Feira do Livro do Porto: um guia para leitores pobres e remediados

Corremos os 130 pavilhões da Feira do Livro do Porto. Se o leitor dispensar as novidades e não se importar de ler exemplares usados, fundos de editoras extintas ou refugo de colecções da imprensa, não precisa de gastar muito para trazer uma prateleira de bons livros.

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A Feira do Livro do Porto permanecerá nos jardins do Palácio de Cristal até 17 de Setembro Paulo Pimenta
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Hotel Pimodan, de Fernando Luís, com a sua bela capa de Luis Manuel Gaspar DR
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Billy Budd, de Herman Melville, na velha colecção Miniatura, agora relançada DR
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Um dos primeiros livros de Daniel Jonas DR
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O talentoso capista João da Câmara Leme na colecção Design DR
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Lançamento, da poetisa e tradutora Margarida Vale de Gato DR
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A Fera Tem de Morrer, de Nicholas Blake, com capa de Lima de Freitas DR
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Subsídio, Suicídio, Ostras Geladas, de autor(es) anónimo(s) DR
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O Dicionário das Ideias Feitas, de Flaubert, na colecção Livro B, da Estampa DR
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A Feira do Livro do Porto permanecerá nos jardins do Palácio de Cristal até 17 de Setembro Paulo Pimenta
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A Feira do Livro do Porto permanecerá nos jardins do Palácio de Cristal até 17 de Setembro Paulo Pimenta
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A Feira do Livro do Porto permanecerá nos jardins do Palácio de Cristal até 17 de Setembro Paulo Pimenta
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A Feira do Livro do Porto permanecerá nos jardins do Palácio de Cristal até 17 de Setembro Paulo Pimenta

Com o regresso dos alfarrabistas, afastados durante anos pelos preços proibitivos que Associação Portuguesa de Editores e Livreiros impunha pelo aluguer dos pavilhões, a Feira do Livro do Porto, agora organizada pela autarquia no simpático cenário dos jardins do Palácio de Cristal, tornou-se francamente mais aliciante, sobretudo para quem lê bastante e tem pouco dinheiro. Tanto mais que as editoras e as livrarias convencionais também estão a trazer fundos editoriais a preços convidativos, uma oferta que se vinha progressivamente reduzindo no modelo anterior.

Em contrapartida, a presença das novidades editoriais é menos exaustiva, mas a verdade é que não se pode ler tudo, e os livros não são peixes: os mais frescos nem sempre são os melhores.

As sugestões que se seguem resultaram de uma tarde a deambular pelos 130 pavilhões da Feira e reflectem, como a inflação dos livros de poesia ou a frequente intromissão da ficção policial depressa tornarão óbvio, as nem sempre muito canónicas idiossincrasias do autor do texto. Feita esta ressalva, o critério foi propor livros interessantes e baratos, ainda que transigindo, aqui e ali, com algumas pequenas extravagâncias. O que não se garante, claro, é que alguns visitantes mais lestos não tenham já abarbatado vários destes títulos.

Os pavilhões estão numerados de 1 a 130, começando e acabando junto à área de restauração, e foi essa a ordem que seguimos. Para poupar caracteres, designaremos os pavilhões por P, seguido do numeral em causa. E a primeira paragem é logo no P2, da própria Câmara, que tem à venda um early work do poeta Daniel Jonas que muitos dos seus admiradores talvez nem conheçam, mas pelo qual este leitor nutre uma exótica predilecção: Moça Formosa, Lençóis de Veludo (7 euros).

A porta seguinte é do Museu Soares dos Reis (P3), morada nada óbvia para mais quatro livros de poesia, todos da excelente colecção do Teatro de Vila Real, a 2,5 euros cada: Capitais da Solidão, de Rui Pires Cabral, Terra Sem Coroa, de Manuel de Freitas, Dezanove Maneiras de Fazer a Mesma Pergunta, de Carlos [Luís] Bessa, e Diques, de Rui Pedro Gonçalves.

