Marcelo "apanhado" em campanha autárquica pede palmas para Carreiras

Presidente da Câmara de Cascais anuncia ampliação de escola durante uma visita do Presidente da República, que pediu uma salva de palmas para o autarca social-democrata Carlos Carreiras.

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Marcelo esteve ao lado de Carlos Carreiras na abertura do ano lectivo em Cascais LUSA/NUNO FOX

O presidente da Câmara Municipal de Cascais, que é recandidato ao cargo, aproveitou a visita do Presidente da República à Escola 31 de Janeiro, na Parede, para anunciar a ampliação deste estabelecimento de ensino, bem como de um centro de cuidados continuados e novos espaços verdes. Apesar da proximidade das autárquicas, Marcelo Rebelo de Sousa não se coibiu de pedir "um aplauso" para o autarca.

"Hoje posso aqui anunciar que está acordado com a direcção da Associação Escola 31 de Janeiro haver a cedência do Quartel da Parede, que está aqui bem perto", declarou o autarca e coordenador autárquico do PSD, num palco montado num pátio interior, onde estavam dirigentes da escola e o chefe de Estado, recebendo uma salva de palmas.

Carlos Carreiras adiantou que "esta escola, depois de a outra estar construída, será transformada não só num centro de cuidados continuados como também num centro de formação de cuidadores", e prometeu ainda que a Bataria da Parede dará lugar a "um dos maiores espaços verdes" desta localidade.

Em seguida, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, pediu às crianças, pais e professores presentes "um aplauso para a Câmara Municipal de Cascais, para o senhor presidente da câmara", e considerou que "é uma boa notícia passarem a ter uma escola maior, muito bem localizada, que permita ir mais longe e fazer ainda melhor do que já têm feito".

Durante a sua visita à escola da Parede, no concelho de Cascais, o chefe de Estado teve o autarca social-democrata sempre ao seu lado. Marcelo Rebelo de Sousa foi recebido com grande entusiasmo pelos alunos, com gritos de "Presidente, Presidente", e visitou as instalações durante cerca de uma hora e meia.

Horas depois, Passos Coelho comentava, na Amora, a relação entre o PSD e o Presidente da República, recusando tensões. "Não tenho ideia nenhuma de o Presidente da República andar a fazer guerra aos partidos nem de nenhum partido andar a fazer guerra ao Presidente da República", afirmou o líder do PSD, em declarações aos jornalistas no final de uma visita o Centro de Assistência Paroquial de Amora.

"Volta meia volta aparecem, mais ao nível da comunicação social do que nas declarações dos próprios, notícias de que pode haver uma tensão, até já li a palavra guerra", disse, considerando tais afirmações "absolutamente deslocadas". Mas o PSD não tem "estados de alma" em relação ao actual chefe de Estado: "Nós apoiámo-lo, ele foi eleito, está a exercer o seu mandato, faremos a avaliação na altura própria".

Xadrez desde o primeiro ano

No início do seu discurso, Carlos Carreiras referiu que há algum tempo se procurava uma solução "para que a escola pudesse crescer" e que o anúncio foi propositadamente guardado para esta visita de Marcelo Rebelo de Sousa. "Essa solução foi encontrada, e o que ficou combinado foi que a honra que Sua Excelência o Presidente da República hoje nos dava a Cascais e aqui à Associação Escola 31 de Janeiro deveria ficar marcada por este passo, que é um passo de relançamento ainda para mais cem anos", disse.

Marcelo Rebelo de Sousa elogiou a Associação Escola 31 de Janeiro e condecorou com a Ordem da Instrução Pública este estabelecimento de ensino cooperativo fundado há mais de um século, onde os alunos aprendem xadrez desde o primeiro ano de escolaridade.

"É uma escola muito boa, porque, desde que foi criada, há mais de cem anos, teve uma preocupação: abrir-se a todas as meninas e a todos os meninos, mais ricos e mais pobres, os que podiam e os que não podiam, para acabar com desigualdades aqui nesta terra, aqui na Parede", enalteceu. "Não há muitas escolas onde se possa chegar e perguntar quem é que joga xadrez e 300 meninos e meninas levantem o braço. E, por isso, é uma grande escola também", acrescentou o Presidente da República.

A visita àquela escola trazia mais recados ao Governo e mais pretextos para a oposição se colar ao chefe de Estado, como ele próprio sugeriu no final da semana passada. "Eu quando viro à direita em Portugal, a direita está distraída a bater na esquerda, não nota. Em vez de aproveitar, não nota", disse sexta-feira em Andorra.

Foi uma resposta clara ao líder do PSD, Pedro Passos Coelho, que sugeriu na semana passada que o Presidente da República falasse sobre anúncios feitos pelo Governo em vésperas de eleições autárquicas, acusando o executivo socialista de violar o seu dever de neutralidade.

Desta vez, em Cascais, Marcelo deixou-se "aproveitar" por Carreiras e ainda deixou outras pistas susceptíveis de aproveitamento da direita. Primeiro enviou dali "um grande, grande abraço" a todos os professores do país, considerando que "são fundamentais para Portugal", mas escusou-se a comentar "problemas" relacionados com a abertura do ano lectivo.

No final, questionado pela comunicação social sobre a contestação relacionada com a colocação de professores, Marcelo Rebelo de Sousa não quis, contudo, fazer comentários: "Não me vou pronunciar sobre isso. É uma questão que está a ser encarada pelo Governo. Vamos esperar".

Depois deixou que lhe perguntassem sobre as contestações de outros sectores profissionais, em particular as greves dos enfermeiros, já em curso, e dos juízes, agendada para depois das autárquicas, para se escusar a responder: "Sobretudo neste período pré-eleitoral - estamos a pouco mais de 15 dias das eleições [autárquicas] -, não vou fazer comentários sobre situações socioprofissionais". No entanto, foi o próprio Presidente quem anunciou, na semana passada, que iria receber esta semana os bastonários do sector da Saúde, enfermeiros incluídos. A Ordem dos Médicos é recebida esta segunda-feira, no Palácio de Belém.

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