Maioria dos centros de saúde não tem profissionais dedicados às demências

Em Portugal existirão mais de 180 mil pessoas com demências.

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Está a ser preparada uma estratégia que enquadre os cuidados a prestar às pessoas com demência RG RUI GAUDENCIO

Mais de nove em cada dez centros de saúde não têm profissionais dedicados especialmente às demências, segundo um inquérito feito às unidades de cuidados de saúde primários a nível nacional.

Os dados constam do documento Bases para a Definição de Políticas Públicas na Área das Demências, que esteve em consulta pública até esta sexta-feira e que pretende apresentar propostas para uma estratégia que enquadre os cuidados a prestar às pessoas com demência.

Foram recebidas mais de 670 respostas de várias unidades de 55 agrupamentos de centros de saúde. Dessas respostas conclui-se que 91,6% das unidades não têm, nas equipas, elementos dedicados especialmente às demências, sendo que 2,5% das unidades não responderam. “Estes dados sugerem a premência de envolver mais directamente os cuidados de saúde primários nesta área clínica", referem os autores do documento, coordenado por António Leuschner e por Manuel Lopes.

Segundo o presidente da Alzheimer Portugal, José Carreira, os dados sobre a doença em Portugal são oscilantes e apenas estimativas, mas apontam para mais de 180 mil pessoas com demências.

Em declarações à agência Lusa, António Leuschner, do Conselho Nacional de Saúde Mental, destacou a necessidade de dar mais formação aos profissionais de saúde e também aos profissionais que lidam com idosos institucionalizados, como os que vivem em lares.

A necessidade de reforçar os cuidados de saúde primários é um dos pontos prioritários identificados pelos peritos, a par da colaboração entre centros de saúde e cuidados hospitalares. "Existe ainda necessidade de dotar os profissionais de saúde e do sector social de conhecimentos sobre défice cognitivo e demências", indicam os especialistas que elaboraram as bases para uma política na área das demências. 

Poucas respostas sociais

É ainda aconselhado que os currículos do ensino superior pré e pós-graduado dos profissionais de saúde e do sector social incluam temas associados à demência.

Os peritos consideram ainda que há "muito poucas" respostas sociais a nível nacional que tenham acordos de cooperação em vigor com o Instituto de Segurança Social e intervenção especializada na prestação de cuidados a pessoas com demência.

Foram identificados um lar e quatro centros de dia da Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer com cuidados especializados. Em 2013 foi criada uma unidade de cuidados continuados em Fátima, da iniciativa das Misericórdias e que é destinada a pessoas com demência.

Como recomendações essenciais, o psiquiatra António Leuscnher destaca a necessidade de se elaborar um plano ou estratégia para as demências em Portugal, embora o importante não seja nem o nome nem a designação que lhe é dada. “Estou mais preocupado com o facto de haver efectivamente respostas concretas às pessoas e famílias que precisam de cuidados e de atenção especial”, afirmou.

Esse plano nacional terá de ser necessariamente ajustado às realidades regionais, com António Leuscnher a exemplificar que as necessidades de Castelo Branco, a região mais envelhecida do país, são diferentes das de Braga, o "distrito mais jovem".

Mais de 80 especialistas mundiais em doenças neurodegenerativas vão estar na próxima semana na Fundação Champalimaud, em Lisboa, a debater a doença de Alzheimer, a mais prevalente entre as demências.

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