Euro forte atrapalha planos do BCE para a retirada de estímulos

Mantém-se a pressão alemã para que o banco central comece a inverter a sua política expansionista, mas o efeito do euro forte na inflação pode fazer Mario Draghi hesitar.

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Mercados esperam anúnico de Mario Draghi esta quinta-feira Reuters/RALPH ORLOWSKI

Com os indicadores de confiança a atingir novos máximos, os fluxos de crédito a regressarem às empresas e famílias, e a actividade económica finalmente a acelerar, pareciam estar criadas as condições para que Mario Draghi se sentisse suficientemente confiante para anunciar o início do fim das políticas expansionistas do BCE. Mas um obstáculo tem vindo a ganhar cada vez mais força nas últimas semanas: a impressionante força do euro.

Esta quinta-feira, o conselho de governadores do Banco Central Europeu (BCE) realiza mais uma reunião. Depois de em Junho, em Sintra, ter dado as primeiras indicações de que a era do dinheiro muito barato poderia estar a chegar ao fim, criou-se a expectativa de que o presidente da autoridade monetária europeia pudesse esclarecer nesta reunião de Setembro como e quando é que se irá operar a redução dos estímulos lançados à economia.

Em particular, que fosse anunciado o que é que acontece a partir de Janeiro de 2018 ao programa de compra de activos (principalmente dívida pública) que o BCE tem vindo a realizar para estimular a economia e fazer subir a inflação. Até Dezembro, as compras são feitas ao ritmo de 60 mil milhões de euros ao mês e aquilo que é esperado é uma redução deste montante mensal.

Fazer esse tipo de anúncio tem sempre o risco de poder gerar reacções negativas nos mercados que ponham em causa a estabilidade financeira e os objectivos do BCE (nomeadamente fazer regressar a inflação a um valor próximo de 2%) e, por isso, Mario Draghi e os seus pares têm vindo a esperar pelo momento ideal. É preciso ter a certeza que já não há o risco de nova descida da inflação (que se encontra em 1,5%) e garantir que os mercados não são apanhados de surpresa.

A conjuntura económica positiva a que se tem assistido nos últimos meses na zona euro parecia criar as condições para que o BCE agisse, mas um novo factor está agora a baralhar as contas, colocando sérias dúvidas sobre a possibilidade de Draghi avançar já esta quinta-feira com o anúncio de retirada dos estímulos.

A questão é que, não só por causa da força da economia europeia mas também devido às dúvidas em torno da economia norte-americana, o euro tem vindo a apreciar-se de forma muito acentuada face ao dólar. O euro, que no início do ano parecia destinado a valer tanto como a divisa homóloga dos Estados Unidos, aproxima-se agora dos 1,20 dólares, Desde o início do ano, subiu quase 15% e regista o valor máximo dos dois últimos anos.

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Uma divisa forte é um sinal positivo da saúde da economia, mas para o BCE, que tem como mandato a estabilidade de preços e tem vindo nos últimos anos, sem sucesso, a tentar colocar a inflação “abaixo mas próximo de 2%”, um euro demasiado forte face ao dólar é um problema. A força do euro faz com que os produtos importados em dólares (como o petróleo, por exemplo) se tornem mais baratos, fazendo cair a inflação.

Em Frankfurt é notório o desconforto que a recente apreciação do euro está a gerar, já que ninguém quer que a capacidade de o BCE evitar o risco de deflação na zona euro volte a ser colocada em causa. E por isso, a prudência em relação ao anúncio do fim de estímulos pode ser maior do que se pensava há poucas semanas. A Reuters noticiou no final do mês passado que, entre a maioria dos membros do conselho do BCE, o sentimento era de que um anúncio já em Setembro era muito pouco provável.

De qualquer forma, no sentido contrário, as pressões vindas da Alemanha para que a política monetária expansionista seja revertida estão mais fortes do que nunca. Esta quarta-feira, nas vésperas da reunião do BCE, Wolfgang Schäuble, o ministro das Finanças da maior economia da zona euro, não teve problemas em afirmar que “é preciso voltar o mais rapidamente possível a uma política monetária normal”.

O BCE irá fazer esta quinta-feira ao final da manhã o anúncio das principais medidas tomadas na reunião do conselho de governadores, a que se seguirá a habitual conferência de imprensa de Mario Draghi.

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