Na Árvore (P4), pode recordar o artista Alberto Carneiro, que nos deixou em Abril, levando o catálogo da exposição antológica que esta cooperativa lhe dedicou em 2008 (10 euros). E um pouco mais adiante, na Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto (P7), vale a pena folhear A Morte Demora Antes de Chegar – Poemas do Ghetto de Varsóvia (7 euros), uma antologia co-organizada por Bruno Monteiro e Sarah Moskovitz.

Salte depois para a Imprensa Nacional (P9 e P10). Se não conhece a colecção Design, o volume relativo ao notável capista João da Câmara Leme (8 euros) é um bom ponto de partida. Mas a grande pechincha aqui são os fundos da colecção de poesia Plural, recentemente relançada. Propomos-lhe quatro títulos: Klee e A Prova do Fogo, incursões líricas de dois filósofos e colunistas (respectivamente Paulo Tunhas e Viriato Soromenho Marques), O Brilho do Residual, de um poeta que publicou vários livros recomendáveis antes de se dedicar mais exclusivamente à tradução literária, Carlos Leite, e Sólon, de Fernando Luís [Sampaio]. A 1,26 cada um, ficam-lhe a 5,04 euros, mas talvez o livreiro perdoe os 4 cêntimos.

Uma obra profética

No Armazém 111 (P11 e 12), Coiote Espera (2 euros) é uma boa introdução aos peculiares policiais de Tony Hillerman, cuja acção decorre em território navajo. E mais de um século após a sua publicação, o Nietzsche de Daniel Halévy continua a ler-se com prazer é pena que este exemplar da edição da Inova tenha a capa manchada, mas a 2 euros não se pode ser picuinhas.

Tentámos não abusar em sugestões acima dos dez euros, mas o recém-lançado livro duplo Corta-e-Cola: Discos e Histórias do Punk em Portugal (1978-1998) & Punk Comix: Banda Desenhada e Punk em Portugal, respectivamente de Afonso Cortez e Marcos Farrajota, com o seu grafismo divertido e um CD contendo faixas exclusivas de várias bandas, talvez justifique os 15 euros que lhe pedem no P13 (Matéria Prima e White Studio). Uma edição Chili Com Carne.

Na Antígona (P23 e 24), uma novidade irresistível: Uma Faca nos Dentes, reunião da obra poética de António José Forte, com prefácio de Herberto Helder (12 euros). E o livro do dia desta segunda-feira é mesmo de aproveitar: A Sociedade do Espectáculo, de Guy Debord, uma obra assustadoramente profética (8,40 euros).

Do P28 (Estratégias Criativas) leve a antologia da grande poetisa argentina Alejandra Pizarnik (3 euros), e se não estiver já a fazer contas ao dinheiro, pondere juntar-lhe o hilariante 63 Histórias de Humor e 1 Poema Melancólico, de Alphonse Allais, uma novidade da Avesso a 13,5 euros.

No espaço dividido pela livraria Snob e pelo alfarrabista Miguel Carvalho (P30 e 31), espreite o monte de livros de poesia recentes da Douda Correria. Lançamento, de Margarida Vale de Gato, já não é fácil de encontrar nas livrarias e é uma boa escolha (10 euros). Nas estantes do fundo, a qualidade dos livros dá vontade de aproveitar a oferta de seis volumes a 25 euros.. Se não tivesse nenhum deles, levaria O Amor, de Dino Buzzati, numa velha edição da Ulisseia, Servidão Humana, o romance icónico desse magnífico contador de histórias cronicamente subestimado pela crítica que foi Somerset Maugham (colecção Dois Mundos), a peça Fumo de Verão, de Tennessee Williams, traduzida por Sttau Monteiro (colecção Três Abelhas), O Verão, de Cesare Pavese (Portugália), o romance póstumo de Soeiro Pereira Gomes, Engrenagem, e A Dama de Branco e Outros Contos (Estampa), de Nathaniel Hawthorne, que inclui o inquietante Wakefield, história de um sujeito que decide sair de casa um dia ou dois, só para ver como a mulher reage, e acaba por só regressar vinte anos mais tarde, quando esta já se resignou à sua precoce viuvez. Era um dos contos preferidos de Borges.

