Susana Travassos grava “um CD muito feminino” na Argentina

Cantora portuguesa reforça laços com o Brasil e a América Latina em três discos distintos. E este sábado, 9 de Setembro, canta em Bogotá, no IX Festival de Jazz dos Andes.

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Susana Travassos LORENA DINI

Não é nada normal, mas aconteceu: Susana Travassos, uma cantora portuguesa que desde o seu disco de estreia (Oi Elis, só com músicas do repertório de Elis Regina, editado em 2008) criou e reforçou laços musicais e afectivos com o Brasil e a América Latina, tem entre mãos três discos daí resultantes. Gravou um no Brasil, outro em Lisboa e está a gravar o terceiro em Buenos Aires. Sábado canta em Bogotá, no IX Festival Internacional de Jazz e Músicas do Mundo dos Andes.

Nascida no Algarve, em Vila Real de Santo António, em 1982, Susana gravou em 2013 um segundo disco, Tejo Tietê, lançado no Brasil pela Delira Música, disco que até hoje continua inédito em Portugal. Gravado em parceria com o violonista Chico Saraiva e produzido por Paulo Bellinati, inclui canções de Luiz Tatit, Tiago Torres da Silva, Elomar, José Peixoto e Pedro Ayres Magalhães, além de versões de temas de Alain Oulman, Heitor Villa-Lobos e Carlos Paredes.

Em 2014, por proposta do violonista Gabriel Godói, fez com ele um espectáculo baseado em Mercedes Sosa. Apresentou-o em Portugal e, com ele, ganhou outras asas. “Viajei pela América Latina: Brasil, Colômbia, Uruguai, Argentina.” E fê-lo em trio, com dois outros músicos. “Não sou uma fadista, não sou uma cantora de jazz, não sou uma cantora de música brasileira apenas. Mas nesses concertos explorei todas essas linguagens e tentei juntá-las. Com um violão de 7 cordas, profundamente brasileiro, tocado por Michi Ruzitschka, guitarrista austríaco que tem uma linguagem lírica, da música clássica, mas é formado na Berklee e conhece a linguagem do choro e da música brasileira; e com uma guitarra portuguesa, a de Ricardo Araújo.”

A escolha de Ana Terra

Entretanto, o seu nome aparece também num projecto de homenagem à compositora brasileira Ana Terra. “Foi um projecto muito cuidado, muito pensado. O nome dela, através de canções como Meu menino (cantada por Milton) ou Essa mulher (cantada por Elis Regina), estava bem registado na minha memória. Até que um dia ela aparece-me no Facebook a convidar-me para fazer parte da celebração dos seus 40 anos de carreira. É daquelas coisas que a gente não acredita que vão acontecer.” De início, o projecto tinha várias cantoras envolvidas, mas acabou por finar ela sozinha. “Mas a Ana foi mudando e um dia disse-me: ‘Afinal, quero que seja só a Susana a fazer.’ Por isso, abracei o projecto com ela e passei de convidada a protagonista de um projecto que está integrado nas minhas coisas.” Foi exibido na televisão brasileira, no Canal Brasil, e sairá em DVD. Com direcção de Bernardo Mendonça e arranjos do pianista Tiago Costa, conta com os músicos Neymar Dias (contrabaixo e viola caipira) e Joana Queiroz (clarinete e clarinete baixo). Neste trabalho, Susana Travassos canta parcerias de Ana Terra com Cristovão Bastos, Elton Medeiros, Francis Hime, Fred Martins, Lucina, Roberto Menescal e Sueli Costa, entre outros.

Há mais. No início deste ano, Susana gravou outro disco, este em Lisboa. Um projecto de voz e violão. “Com um super guitarrista e compositor que é o Jean Charnaux, do Rio de Janeiro. Tem músicas dele e parcerias dele com o Guinga como letrista (que é uma coisa inédita). Está em fase de masterização e acabamento.” E vão tocar juntos no Brasil este ano: em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. Susana vai tocar também com Yamandú Costa, em São Paulo. Já tocou com ele, antes. Não só com ele. Susana tem partilhado palcos, nestes anos, com vários músicos brasileiros: Chico César, Zeca Baleiro, Chico Pinheiro, Toninho Horta, Fagner, Ricardo Silveira, Chico Saraiva, Luis Felipe Gama, Zé Paulo Becker, Gabriel Grossi, Ná Ozzetti ou Renato Braz.

O apelo de Buenos Aires

Nas suas deambulações musicais pela América Latina, surgiu a urgência de ter um CD. Mas foi uma paragem na capital argentina que a fez assentar ideias. “Buenos Aires mexeu muito comigo. Contactei músicos de lá e havia uma referência familiar, o meu avô cantava tangos de Gardel. Eu estava no meio do processo do meu CD, pronta para gravar no Brasil, mas mudei tudo. Primeiro pensei em gravar em Buenos Aires, São Paulo e Lisboa, mas acabei por decidir gravar tudo em Buenos Aires. Convidei um produtor de lá, o Alan Plachta, ficámos meses a trabalhar no conceito e na estética musical do CD, ele fez acontecer a sonoridade que estava na minha cabeça.”

Neste disco, participam alguns dos melhores instrumentistas da actualidade na Argentina: Alan Plachta (guitarras e produção), Tiki Cantero (percussão), Mariano Malamud (viola), Nacho Amil (piano), Gonzalo Fuertes (contrabaixo), Guilherme Rubino (violino), Paula Pomeraniec (violoncelo) e Santiago Arias (bandoneon). Participa ainda, como convidado, o arranjador e pianista Diego Schissi. “O disco tem composições minhas, letras e músicas, algumas em parceria com compositores do Brasil; de Luísa Sobral (uma canção lindíssima, que fala sobre a violência doméstica), de Melody Gardot (é em inglês mas chama-se Saudade) e de Mili Vizcaíno. É um CD muito feminino, são basicamente compositoras.” Este disco deverá ser lançado em 2018, o DVD de Ana Terra sairá este ano e o outro depende das editoras. Malhas que o mercado tece.

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