S&P: "Esperamos que o Governo se mantenha fiel às regras europeias"

Marko Mrsnik é o analista da Standard & Poor's que assinou o relatório em que a agência anunciou a subida do rating a Portugal. Nas respostas por email que enviou ao PÚBLICO diz que o crescimento durante o primeiro semestre surpreendeu e que as principais preocupações estão no nível de endividamento

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Reuters/BRENDAN MCDERMID

Surpreenderam toda a gente com a decisão de subirem o rating sem antes terem mudado a perspectiva para “positiva”? Porque é que aceleraram a subida do rating?
Apesar de realmente não termos mudado para uma perspectiva “positiva”, já vínhamos sinalizando de forma regular nas nossas notas que poderíamos subir o rating se se registasse uma melhoria marcada nas expectativas de crescimento económico. Em comparação com a análise que fizemos em Março, agora projectamos que o PIB português cresça 2,2% em média entre 2017 e 2020, em comparação com a previsão anterior de 1,5%. Ao mesmo tempo, esperamos que o défice de 1,5% seja cumprido, o que coloca a dívida pública em percentagem do PIB num caminho descendente mais firme. Por fim, acreditamos que os riscos de uma deterioração significativa das condições de financiamento externo diminuíram e que o BCE irá garantir uma transição suave para uma política monetária menos expansionista.

Não estariam a ser demasiado penalizadores antes, sendo agora surpreendidos pelos resultados obtidos?
O crescimento de 2,8% durante a primeira metade do ano foi realmente uma melhoria muito significativa, bastante acima das nossas anteriores expectativas. Em Março, nós ainda nem tínhamos os dados do primeiro trimestre disponíveis. E mesmo outras instituições como o FMI ou o Governo tinham na altura expectativas muito mais baixas no que diz respeito ao crescimento de 2017.

Para além do crescimento do PIB, que indicadores fazem de Portugal um país com “grau de investimento”?
Os pontos favoráveis estão na melhoria das medidas de fluxo nos últimos anos, como a redução do défice, o aumento do excedente primário, a passagem para um excedente com o exterior ou o crescimento económico mais recentemente. O problema são as medidas de stock, como o endividamento público e privado ou a posição líquida face ao exterior, que, apesar da tendência de descida, continuam a níveis muitos altos.

Como é que gostariam de ver o Governo usar uma eventual margem orçamental trazida pela descida dos juros?
Não faz parte das nossas competências dar sugestões ou recomendações de política, e não temos qualquer preconceito em relação ao que deve ser a composição da estrutura do orçamento. O que fazemos é olhar para indicadores como a dívida pública, a capacidade do país para obter receitas, a flexibilidade das receitas e das despesas e a dimensão dos activos líquidos.

Temem uma mudança de estratégia no OE para o próximo ano?
Esperamos que o Governo se mantenha fiel aos compromissos orçamentais feitos no âmbito das regras europeias e definidas no Programa de Estabilidade, consolidando a sua posição orçamental. Para 2018, prevemos um défice de 1,1%, que está em linha com a previsão do Governo, portanto não antecipamos qualquer desvio significativo nessa matéria.

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