Cem anos de jazz para ouvir em Guimarães

De 8 a 18 Novembro, o Guimarães Jazz toma conta da cidade minhota numa edição que se inspira no centenário da primeira gravação de jazz. Nels Cline, Jan Garbarek com Trilok Gurtu e Mostly Other People Do the Killing lideram o cartaz deste ano.

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O guitarrista Nels Cline apresenta com a Orquestra de Guimarães o projecto Lovers dr

Terá sido há 100 anos que a Original Dixieland Jass Band garantiu um lugar de relevo no capítulo das datas a celebrar ao realizar aquela que é considerada a primeira gravação de uma música que se passou a chamar jazz. À boleia desse centenário, o Guimarães Jazz desenvolveu uma programação para a sua 26.ª edição – a decorrer de 8 a 18 de Novembro –, que não se fecha numa mostra revisionista do que tem sido o jazz desde 1917, mas cuja diversidade de propostas é sintomática dos muitos caminhos que se abriram desde esse momento primordial.

Ainda assim, a data terá uma presença real num dos primeiros concertos do festival, em concreto no espectáculo Jazz – The Story, a 9 de Novembro, em que a All Star Orchestra de que fazem parte nomes como Vincent Herring, James Carter e Kenny Davis tentará fazer uma espécie de curso rápido e intensivo do percurso deste género cuja evolução meteórica é uma das marcas fundamentais da História da música popular do século XX. De 1917, Jazz – The Story caminha até ao presente, passando por blues, ragtime, swing, bebop, cool, demorando-se um pouco mais na década de 50 e na emergência de músicos fundamentais como John Coltrane e Miles Davis.

Há também qualquer coisa de olhar histórico no projecto Lovers, que o guitarrista Nels Cline apresenta com a Orquestra de Guimarães no concerto de abertura. Lovers, lançado em 2016 pela Blue Note, é um mergulho de Cline num cancioneiro dedicado à intimidade e aos arroubos românticos, que vai desde o Great American Songbook de Rodgers e Hart a Arto Lindsay e Sonic Youth, passando por Henry Mancini. Algo de muito especial.

Na diversidade de propostas do Guimarães Jazz, destaque ainda para duas actuações de primeira linha em campos completamente díspares. Na segunda semana do festival, a 16 de Novembro, o saxofonista norueguês Jan Garbarek, nome de proa da ECM e um dos grandes responsáveis pela fixação da marca distintiva do som da editora, lidera o seu grupo habitual (onde encontramos o baixista/contrabaixista “português” Yuri Daniel, que por aqui fez grande parte da sua carreira, apesar de nascido no Brasil) num curiosíssimo encontro com o virtuoso percussionista indiano Trilok Gurtu.

Alguns dias antes, a 11, será a vez do grupo Mostly Other People Do the Killing prestar contas, em formato septeto. Palco para as composições do contrabaixista Matthew Moppa Elliott se entrelaçarem com standards de jazz, numa formação em que pontua um dos músicos mais estimulantes e criativos de hoje, o trompetista Peter Evans. A excentricidade do grupo levaria muitos puristas a arrancar cabelos com a rigorosa revisitação nota por nota de Kind of Blue, o clássico de Miles Davis, no seu Blue lançado em 2014.

Pelo Guimarães Jazz passarão ainda o histórico baterista de free jazz Andrew Cyrille (10 de Novembro), Allison Miller na companhia de gente mui recomendável como Myra Melford e Kirk Knuffke (17), e Darcy James Argue e a sua Secret Society (18) no Grande Auditório do Centro Cultural Vila Flor. O Pequeno Auditório a receberá ainda VEIN, Rick Margitza, quarteto de Jeff Lederer e Joe Fiedler, Big Band e Ensemble de Cordas da ESMAE, e o projecto de parceria que o festival vem desenvolvendo com a associação Porta-Jazz (12), desta vez num espectáculo que cruza música e teatro e em que aos músicos da casa se juntarão o dramaturgo Jorge Louraço Figueira, a actriz Catarina Lacerca e alguns outros músicos convidados.

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