A 3 euros cada, a Ler Devagar (P36) tem dois dos policiais de Lawrence Block que a Cotovia editou há uns anos: Uma Punhalada no Escuro e Na Linha da Frente, ambos com o carismático detective alcoólico Matthew Scudder. Um pouco adiante, na Verso da História (P41), o sombrio romance póstumo de Mark Twain, N.º 44, Um Estranho Misterioso, em edição recente com tradução de Margarida Vale de Gato, custa, novo, uns surpreendentes 2 euros. 

Folhas azuis, capa preta

Na Palmo a Palmo (53 e 54), encontra Todos os Fogos o Fogo, de Julio Cortázar, a 5 euros – um dos contos do livro, A Autoestrada do Sul, inspirou o Weekend de Godard –, mas o destaque vai para uma extensa amostra da colecção Livro B, da Estampa, aqueles simpáticos livrinhos de capa preta e folhas azuis, a 3 euros cada. O Dicionário das Ideias Feitas, de Flaubert, inventário de lugares-comuns que complementa o inacabado romance póstumo Bouvard et Pécuchet, o divertidíssimo Projecto para Uso do Pessoal Doméstico, de Swift, ou a Biblioteca do Século XXI, um conjunto de novelas fantásticas de um dos nomes maiores da ficção científica, Stanislaw Lem, são algumas opções óbvias.  

Ainda vamos a meio do percurso e é claro que o improvável leitor que comprasse todos os livros já sugeridos teria de ser, no mínimo, um remediado de tendência positiva, mas confia-se que cada um saberá distinguir quando as recomendações lhe dizem respeito e quando se destinam ao leitor do (por assim dizer) lado.

Saltando por cima de 23 pavilhões, aterremos no P78 (Círculo das Letras), que tem um modesto fundo de livros da colecção Vampiro. Custam 1 euro, mas ficam por metade se levar dez. Entre os autores representados, S. S. Van Dine, Dorothy L. Sayers, Dashiell Hammett, Raymond Chandler ou Ruth Rendell são sempre escolhas seguras, mas não deixe de levar também o n.º 162: A Fera Tem de Morrer, do menos conhecido Nicholas Blake, pseudónimo do poeta Cecil Day-Lewis, pai do actor Daniel Day-Lewis. É difícil pensar em pior ponto de partida para um policial do que um banal caso de atropelamento involuntário e fuga, o que torna ainda mais notável este livro, que nos agarra na primeira página e nunca mais nos larga.

A melhor antologia literária do Porto, Daqui Houve Nome Portugal, de Eugénio de Andrade, numa bonita edição da Oiro do Dia, vale bem os 10 euros que a Utopia (P90 e 91) pede por ela. Ao mesmo preço, tem um clássico da historiografia relativa ao Estado Novo, A História da PIDE, de Irene Flunser Pimentel, e a 5 euros também não faltam bons livros, de Descrição da Mentira, do poeta Antonio Gamoneda (tradução de Vasco Gato) até à belíssima novela póstuma de Melville, Billy Budd, da colecção Miniatura, da Livros do Brasil, agora relançada pelo grupo Porto Editora. E no momento em que se comemoram os 150 anos do nascimento de António Nobre talvez se possa permitir a extravagância de desembolsar uma nota de vinte por uma elegante 4.ª edição encadernada do , publicada em 1921 na tipografia portuense A Tribuna.  

Milhares de livros a 5 euros

A quem procura livros infanto-juvenis, a Moreira da Costa (93) tem um monte deles a 1 euro, mas não vimos nada que possamos sugerir com conhecimento de causa. Já a porta seguinte (P94), da 1870 Livros, é paragem obrigatória por causa da estantezinha com parte do catálogo da Frenesi. Com a qualidade gráfica que a chancela de Paulo da Costa Domingos garante, encontra a 5 euros livros como Cadeias de Transmissão, compilação da excelente poesia de Fátima Maldonado, o informado ensaio Fialho de Almeida: Um Decadente em Revolta, de Lúcia Verdelho da Costa, ou esse notável e enigmático objecto que é Subsídio, Suícidio, Ostras Geladas, poemas atribuídos a autor anónimo, e ao que parece de confecção colectiva. Aos fãs da ficção científica, recomenda-se uma curiosidade: 5 Novelas de Antecipação Soviéticas (5 euros), uma edição de 1964 dos Estúdios Cor, que inclui um conto da mítica dupla dos irmãos Arkady e Boris Strugatsky, autores da novela que inspirou o filme Stalker, de Tarkovski.

