail Kalashnikov morreu em 2013, com 94 anos, na cidade de Izhevsk. Por onde quer que passasse, quer fosse na agricultura ou nos caminhos de ferro, Kalashnikov acabava por criar engenhocas que facilitavam a sua vida e a dos seus colegas. Mas registou o seu nome na História quando idealizou mais do que uma engenhoca mas sim o protótipo da AK-47. A ideia para este modelo de arma, que foi concebido para participar num concurso promovido pela União Soviética em 1947, surgiu-lhe quando se viu num hospital de guerra, ainda durante a II Guerra Mundial, e ouviu os lamentos dos seus colegas soviéticos pelo facto de os rivais alemães terem armas automáticas.

A estátua inaugurada esta terça-feira não é única. Kalahsnikov já tinha sido imortalizado com uma estátua em Izhevsk, a cidade onde viveu os últimos anos e onde ainda se fabricam anualmente milhares de kalashnikovs.

EPA/SERGEI ILNITSKY
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