Jovens de Pedrógão com apoio psicológico no regresso às aulas

Equipas de psicólogos e psiquiatras deslocaram-se às escolas dos três concelhos afectados e fizeram rastreio porta a porta. Depois do incêndio começaram a acompanhar 115 pessoas.

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O incêndio deflagrou há precisamente três meses e causou 64 mortos e mais de 200 feridos Daniel Rocha

Quando aconteceu a tragédia de Pedrógão Grande, os alunos do 12.º ano estavam em época de exames. Três meses depois estão todos a voltar das férias e professores e encarregados de educação têm uma tarefa nova: ficar atentos a sinais preocupantes. Para isso, haverá um reforço do acompanhamento por psicólogos e psiquiatras durante o ano lectivo.

Três meses depois da tragédia a comissão de acompanhamento da população afectada pelos incêndios adiantou ao PÚBLICO já terem sido realizadas 564 consultas de acompanhamento por psicólogos e psiquiatras. Este total inclui utentes que já frequentava as consultas antes do incêndio e que necessitam agora de continuar o tratamento e 115 novos utentes que o pediram entretanto. Estes foram sinalizados na sequência de um rastreio porta-a-porta. Precisam de algum tipo de acompanhamento psico-terapêutico regular.

No terreno estão várias equipas multidisciplinares, coordenadas pela Unidade de Saúde Mental de Leiria Norte, um projecto do Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra (CHUC), que já estava no terreno há alguns anos nestes concelhos e que já acompanhava 731 pessoas (341 utentes em Figueiró dos Vinhos, 191 em Pedrógão Grande e 199 em Castanheira de Pera).

Além do apoio à população no geral, as equipas de saúde mental vão reforçar o acompanhamento nas dez escolas - várias do ensino básico - dos três concelhos da zona. Quando aconteceu a tragédia, os exames foram adiados para os alunos do 12.º ano. Agora, no regresso às aulas e porque as circunstâncias vividas naqueles concelhos deixaram marcas que podem só aparecer com o fim das férias e convívio nas aulas, os alunos vão ter um acompanhamento extra de profissionais de saúde mental.

Psicólogos foram à escola

Equipas de psicólogos, enfermeiros e psiquiatras foram esta semana aos estabelecimentos de ensino falar com professores e encarregados de educação para se disponibilizarem no apoio aos alunos, caso seja necessário.

Ana Araújo, a médica psiquiatra que coordena as equipas, explicou ao PÚBLICO que neste momento há vários jovens e crianças a serem acompanhados regularmente. Só no concelho de Castanheira de Pera são 12 e nos restantes dois concelhos – Pedrógão Grande e Figueiró dos Vinhos - o universo é semelhante.

São jovens que foram avaliados e têm apoio, contudo, podem existir mais crianças a precisar de ajuda. A equipa de psicólogos, psiquiatras e enfermeiros foram às escolas na segunda-feira. Reuniram-se com os dirigentes do agrupamento-geral de escolas e na terça e quarta-feiras com os responsáveis das escolas individualmente para disponibilizarem e darem a conhecer o apoio desta equipa e também para alertarem professores e encarregados de educação para “ficarem atentos aos sinais” dos mais novos.

“Não temos lista de espera”

Depois destas reuniões, as escolas, que contam elas próprias com psicólogos da Saúde Escolar e que têm uma organização própria e tem desenvolvido trabalho reforçado desde o incêndio, apresentarão as necessidades e o plano de acção para o ano lectivo.

Desde a tragédia, uma das preocupações das equipas de saúde mental no terreno tem sido o acompanhamento dos mais jovens. No Verão, foram reforçadas as actividades nos Ateliers de tempos livres (ATL).

“O nosso lema é intervir sem invadir”, respondeu Ana Araújo ao PÚBLICO quando questionada sobre as críticas de que há pessoas nos três concelhos afectados pelos incêndios que não têm qualquer tipo de apoio. A médica psiquiatra garante que não há ninguém que precise que não tenha apoio médico. Os centros de saúde dos três concelhos estão em consulta aberta: “Não temos lista de espera”, assegura.

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