Na Martinho (P95) sugerem-lhe que escolha dois livros por 5 euros: se não leu Samarcanda, de Amin Maalouf, biografia romanceada do poeta e matemático Omar Khayyam, aproveite. E que tal dar uma oportunidade a Inquérito Póstumo, um romance do ex-deputado social-democrata Horácio Tavares de Carvalho, falecido em 2012?

Depois de se correr quase uma centena de pavilhões, os milhares de livros a 5 euros que ocupam as mesas e estantes da Angels Formula  (P96 e 97) podem desanimar o mais tenaz. Se aceitar algumas das nossas sugestões, não tente encontrá-las, que são agulhas em palheiro. Peça ao responsável do espaço que lhe descubra os livros. Propomos desde logo o clássico As Ligações Perigosas, de Choderlos de Laclos (Vadim, Frears e Forman são alguns dos cineastas que adaptaram ao cinema este romance epistolar). A Mulher de Branco, de Wilkie Collins, um dos pais do policial, é uma pequena maravilha, e O Inconformista, de Alberto Moravia, é um dos bons livros que a colecção Dois Mundos deu a ler em português. Oscar e Lucinda, de Peter Carey, é uma estranha história de amor na Austrália do século XIX (ganhou o Booker em 1988). E Azul Cobalto, de Patricia Highsmith, da série protagonizada pelo encantador e amoral Tom Ripley, é o número inaugural, e nada fácil de encontrar, da colecção Não Incomode, da Gradiva. E mais três portugueses: Aparição, de Vergílio Ferreira, A Escola do Paraíso, um belo livro de José Rodrigues Miguéis que adopta o olhar de uma criança para retratar a sociedade portuguesa na transição da monarquia para a República, e Nó Cego, de Carlos Vale Ferraz, um bom romance sobre a guerra colonial. Tudo isto, claro, se não quiser garimpar por conta própria. Nesse caso, respire fundo e boa sorte.

Na Bibliographias (P99), encontra a 5 euros o épico Meridiano de Sangue, de Cormac McCarthy, um dos grandes romances americanos dos últimos 50 anos, e, ao mesmo preço, a originalíssima Nova Teoria do Sacrifício, de José Teixeira Rego, que nas primeiras décadas do século XX associava o mito universal da queda à passagem do homo frugívoro ao homo carnívoro. Não teria razão, mas o livro é um monumento de erudição e capacidade especulativa. Oferta tentadora é o conjunto dos oito livros para crianças que Sophia de Mello Breyner Andresen editou na Figueirinhas, novos, a 30 euros. (Declaração de interesses: o livreiro é primo do escriba e o editor da Figueirinhas também).

Dois perfeccionistas

O Trabalho Poético de Carlos Oliveira, reunido num só volume, custa 7,5 euros na Flâneur (P106). Reescritor obsessivo, foi um dos grandes poetas portugueses do século XX. Outro furioso perfeccionista foi Camilo Pessanha — de quem também se estão a celebrar os 150 anos —, cuja Clepsydra pode aqui adquirir numa edição da Assírio & Alvim organizada por António Barahona (10 euros).

A Livraria do Simão (P110) é mais um pavilhão onde convém perder alguns minutos. A 5 euros, encontra, por exemplo, o ensaio de George Steiner sobre Heidegger, o belo livro em que Klaus Wagenbach evoca A Praga de Franz Kafka (edição Fenda), As Lojas de Canela, do escritor e artista gráfico polaco Bruno Schulz, O Problema de Aladino, de Ernst Jünger, que sonda o destino do indivíduo num mundo gerido por tecnocratas, ou A Obra ao Negro, de Marguerite Yourcenar, um dos romances de estimação deste leitor, que o prefere ao talvez mais perfeito Memórias de Adriano. Na poesia portuguesa, dois livros imperdíveis: Hotel Pimodan, de Fernando Luís [Sampaio], com a maravilhosa capa de Luis Manuel Gaspar (5 euros), e o excelente (e esgotadíssimo) A Pequena Face, de António Franco Alexandre (10 euros). Se for um fã de Ibsen, talvez se sinta tentado a dar 10 euros por uma primeira edição francesa, de 1897, da peça John Gabriel Borkman. O exemplar está bem encadernado e traz o ex-libris da baronesa La Caze, uma aristocrata e mecenas da cultura. Este mesmo ex-libris, mas sem livro, está à venda por 12 euros na eBay.  

