Tempestades solares podem afectar orientação dos cachalotes (e fazer com que encalhem)

O sentido de orientação magnético é uma das técnicas utilizadas pelos cachalotes para se guiarem nas suas rotas migratórias. Um estudo sugere que, com os efeitos das tempestades solares, os mamíferos podem ficar “temporariamente desorientados”, ficando encalhados em águas menos profundas.

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Se não usarem um sentido de navegação alternativo ao magnético, as baleias podem ficar encalhadas, alerta o estudo Joao Silva/ARQUIVO

No início de 2016, quase três dezenas de cachalotes deram à costa nas praias do Atlântico Norte e, como eram quase todos saudáveis e bem nutridos, o fenómeno despertou a atenção não só da comunidade local mas também dos cientistas. Agora, um novo estudo publicado em Agosto no International Journal of Astrobiology sugere que a causa pode estar relacionada com as tempestades solares (também responsáveis pelo fenómeno das auroras boreais), que afectaram o campo magnético da Terra e, consequentemente, o sentido de orientação das baleias, fazendo com que encalhassem em águas menos profundas.

O ponto de partida do estudo foi precisamente o encalhe, no início do ano passado, de 29 cachalotes machos na zona do Mar do Norte, nas costas da Alemanha, Reino Unido, França e Holanda. Ainda que este fenómeno seja “pouco frequente”, existem registos anteriores de casos de arrojo de baleias em massa, muitas vezes sem que se saiba quais as razões para que tal aconteça.

Segundo o estudo, foram feitas autópsias a 22 dos animais que deram à costa e todos “aparentavam ter uma boa situação nutricional e não sofriam de nenhuma doença incapacitante”. Pouco tempo antes, foram registadas alterações no campo magnético da Terra (entre 20 e 21 de Dezembro de 2015 e 31 de Dezembro do mesmo ano e 1 de Janeiro de 2016).

Atendendo a que o sentido magnético dos cachalotes é uma das técnicas usadas para se orientarem, o grupo de investigadores sugere que as alterações no campo magnético podem ter originado uma “desorientação temporária das baleias durante a sua rota migratória”. Se estivessem em alto mar, estes mamíferos deveriam conseguir corrigir a rota sem consequências graves. “Mas se as baleias nadam na direcção errada durante um ou dois dias [sendo que nadam cerca de 100 quilómetros por dia] na área entre a Escócia e a Noruega, torna-se tarde de mais para voltarem para trás, ficam presas”, referiu um dos quatro autores do estudo, Klaus Vanselow, citado pela BBC.

“Se as baleias não compensarem ao trocarem o seu sentido magnético por um método alternativo de navegação (como o Sol ou a batimetria) podem ficar encalhadas” ao longo das costas superficiais do Atlântico Norte, alerta a investigação. Os cachalotes mais jovens são mais propícios a serem enganados por estas alterações, porque ainda não aprenderam a adaptar-se e a reconhecer estas alterações magnéticas.

Como alguns cachalotes vivem em águas tépidas profundas, incluindo perto dos Açores, em regiões de latitude mais baixa (onde as anomalias geomagnéticas são menos frequentes), podem não conseguir distinguir estas disrupções. Quando têm entre 10 a 15 anos, os machos migram para Norte, para a região polar, atraídos pelas grandes quantidades de lulas nas águas árcticas, escreve a BBC – e podem ficar temporariamente desorientados se houver alterações no campo magnético provocadas por tempestades solares abruptas.

As tempestades solares libertam grandes emissões de energia, provocadas por erupções solares. Ainda que a Terra esteja protegida por um escudo magnético, a magnetosfera, esta é afectada pela tempestade, podendo causar alterações no campo magnético da Terra e não só. São também estas radiações e partículas emitidas as responsáveis pelas auroras boreais no Árctico e podem provocar ainda interrupções em sistemas de comunicação, como os satélites e as transmissões de rádio. Para além da teoria agora sugerida pelos cientistas, existem estudos que referem que as tempestades solares podem afectar a capacidade de orientação de aves e de abelhas. 

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