Documentário sobre a cena do chuveiro de Psico no MOTELX

78/52, um documentário sobre a cena do chuveiro de Psico, é um dos destaques da edição deste ano do MOTELX, o festival de cinema de terror lisboeta.

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O nome do documentário refere-se às 78 posições da câmara e aos 52 cortes que existem ao longo dos sensivelmente três minutos de duração da cena

Se há cena da história do cinema que merece um documentário de 90 minutos é a chamada “cena do chuveiro” de Psico. A adaptação que Alfred Hitchcock realizou em 1960 do livro homónimo de Robert Bloch, que tinha saído um ano antes, mudou indelevelmente o mundo do terror e do cinema em geral, e é esse o foco de 78/52, documentário que passa no sábado, às 14h50, no Cinema São Jorge, inserido na programação do MOTELX, o festival de cinema de terror de LIsboa. O filme segue-se a vários livros e artigos que há sobre o assunto.

O nome refere-se às 78 posições da câmara e aos 52 cortes que existem ao longo dos sensivelmente três minutos de duração da cena, que demorou uma das quatro semanas que a rodagem durou a ser filmada. O próprio Hitchcock, que dizia que tinha feito o filme só para fazer essa cena, referia-se a ela, parafraseando, como uma forma de transferir a ameaça que estava no ecrã para a mente do espectador, e o terror causado não deixou ninguém indiferente na altura. 

Alexandre O. Philippe, que antes assinou filmes sobre a cultura dos zombies (Doc of the Dead, de 2014) e como os fãs se viraram contra George Lucas (The People vs. George Lucas, de 2010), realizou este documentário que contextualiza a época cultural em que o filme saiu, mostra como tudo foi feito tecnicamente falando – incluindo a banda sonora, que envolve a música de Bernard Hermann, bem como uma faca a ser espetada num melão, testado de entre 27 variedades diferentes para encontrar o som que mais se aproximasse de carne humana – e em que fãs, especialistas e descendentes de Anthony Perkins (Osgood Perkins) e Janet Leigh (Jamie Lee Curtis), dois dos actores do filme, falam sobre a cena. São nomes que vão do actor e produtor Elijah Wood a realizadores como Guillermo Del Toro, Neil Marshall, Mick Garris, ou Peter Bogdanovich, passando pelo escritor e argumentista Bret Easton Ellis – o autor de American Psycho –, o compositor Danny Elfman, que trabalhou no remake que Gus Van Sant fez do filme, ou Marli Renfro, que foi dupla do corpo de Leigh no chuveiro. Alguns deles já passaram pelo próprio MOTELX, como Garris ou Richard Stanley, que foi ele próprio alvo de um documentário: Lost Soul, visto há dois anos no certame, narra as dificuldades que levaram o sul-africano a ser despedido de A Ilha do Dr. Moreau. E é também uma das cabeças falantes de Jodorowky’s Dune, que foi exibido durante os preparativos do MOTELX deste ano e é sobre o projecto que Alejandro Jodorowsky, homenageado do festival deste ano, tinha para adaptar Duna, o livro de Frank Herbert.

Além do documentário sobre a cena do chuveiro, a edição deste ano do MOTELX, que arrancou na terça-feira e continua até domingo entre o Cinema São Jorge, o Teatro Tivoli BBVA, a Cinemateca Portuguesa, a Cinemateca Júnior e o Museu Colecção Berardo, entre outros, conta com filmes de Jodorowsky e Roger Corman, o outro convidado de honra – que deu a Bogdanovich as primeiras oportunidades –, e ambos a darem também master classes, 30 longas-metragens em estreia ou ante-estreia, que vão de IT, de Andrés Muschietti, a Dave Made a Maze, de Bill Watterson – que não é o criador de Calvin & Hobbes –, passando por M.F.A., de Natalie Leite, Train to Busan, de Yeon Sang-ho, ou Mayhem, de Joe Lynch.

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