O divertido O Clube dos Suicidas, de Stevenson, está a 3 euros na Narrativóbvia (P111). E o alfarrabista Caldeira (P112) tem uma boa escolha de velhas edições de Ferreira de Castro a 5 euros. Outrora muitíssimo lido, é um autor que está a cair no esquecimento. Experimente A Lã e a Neve, história de um pastor da Serra da Estrela que se torna  operário fabril.

Os fãs de BD tem bastante por onde escolher no alfarrabista Braga (P113), onde encontram vários álbuns de Blake & Mortimer, de Edgar P. Jacobs e sucessores, a 5 euros. Ao mesmo preço, alguns bons romances, como Crónica do Rei Pasmado, de Gonzalo Torrente Ballester, ou O Livro das Ilusões, de Paul Auster.  E o leitor ainda encontraria dois dos primeiros policiais de Henning Mankell se o autor deste texto, que emprestou os seus e nunca mais os viu, não lhes tivesse, desculpe lá, deitado a unha.

Cláudio e Messalina, de Robert Graves (5 euros na Candelabro, P114), Trabalho e Paixões de Bento Prada, de Fernando Assis Pacheco (5 euros na Pinto dos Santos – Cólofon, P115) ou o livro infantil Dentes de Rato, de Agustina Bessa Luís (2,5 euros na Varadero, P116) são outros livros a bom preço. Na Lumière (P117), encontra uma data de edições antigas de Emilio Salgari a 1 euro. E no P118 (Alfarrabista.Eu), entre restos de colecções de jornais e edições populares antigas, há muito por onde escolher a 1 euro: Olhos Verdes, de Luísa Costa Gomes, O Doente Inglês, de Michael Ondaatje (o filme de Minghella é um bocado chato, mas o livro é bom), e o romance de estreia de Kingsley Amis, Jim O Sortudo (Lucky Jim, 1954), precursor inigualado das sátiras académicas de David Lodge.

No P119 (O Lugar do Livro), As Palavras Poupadas, de uma das grandes contistas portuguesas, Maria Judite de Carvalho, custa 10 euros e traz como involuntário brinde um velho recibo da rouparia do Hotel Duas Nações, em Lisboa, no valor de dez escudos. Por 3 euros, tem ainda um dos melhores livros de Graham Greene, Um Caso Arrumado.  

Na Afrontamento (P 121 a 123), tem a 5 euros o thriller Daddy, de Loup Durand, adaptado ao cinema em Códigos Secretos, com Klaus Maria Brandauer no papel do vilão. Mete um miúdo sobredotado, um filósofo sádico, um americano rico e vários nazis. Com estes duvidosos ingredientes não era fácil fazer muito melhor.

Das editoras que trazem fundos a bom preço, a Relógio D’Água, que ocupa os pavilhões 124 a 128, talvez seja o melhor exemplo, com uma grande quantidade de livros à escolha a 3, 5 e 7,5 euros. A Boca na Cinza, de Rui Nunes, e os livros de poemas Zona de Caça (Jaime Rocha) e Curtas-Metragens (Jorge Gomes Miranda) são boas escolhas a 3 euros. A 5 euros, encontra os Contos e Novelas de Saul Bellow com uma introdução do crítico James Wood, e a 7,5 euros tem as Opiniões Fortes, de Nabokov, cujo título não é uma hipérbole, Raparigas de Província, o romance de estreia da irlandesa Edna O’Brien, de quem Philip Roth disse uma vez que era a mais talentosa escritora de língua inglesa no activo, ou De que Falamos Quando Falamos de Amor, de um dos mais originais contistas americanos da segunda metade do século XX, Raymond Carver.

E como a actriz podia perfeitamente ter dito ao bispo num dos livros do Santo, de Leslie Charteris (encontra-os no pavilhão 118), I rest my case.

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