Mínima interferência, máximo benefício

Foram oito os lances cuja decisão inicial foi revertida após revisão pelo VAR. Foram oito lances em que a decisão inicial do árbitro estava errada. Claramente errada. São estes os lances que justificam a existência do projecto videoárbitro.

Esta semana tivemos jogos da nossa selecção (com duas importantes vitórias no caminho para o Mundial da Rússia) e, por isso, não houve Liga NOS. Momento ideal para todos os envolvidos nesta competição fazerem um balanço e avaliação do seu início de época.

A estrutura da arbitragem também fez o seu balanço. Saiu, e bem, para a comunicação social que os árbitros na análise do que foram os jogos nas primeiras quatro jornadas concluíram que estavam a acontecer impunemente faltas graves de entradas perigosas (pisões e entradas de sola pelo ar) e que passará a haver menos tolerância disciplinar para esse tipo de infracções.

Foi também feito um balanço do projecto videoárbitro (VAR) e foram divulgados alguns números interessantes.

Assim, ficámos a saber que nos 36 jogos das primeiras quatro jornadas houve 264 lances que foram verificados pelas equipas de videoárbitro. Destes, 116 foram por possível cartão vermelho (são verificados todos os cartões vermelhos directos e os amarelos que o VAR considere “mais durinhos”), 89 por golo (todos os lances que acabam em golo são verificados) e 59 lances de penálti (aqui foram verificados todos os pontapés de penálti assinalados e outros lances na área que tenham suscitado dúvida aos VAR).

Foram oito os lances cuja decisão inicial foi revertida após revisão pelo VAR. Foram oito lances em que a decisão inicial do árbitro estava errada. Claramente errada. Foram oito “casos de arbitragem” sobre os quais falaríamos, durante muito tempo, como sendo graves afrontas à verdade desportiva. São estes os lances que justificam a existência do projecto videoárbitro.

É correcto e justo que muitos, entre os quais me incluo, afirmem que exitiram mais situações de erros claros em que o VAR deveria ter tido intervenção e, erradamente, não teve. O Conselho de Arbitragem da Federação já reconheceu publicamente que existiram falhas. Mas esse mesmo Conselho tem insistido que o projecto tem sido um sucesso. E tem!

Em Portugal, ao contrário de outros países, ainda não aconteceu (ou aconteceu pouco e em jogos de menos visibilidade) aquilo que considero ser o maior perigo para o sucesso do projecto: o VAR ainda não pecou por excesso!

Demasiadas interrupções serão más para o futebol. Interrupções indevidas, por erradas avaliações do VAR, farão com que todos os envolvidos no futebol comecem a ficar de pé atrás com o VAR. E o que de pior pode acontecer (ainda não aconteceu em Portugal mas já aconteceu noutros países) é o VAR sugerir uma revisão de um lance e o árbitro mudar uma decisão que inicialmente era boa para uma errada. Esta última situação descredibiliza todo o projecto e, repito, não aconteceu ainda em Portugal.

Acredito que o VAR irá continuar em Portugal e, tal como foi pedido pelo IFAB [International Board], a pautar a sua acção pela máxima “Mínima Interferência – Máximo Benefício”. Saibam todos os agentes do futebol perceber a importância desta frase. Que os dirigentes, treinadores, adeptos e comentadores percebam o que se pretende com a ideia de “mínima interferência” e que os árbitros, nomeadamente quando em função de VAR, saibam retirar o “máximo benefício” de forma corajosa e desassombrada.

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