O tubarão ó-ó e chichi

Não é só o cheiro forte a urina velha que é preciso dominar para comer hákarl, a especialidade islandesa. Para isso basta seguir o conselho de apertar as narinas. Não, o verdadeiro desafio é não vomitar por causa da podridão amoniacal do sabor.

Hákarl é feito com a carne de uma dos maiores carnívoros do mundo: o Somniosus microcephalus, o tubarão-da-gronelândia. Pelo latim fica-se com a ideia que é sonolento e não muito inteligente. Também não é rápido. A velocidade de cruzeiro é um quilómetro por hora. Estando cheio de pressa é capaz de atingir os dois quilómetros por hora.

O tubarão-da-gronelândia pode pesar mil quilos e medir sete metros. Está tão cheio de ureia e de outras toxinas que não se pode comer acabadinho de pescar. É venenoso. É preciso enterrá-lo e deixá-lo apodrecer durante umas semanas. Nisto é capaz de ajudar o apetite que este tubarão tem por carne podre.

Ninguém quer que lhe falte nada: depois de apodrecer na terra é pendurado para poder apodrecer ao ar. Não faço ideia como se chega à conclusão que está pronto, porque o cheiro vai piorando com cada semana que passa.

O facto de serem lentos e dorminhocos dá-lhes uma invejável longevidade: podem viver até aos 500 anos. Sim, quinhentos. Os mais fugazes podem morrer tragicamente na flor da idade, aos 272 anos.

Nunca morrem antes dos 272 anos.
O cheiro e o sabor podem ser pestilentos, mas ninguém lhes tira aquele mínimo de três séculos de farra e água fria. Há aqui uma lição qualquer que nos está a escapar.

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