Rúben quer beber uma cerveja com todos os amigos do Facebook

Grandes amigos, amigos, amigos que não vê há anos, conhecidos e desconhecidos: Rúben Pardal quer beber uma cerveja com todos os 2500 amigos do Facebook. E, pela média dos primeiros encontros de #ABeerWith, vão ser muitas mais cervejas do que amigos

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Miguel Manso

No dia em que completava 25 anos, Rúben Pardal recebeu "um lembrete" do Facebook. Tinha chegado aos 2500 amigos online. “Uma nota nada importante comparada com a mesa de amigos que tive ontem comigo”, escreveu, na altura, na legenda de uma fotografia onde revelava o mais recente projecto a que se propunha.

“É por isto que vou convidar para uma cerveja, duas cervejas, várias cervejas, grandes amigos, amigos, amigos que não vejo desde a extinção dos dinossauros, conhecidos e desconhecidos do meu Facebook, no espaço dos próximos três anos” — ou o tempo que demorar até "beber uma imperial" com todos os amigos que tem nesta rede social.

Isto dá, pelo menos, 2500 cervejas — ou mais, se atentarmos à média de quatro garrafas dos primeiros nove encontros do projecto #ABeerWith — e 2500 fotografias Polaroid, tiradas como prova de cada reunião. O objectivo é despertar para “a importância de sair do Facebook”, “conhecer pessoas fora do feed” e “celebrar a individualidade" de cada uma delas, com quem se cruzou e mais tarde adicionou virtualmente (são poucos os casos em que esta ordem se inverte).

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Encontro com João Ribeiro

Para já, o projecto é só um passatempo entre as horas de trabalho como gestor de marketing e conteúdos da Sonder, conta ao P3, por telefone (e sem cervejas à mistura). O lisboeta juntou-se à startup de Lisboa em 2017, depois de deixar o emprego numa multinacional onde “fazia horários gigantescos” — e trabalhava o dia todo com redes sociais. Lá, começou a perder a conta “às imperiais que estavam adiadas há muito tempo” e a questionar o papel e o peso do digital na vida real.

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Encontro com Carolina Caldeira

O cenário é comum: ao longo de quatro anos foram “várias as vezes em que tentou combinar encontros” e, por culpa do emprego, da distância ou até da falta de vontade, admite, os esforços ficavam perdidos em conversas no "Messenger do Facebook".

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Encontro com Irina Simões

Rúben diz que, com o projecto, as saídas têm surgido “muito organicamente”, sem se preocupar em fazer “grandes planos” ou em quem vai escolher para o acompanhar. É ele quem contacta os amigos e dita o local, até agora bares e ruas da capital portuguesa, mas sem descartar a possibilidade de sair da cidade, ou do país. Longe dos .gifs e dos emojis, o primeiro encontro foi de cerveja na mão, claro, com uma amiga de Barcelona de visita a Lisboa (o pedido de amizade foi aceite em Abril). Seguiram-se, até agora, oito colegas de trabalho e amigos da faculdade e outros tantos copos.

O projecto tem sido “uma forma de juntar pessoas de quem já tinha saudades, e de juntar novas pessoas para que tenha saudades no futuro”, escreveu numa das publicações do blogue. “Muitas vezes vês-te a fazer scroll no feed, queres fazer alguma coisa, os teus amigos não estão disponíveis e nem te lembras daquelas pessoas que estão ali, a publicar o que estás a ver e a gostar”, diz.

Ainda há muitas cervejas para beber, mas os 0,36 por cento já cumpridos da meta de 2500 amigos (o número de conexões continua entretanto a aumentar) deixaram “boas histórias para contar”, avança, fruto de conversas frente a frente com quem partilha do “mesmo gosto de criar e de fazer acontecer”.

São vários os temas que guiam as diferentes conversas, mas Rúben diz não ter ainda conseguido fugir a um que surge em todas, muitas das vezes em forma de pergunta: “Afinal, qual o nível de satisfação que encontramos nas redes sociais?”. É também a isto que procura responder, enquanto se diverte fora delas. “Quem sabe se não surge uma cerveja deste projecto”, atira já no final da conversa, meio a sério, meio a brincar.

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