D. António Francisco dos Santos (1948-2017), "o bispo sorridente"

Funeral está marcado para as 15h desta quarta-feira. Câmara do Porto decretou três dias de luto municipal pela morte, provocada por um ataque cardíaco fulminante, de “um homem bom”, a quem “ninguém ficava indiferente”.

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O corpo está, desde o final da tarde desta segunda-feira, em câmara ardente, até ao funeral marcado para quarta-feira, às 15h, na Catedral do Porto Paulo Pimenta
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Bondoso, sorridente, simples, um homem “a quem ninguém ficava indiferente”, D. António Francisco dos Santos, bispo do Porto, morreu ontem vítima de um enfarte agudo do miocárdio. O óbito foi confirmado às 9h41. O corpo está, desde o final da tarde desta segunda-feira, em câmara ardente, até ao funeral marcado para quarta-feira, às 15h, na Catedral do Porto.

Com 69 anos feitos no dia 29 de Agosto, António Francisco dos Santos era “um homem bom, de uma integridade plena”, nas palavras do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. O primeiro-ministro, António Costa, referiu-se-lhe como uma “referência inspiradora” e como um homem “de palavras sábias e sensatas”, enquanto o bispo de Lamego, D. António Couto, guarda a memória de alguém “sincero e espontâneo”. Era, adjectivou, “o bispo sorridente”, alguém que “tinha olhos limpos e coração limpo”, sem preconceitos, portanto.

D. António Francisco dos Santos estava no Paço Episcopal quando sofreu o ataque cardíaco. O INEM foi chamado ao local, mas já não o conseguiu salvar. “Concluo que, em relação ao Porto, a bondade faz mal à saúde. A bondade era a palavra que o definia e só posso dizer que a bondade faz mal à saúde”, reagiu, com amarga ironia, o padre Américo Aguiar, numa alusão ao facto de outro bispo do Porto, D. Armindo Lopes Coelho, ter sofrido uma hemorragia cerebral enquanto ainda era bispo da cidade, tendo vindo a morrer, em Setembro de 2010.

Presença discreta

Homem feliz e sem vergonha de o mostrar, segundo o bispo de Lamego, D. António Francisco dos Santos fora nomeado há três anos bispo do Porto, sucedendo no cargo a D. Manuel Clemente, o actual cardeal-patriarca de Lisboa. Foram três anos de uma presença discreta, marcados pela mediática e polémica substituição do padre de Canelas, em Vila Nova de Gaia, que, segundo o presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade, Lino Maia, o deixou “preocupado e triste”, e pela abertura das portas do Paço Episcopal do Porto às pessoas, numa decisão que inverteu uma tradição de 600 anos e que, segundo o próprio, pretendeu simbolizar a abertura da Igreja à sociedade, porque “o que à Igreja pertence a todos o deve e a todos deve ser devolvido”.

Parece uma decisão corriqueira mas diz muito sobre quem a tomou. Nascido a 29 de Agosto de 1948, na freguesia de Tendais, concelho de Cinfães, António Francisco dos Santos, filho único, contrariou a vontade familiar, que o queria advogado, para seguir a vida religiosa. Poucos na família acreditaram, aliás, que cumprisse o seminário até ao fim. Enganaram-se. Em 1972, foi ordenado sacerdote, o que não o impediu de, cinco anos mais tarde, se ter licenciado em Sociologia Religiosa e Filosofia, em Paris, onde trabalhou na paróquia de S. João Baptista de Neuilly-Sur-Seine, muito próximo da comunidade portuguesa emigrante.

Regressado a Portugal, leccionou no seminário de Lamego e, entre 1992 e 1998, foi chefe de redacção do jornal Voz de Lamego. Em 2004, foi nomeado bispo auxiliar de Braga. Dois anos depois, transitou para Aveiro, onde se fez bispo pela mão de Bento XVI. Nesta cidade, encontrou “barcos e remos” à sua medida. Passeava-se a pé pelas ruas, entrava nos cafés, comia com os sem-abrigo na véspera de Natal e com os universitários no dia seguinte. Foi dele a ideia de importar do Brasil a famosa “Cristoteca”, onde, entre música, máquinas de fumos e bebidas alcoólicas, se misturou com jovens, na busca por “outra pedagogia de evangelização” e porque, enfim, “não compete à Igreja educar “nem para o medo nem para a proibição”, como sustentou então.

“Os pobres não podem esperar”

A fórmula permitiu-lhe criar tantos afectos que, na véspera do anúncio da sua nomeação para bispo do Porto, quatro párocos de Aveiro estavam em Lisboa, junto do núncio Rino Passigato, numa derradeira tentativa de evitar a sua saída. O padre João Gonçalves, que era uma dessas vozes, estava ontem inconsolável. “Era inexcedível na simpatia e na atenção aos outros. Ninguém lhe era indiferente e ele não era indiferente para ninguém. Era acessível, tomava como seus os problemas dos outros. Quando estava com alguém, fosse quem fosse, parava-lhe o relógio: dava às pessoas todo o tempo de que elas precisavam”, recordou ao PÚBLICO.

A atenção ao outro, naquela que é a maior diocese do país não lhe retirava tempo para seguir os jogos do Futebol Clube do Porto. Como confessou à agência Lusa, em Junho de 2014, evitava ouvir os relatos enquanto conduzia porque ficava “muito nervoso”. Mas, mais do que as preferências clubísticas, é a frase “os pobres não podem esperar” que lhe há-de ficar colada à biografia, de tantas vezes que a usou. Uma delas foi quando realizou a sua primeira homilia como bispo do Porto, em Abril de 2014, estava a crise económica e social no seu auge: “Onde estiverem em causa os pobres, os que sofrem, que sejam os primeiros. Os pobres não podem esperar.” No sábado, durante uma peregrinação diocesana a Fátima, voltou, numa entrevista à agência Ecclesia, a orientar o olhar da Igreja para os mais vulneráveis. "Não podemos esquecer aqueles que mais precisam, os que mais sofrem, aqueles em que ninguém pensa”, sublinhou.

O funeral é esta quarta-feira, às 15h. Esta terça-feira, os seus restos mortais continuarão na Sé, aberta ao público entre as 9h e as 24h. Na tarde desta segunda-feira, o Cabido da Sé estava reunido para decidir quem assume a administração da diocese até que o Papa Francisco nomeie um novo bispo para o Porto. *com Patrícia Carvalho

Artigo corrigido às 22h02 de 12/09/17: o ano de nascimento de António Francisco dos Santos foi 1948 e não 1946, como estava escrito.

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