Em tribunal, Lula rebate acusações de corrupção e lança-se ao ataque

O antigo Presidente brasileiro esteve a depor sobre o processo em que é acusado de receber subornos da Odebrecht. Apontou o dedo ao ex-ministro que o denunciou e ao Ministério Público, questionando até a imparcialidade do juiz que o interrogava.

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Lula da Silva chegou ao tribunal acompanhado por uma multidão de apoiantes Reuters/RODOLFO BUHRER

Lula da Silva voltou a sentar-se em frente ao juiz Sérgio Moro, no Tribunal Federal de Curitiba, no âmbito da Operação Lava-Jato. Desta vez, devido a um processo em que é acusado de receber subornos da Odebrecht. As acusações tiveram origem numa denúncia do seu antigo ministro António Palocci, que Lula considera ser “calculista e frio”. No depoimento desta quarta-feira, o ex-Presidente acusou-o de mentir.

Em concreto, o antigo chefe de Estado é acusado de ter recebido da Odebrecht uma casa de campo em Atibaia (São Paulo), um terreno para instalar a sede do Instituto Lula e ainda uma reserva de 300 milhões de reais (80 milhões de euros) em troca de contrapartidas quando ainda era Presidente do Brasil.

“Eu vi o Palocci mentir aqui”, afirmou Lula, citado pela comunicação social brasileira, acrescentando que o ex-ministro do seu Governo apenas referiu o seu nome para reduzir a condenação.

Na semana passada, Palocci também testemunhou sobre o caso diante do juiz Moro. Afirmou então que havia um “pacto de sangue” entre Lula da Silva e os donos da construtora brasileira Odebrecht. “O que não pode é, se não quer assumir a sua responsabilidade pelos actos ilícitos que cometeu, não jogue em cima dos outros”, reagiu agora Lula, cita a Folha de São Paulo.

Sobre a suposta reserva de 300 milhões de reais criadas pela construtora para subornos, o antigo Presidente referiu que essa era a parte mais “hilariante” das declarações de Palocci, e que os montantes que a instituição recebeu da Odebrecht não eram subornos. “Essa é a peça de ficção mais hilariante que eu ouvi na fala do Palocci. Eu, sinceramente, não sei qual era a relação de Palocci com Marcelo Odebrecht. Os dois têm mais de 35 anos, têm autonomia, conversavam e nunca me pediram para conversar. Se tinha fundo ou não tinha fundo, o doutor Palocci que explique".

Já durante o final do depoimento, Lula criticou o Ministério Público brasileiro e questionou a imparcialidade de Moro, o que lhe valeu uma repreensão do juiz encarregue do processo e deu início a uma troca de palavras entre os dois. “Eu posso olhar na cara dos meus filhos e dizer que eu vim a Curitiba prestar um depoimento a um juiz imparcial?”, questionou o antigo Presidente.

Apesar da repreensão, Moro respondeu à questão: "Primeiro, não cabe ao senhor fazer esse tipo de pergunta, mas, de todo modo, sim."

"Porque não foi o procedimento na outra acção”, retorquiu Lula referindo-se a outro processo em que foi condenado a mais de nove anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, ao ter beneficiado de dinheiro desviado de contratos da Petrobras pela construtora OAS, para pagar obras num apartamento triplex na praia do Guarujá, no estado de São Paulo.

"A minha convicção foi de que o senhor foi culpado. O senhor apresente as suas razões no tribunal”, respondeu Moro.

Antes, o ex-Presidente disse que está a ser alvo de uma “caça às bruxas”: "O objectivo é encontrar alguém para me criminalizar. Só quero dizer que há uma caça às bruxas”, disse, acrescentando que vai provar a sua inocência e que o Ministério Público irá pedir-lhe desculpa.

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