Grande Porto acolhe primeira escola de educação rodoviária para crianças para prevenir sinistralidade

A primeira escola ACP Kids é o resultado de cinco anos de educação rodoviária para crianças do pré-escolar e do primeiro ciclo do ensino básico. Depois do Porto segue-se Lisboa.

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MARIO AUGUSTO CARNEIRO \ PUBLICO

“Quando o meu pai faz alguma asneira no trânsito aviso-o e ele não volta a repetir”, diz uma aluna do terceiro ano da Escola Básica do Estádio do Mar, em Matosinhos. É uma dos cerca de 60 alunos do terceiro e quarto ano daquele estabelecimento de ensino, que esta segunda-feira marcaram presença na inauguração da escola ACP Kids, o primeiro estabelecimento de educação rodoviária para crianças do país, que abriu provisoriamente no Centro de Desportos e Congressos de Matosinhos para servir toda a Área Metropolitana do Porto.

É precisamente uma das funções deste projecto educar adultos a partir dos ensinamentos passados aos filhos, afirma uma das formadoras do ACP Kids, Emília Carvalho, que sublinha o interesse e a predisposição para aprender destes alunos de tenra idade. É também nesta fase que entende ser fundamental actuar para a prevenção, formando desde muito cedo as crianças para a sensibilização relativamente a hábitos na matéria da segurança rodoviária.

No primeiro semestre deste ano, de acordo com dados da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária, registaram-se 237 mortes nas estradas portuguesas, mais 44 do que em igual período de 2016. O distrito com mais mortes resultantes de sinistros na rodovia é precisamente o do Porto (35), onde abriu a escola, seguido por Setúbal (33) e Lisboa (24). Dentro das localidades, em Portugal, o número de mortes por sinistralidade está acima da média europeia. Dados da Prevenção Rodoviária Portuguesa, divulgados este ano, dão conta de 29 mortos por 100 mil habitantes. A média da UE está nas 19 mortes por 100 mil habitantes.

Face ao número elevado de sinistros e de mortes igualmente registado em anos anteriores, o Automóvel Club de Portugal (ACP) iniciou em 2012 o programa ACP Kids, que em 2015 recebeu o Prémio Excelência em Segurança Rodoviária da Comissão Europeia. O programa para crianças do pré-escolar e do primeiro ciclo do ensino básico, com idades entre os 3 e os 9 anos, não tinha até agora um espaço fixo para receber os alunos. Como ainda continua a acontecer, com excepção da área Metropolitana do Porto que agora tem um espaço próprio para o efeito, a formação teórica é dada nas escolas pelos próprios professores e as aulas práticas por técnicos do ACP que se deslocam às autarquias onde se situam os estabelecimentos de ensino que se inscrevem no programa que, de acordo com o clube, abrange cerca de 100 mil crianças.

Nesta primeira escola, ao contrário do que acontece com o programa itinerante, os custos são divididos pelo ACP, pela Câmara Municipal de Matosinhos e pela Federação Internacional do Automóvel (FIA). Apesar do apoio institucional da Direção-Geral de Educação, da DGesTe, Rede nacional de Bibliotecas e do Plano Nacional de Leitura, no resto do país, o programa é suportado na totalidade pelo ACP, o que, segundo o clube, é uma sobrecarga para as contas da instituição, que acarreta com os custos da produção e de envio de todos os materiais que seguem para as escolas e da remuneração dos formadores.

Nesta primeira escola é replicada a estrutura que é montada nos estabelecimentos de ensino. Há uma sala para aulas teóricas, já testada pelos alunos que inauguraram o espaço nesta segunda-feira, onde são leccionadas “regras básicas da circulação rodoviária e alguns conceitos essenciais à prevenção de acidentes”. Para que seja posta em prática a base teórica há uma sala que simula o ambiente de uma rodovia onde são feitos exercícios como o do atravessamento adequado em ruas com e sem passadeira. É intenção do ACP abrir noutros distritos outras escolas. A próxima, ainda sem data marcada, será em Lisboa.

Na AMP abriu provisoriamente no Centro de Desportos e Congressos de Matosinhos, mas passará a funcionar definitivamente no Parque de Manhufe, no mesmo concelho, diz o presidente da autarquia, Eduardo Pinheiro, que até estarem reunidas as condições para que funcione no novo espaço entendeu aproveitar o início do ano lectivo e a Semana Europeia da Mobilidade para inaugurar o projecto.

Projecto que de acordo com o presidente do ACP, Carlos Barbosa, foi aceite pela autarquia matosinhense “à primeira” depois de “várias negas” de outras autarquias. Considera o responsável pelo clube o exemplo de Matosinhos, após estes anos sem qualquer financiamento estatal e sem o apoio de “vários ministros de educação que nunca aceitaram que a segurança rodoviária fosse uma disciplina obrigatória” do plano curricular, “uma chapada no governo central”.

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