Os nossos filhos estão a ser criados para a engorda

Não há aulas de música, inglês ou ginástica que compensem todo o estrago que a alimentação das crianças, na maior parte dos casos literalmente impingida, inflige

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Evan Kirby/Unsplash

Por um lado, investe-se em campanhas para prevenir a obesidade, os problemas cardíacos e todos os outros derivados da alimentação, por outro, temos infantários a servir Cerelac, pão com manteiga, gelados e bolacha Maria às crianças. Por mais que se façam leis a regular as refeições dos estabelecimentos de ensino, esta é uma questão de formação. E não há legislação que resolva o problema numa sociedade onde ainda se encaram as papas de pacote e os cereais de pequeno-almoço como passíveis de fazer parte de uma alimentação saudável.

Não enquanto as padarias, gelatarias, pastelarias e restaurantes deste mundo continuarem a privilegiar tudo o que é refinado, a começar no pão do couvert, passando pelo arroz e terminando na sobremesa. E para quem pensa que cada um come o que quer, a realidade é outra. A menos que se esteja disposto a ser um eremita para evitar este tipo de estabelecimentos, que são a maioria, ora damos por nós a ceder ou a ficar pela salada ou o peixe e a sopa, se parecerem suficientemente seguros.

Mas quando se trata de escolas e de crianças, essa possibilidade já não existe. Primeiro, porque é preciso que elas comam e, depois, porque não são poucas as creches e infantários em que não é permitido que os pais enviem comida diferente da que é servida. E se, por ventura, os pais não praticarem a mesma alimentação do comer-o-que-for-mais-rápido-e-estiver-à-mão, azar o deles e das crianças.

E às tantas, há zonas do país onde não se consegue descobrir um estabelecimento que aceite comida de fora. O que se compreenderia se demonstrassem o mínimo de preocupação com o que servem às crianças, mas quando cada dia têm um lanche que mais parece uma festa de aniversário, é caso para perguntar se estaremos a viver a história de Hansel & Gretel e se os nossos filhos estarão a ser criados para a engorda.

É preciso não esquecer que, sobretudo no caso das crianças, o problema não é só o que se come, mas também o que se deixa de comer para haver espaço para todas essas bolachas, pães brancos e doçaria. E, por mais que procuremos o melhor para os nossos filhos, a verdade é que não há aulas de música, inglês ou ginástica que compensem todo o estrago que a sua alimentação, na maior parte dos casos literalmente impingida, inflige. E depois, claro, tudo aquilo que se constrói em casa é desfeito fora dela e em breve teremos as cozinhas só para conversar, como nas sitcoms americanas.

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