Papa pede aos colombianos que resistam à "tentação da vingança"

Francisco chegou a Bogotá para tentar pacificar a sociedade civil depois do acordo entre o Governo e os guerrilheiros das FARC. Num discurso perante os líderes políticos disse que "as desigualdades são a raiz das doenças sociais".

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O Papa à chegada a Bogotá, com o Presidente Juan Manuel Santos Stefano Rellandini/Reuters

O Papa Francisco começou esta quinta-feira a visita de quatro dias à Colômbia, marcada pela vontade de unir um país dividido por 50 anos de uma guerra sangrenta. Ao dirigir-se aos colombianos, Francisco sublinhou que os actuais líderes políticos têm de resolver os problemas que levaram a essa violência.

"Apesar dos obstáculos, das diferenças e das perspectivas diferentes no caminho para a coexistência pacífica, esta tarefa de reconciliação chama-nos a insistir na luta pela promoção de uma cultura do encontro", disse o Papa aos responsáveis políticos do país, numa audiência liderada pelo Presidente colombiano, Juan Manuel Santos.

Depois de o Governo e os guerrilheiros das FARC terem assinado um acordo de paz no final do ano passado, a sociedade civil enfrenta agora a tarefa de acolher cerca de 7000 combatentes, vistos por muitos como os responsáveis pelas mais de 220 mil mortes e milhões de deslocados ao longo das últimas cinco décadas.

Os termos do acordo de paz foram recebidos por muitos colombianos – principalmente por familiares das vítimas – com manifestações de fúria. Um dos pontos mais contestados é o facto de os antigos líderes das FARC escaparem a penas de prisão – alguns deles poderão mesmo ingressar no Congresso do país como membros de um partido político civil.

A paz dificilmente regressaria à Colômbia sem soluções tão polémicas como esta, mas não será fácil convencer muitos colombianos de que terão de passar a conviver com as pessoas que se habituaram a ver como terroristas. Daí que o Papa Francisco e o Presidente do país tenham insistido nos apelos à tolerância.

"De nada valerá ter calado as armas se nos mantivermos armados nos nossos corações. Não faz nenhum sentido pôr fim a uma guerra se nos continuarmos a ver uns aos outros como inimigos. É por isso que temos de nos reconciliar", disse Juan Manuel Santos.

No mesmo sentido foram as palavras do Papa Francisco, ao pedir aos colombianos que resistam à "tentação da vingança" e à "satisfação de interesses a curto prazo". "Quanto mais exigente é o caminho em direcção à paz, maiores devem ser os nossos esforços para nos entendermos uns aos outros, para sarar feridas, para construir pontes, para fortalecer relações e para nos apoiarmos uns aos outros", disse Francisco. Mas o Papa deixou também uma mensagem aos líderes políticos do país: "Não nos esqueçamos de que as desigualdades são a raiz das doenças sociais."

Depois da passagem por Bogotá, o Papa Francisco vai prosseguir a sua 20.ª viagem ao estrangeiro com visitas às cidades de Villavicencio, Medellin e Cartagena. O regresso a Roma está marcado para a noite de domingo.

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