Com o programa de Teresa Leal Coelho, houve de tudo: da cadeira pelo ar à poesia

A candidata social-democrata andou às voltas no Bairro do Cabrinha ou, melhor, no parque de estacionamento subterrâneo, e no fim debitou muitas medidas para Lisboa.

Mobilidade em destaque na campanha autárquica de Lisboa RTP

Ouvem-se gritos e uma cadeira voa pelo ar. Minutos antes de a candidata do PSD a Lisboa entrar no Bairro Quinta do Cabrinha, há uma desavença entre vizinhos. Depois, Teresa Leal Coelho chega, os sociais-democratas aplaudem e os jornalistas são chamados para uma visita: a social-democrata percorre o bairro em passo acelerado, os repórteres seguem-na, não há praticamente interacção com moradores, mas sim largos minutos numa garagem, para a frente e para trás, sem que ninguém perceba o exacto sentido do que se está a passar ou para onde se está a ir.

O objectivo era, afinal, mostrar património abandonado. Mas foi um início invulgar aquele que aconteceu nesta segunda-feira na tardia apresentação do programa da candidata do PSD a Lisboa. E depois dele, Teresa Leal Coelho debitou medidas atrás de medidas. Isto, apesar de se ter escudado das críticas de que apresentou o programa já bastante tarde com a justificação de que tem vindo a avançar com ideias há vários meses.

Esta não foi uma segunda-feira fácil para a social-democrata: acordou com a sondagem do JN que a coloca em terceiro lugar, com 16%, um ponto percentual abaixo do CDS – nunca o PSD teve um valor tão fraco em Lisboa. E o dia acabou sem a presença do líder do partido na apresentação do programa eleitoral de Teresa Leal Coelho. A candidata desvalorizou tudo: “Já hoje falei três vezes com Pedro Passos Coelho”, disse aos jornalistas, acrescentando que tem contado com a presença do presidente do PSD noutras acções. “Pedro Passos Coelho está comigo há muito tempo e continuará comigo”, sublinhou. Sobre a sondagem desfavorável, atalhou caminho: “Estou convencida que no dia 1 de Outubro o meu programa será o escolhido.”

A "mulher-coragem"

Na apresentação do programa Por uma senhora Lisboa, em pleno bairro Quinta do Cabrinha, onde nem todos os moradores estavam satisfeitos com a comitiva do PSD e houve alguns insultos atirados ao ar, estiveram sociais-democratas como Marco António Costa e Hugo Soares. O candidato à Assembleia Municipal, José Eduardo Martins, foi o primeiro a discursar e dedicou à candidata versos de Sophia de Mello Breyner: “Porque os outros se mascaram mas tu não/ Porque os outros usam a virtude/ Para comprar o que não tem perdão/ Porque os outros têm medo mas tu não.” Chamou a Teresa Leal Coelho “mulher coragem”, disse-lhe que tinha “o maior orgulho em ser um átomo” ao lado dela. “Dia 1, chova ou faça sol, vamos ter uma mudança em Lisboa e Teresa Leal Coelho será presidente”, vaticinou.

E que medidas defende, afinal, a social-democrata que se aproxima do autarca socialista, Fernando Medina, na preocupação com a habitação, mas se distancia, por exemplo, no que toca à gestão dos transportes públicos? Colocar no mercado de arrendamento a preços acessíveis cerca de 2000 fogos camarários que se adeqúem à habitação, depois de reabilitá-los; agilizar a entrega de habitação municipal, reduzindo esse prazo a um máximo de três meses a contar da data em que a casa vaga; exigir medidas legislativas que permitam à câmara avançar, por exemplo, com a isenção de IMI para a compra de habitação permanente ou destinada ao arrendamento, com contrato igual ou superior a um ano – a isenção seria por um período de dez anos para casas com valor igual ou inferior a 250 mil euros e por um período de cinco anos para aquelas com valor igual ou inferior a 500 mil.

Teresa Leal Coelho pretende ainda desenvolver um projecto nos terrenos da antiga Feira Popular que inclua habitação, escritórios, equipamentos de utilização colectiva, estacionamento subterrâneo, e espaços verdes. Alargar os horários dos transportes também faz parte do programa, bem como reivindicar junto da administração central a gestão integrada da Carris, Metropolitano de Lisboa e Transtejo e, ainda, “concessionar a gestão operacional dos transportes públicos de Lisboa a entidades privadas, com contratos de oito a dez anos”. Mais propostas: reduzir, aos residentes, a componente municipal do IRS, tendo como objectivo chegar aos 5% no final de dois mandatos; manter a redução máxima prevista por lei para as famílias com dependentes; extinguir a taxa de protecção civil; e manter a taxa de IMI nos 0,3%”. No documento, defende-se ainda o aumento da taxa turística para dois euros e a existência de um pacto fiscal “para não aumentar impostos nem criar novas taxas durante períodos de seis anos”. Aplausos mereceu esta ideia: “Garantir que o serviço de recolha de lixo é efectuado sete dias por semana e 365 dias por ano”. 

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