O VAR e o VARíssimo

Esta foi a jornada em que foi criado o “VARíssimo”. Não fora o triste contexto, ou contexto triste, em que o nosso futebol vai estando mergulhado e podia dizer que achei piada a este neologismo.

Nesta quinta jornada aconteceram mais duas situações em que a decisão inicial do árbitro foi modificada pelo mesmo após revisão do lance pelo videoárbitro (VAR).

No Benfica-Portimonense foi anulado um golo à equipa visitante após revisão (obrigatória) de toda a jogada de construção desse golo. O VAR detectou que Manafa, o jogador que efectuou o cruzamento para golo, estava em posição de fora-de-jogo no momento em que a bola lhe foi passada. Estava com o pé direito adiantado em relação ao penúltimo adversário. Estava poucos centímetros fora-de-jogo. Mas estava em posição irregular. Foi uma boa decisão do videoárbitro.

Esclareço que esta decisão do videoárbitro terá sido tomada sem auxílio de qualquer linha virtual. A linha que o canal que transmite o jogo coloca não é tida em conta pelo VAR na sua tomada de decisão. A decisão é tomada com base nas imagens em bruto, não editadas e sem quaisquer linhas. Deseja-se que, no futuro, o projecto videoárbitro venha a ter tecnologia autónoma e certificada pelo IFAB para colocar linhas virtuais ao serviço dos árbitros que desempenham esta função.

No jogo Marítimo-Rio Ave aconteceu a outra situação de reversão da decisão inicial. Francisco Geraldes, jogador do Rio Ave, teve uma entrada grosseira sobre um adversário, acertando-lhe, de forma muito perigosa, com a sola no joelho. Em campo não foi perceptível essa situação, mas as imagens televisivas mostraram claramente a perigosidade do lance. O VAR reviu, o árbitro também e expulsou o jogador do Rio Ave por falta grosseira.

São já dez as decisões alteradas em 45 jogos da Liga Nos. Todas inquestionavelmente correctas. Não é isso que se espera do projecto videoárbitro?!

Poderiam ter existido mais? Acredito que sim. Mas prefiro, para já, focar-me no que de bom aconteceu: foram evitados 10 erros graves das equipas de arbitragem. Isso é o essencial.

Esta foi também a jornada em que foi criado o “VARíssimo”. Não fora o triste contexto, ou contexto triste, em que o nosso futebol vai estando mergulhado e podia dizer que achei piada a este neologismo.

VARíssimo é uma palavra que surge por dois motivos. O primeiro está relacionado com a gestão que o Conselho de Arbitragem tem feito das nomeações, no caso, das nomeações dos videoárbitros. Para “protecção” do conselho e, principalmente, do árbitro em causa ditam as regras de bom senso que seria de evitar nomear o mesmo árbitro para função de VAR de um mesmo clube três vezes em cinco jogos.

O segundo motivo, que considero mais grave, está relacionado com a atitude dos clubes profissionais no que diz respeito à aprovação da legislação desportiva. Esses clubes ou SADs aprovaram, para esta época, o seguinte artigo no regulamento de arbitragem: “As equipas de arbitragem, com excepcão do árbitro nomeado como videoárbitro, só podem dirigir jogos do mesmo clube, na mesma competição, decorridos que sejam 1 jornada ou 10 dias apóss a sua actuacão no jogo da Taça de Portugal, Taça da Liga ou Supertaça.”

Se atentarmos ao ruído que surgiu no “caso” VARíssimo, podemos concluir uma de duas coisas: os clubes aprovam os regulamentos de arbitragem, de forma irresponsável, sem reflectir sobre o que estão a aprovar; ou quem vota em representação do clube a aprovar os regulamentos não está alinhado com quem “fala” em representação desse mesmo clube no momento em que esses regulamentos vão sendo aplicados.

VARíssimos à parte, o nosso futebol vai continuar a ter, pelo menos por enquanto, algumas marcas que gastam milhões do seu orçamento a patrocinar a nossa Liga e os seus clubes, alguns milhões de pessoas a vibrarem com o jogo jogado e, também, com o jogo falado e continuará a ter muitas crianças fascinadas pela redondinha aos chutos nas ruas e campos de futebol. Para já, e enquanto não estragarmos muito mais, continuará tudo igual...

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