Quase 214 mil hectares de área ardida até 31 de Agosto

Os primeiros oito meses deste ano foram os piores dos últimos dez anos, segundo o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas. Isto apesar de ter registado, em termos homólogos, o quinto valor mais reduzido em termos de número de ocorrências.

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O incêndio que deflagrou em Pedrógão foi o mais dramático de sempre Adriano Miranda

Desde o início do ano até ao passado dia 31 de Agosto, arderam em Portugal 213.986 hectares de floresta. É um número que representa mais 234% de área ardida do que a média dos últimos dez anos para os mesmos oito meses, segundo o relatório do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) divulgado esta segunda-feira.

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Desde o início do ano até ao passado dia 31 de Agosto, arderam em Portugal 213.986 hectares de floresta. É um número que representa mais 234% de área ardida do que a média dos últimos dez anos para os mesmos oito meses, segundo o relatório do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) divulgado esta segunda-feira.

Se nos ativermos ao número de ocorrências (12.377, entre incêndios e fogachos), o ano de 2017 apresenta, até ao dia 31 de Agosto, o quinto valor mais reduzido. Os reacendimentos (915 ao todo) também representam menos 18% do que a média anual do período 2007-2016. Tudo conjugado, a conclusão é óbvia: houve menos incêndios e menos reacendimentos, mas a área ardida ultrapassa largamente a dos piores dos últimos anos.

Não há, como lembrou ao PÚBLICO Luciano Lourenço, do Departamento de Geografia da Universidade de Coimbra, "uma relação directa entre o número de ocorrências e a área ardida". Entre as várias explicações possíveis para a imensidão de área ardida, o especialista aponta os "valores reduzidos de humidade, o que facilita a propagação, e as alterações em termos de combustiveis, nomeadamente a substituição do pinhal pelo eucaliptal", sendo que este "facilita as projecções [do fogo] até distâncias maiores o que leva a várias frentes de incêndio e, consequentemente, a uma maior dispersão dos meios" de combate.

Locais com "cada vez menos habitantes"

A existência de aglomerados habitacionais "com cada vez menos habitantes e sem as faixas de segurança devidamente implantadas no terreno" também leva, de acordo com o investigador, "a que os bombeiros se concentrem na defesa das habitações e das vidas e que não façam um combate tão dirigido aos incêndios". 

Os actuais 213.986 hectares de floresta queimada pelo fogo entre 1 de Janeiro e 31 de Agosto ficam aquém dos dados apresentados pelo Sistema Europeu de Informação Sobre Incêndios Florestais que, tal como o PÚBLICO noticiou, contava 223.275 hectares ardidos no passado dia 1. À margem desta discrepância, os quase 214 hectares ardidos contabilizados pelo ICNF comparam com os 123.925 hectares de área ardida entre 1 de Janeiro e 31 de Agosto do ano passado e com os 123.371 hectares do mesmo período de 2013 e os 125.225 hectares de 2010. Estes foram os piores anos. Porque, entre 2007 e 2016, a média de área ardida no período homólogo em cada ano fixou-se nos 64.123 hectares. E houve anos, como o de 2008, em que não passou dos 10.188 hectares.

Na memória dos anos mais recentes, confirmada pela consulta aos relatórios do ICNF, os anos de 2003 e 2005 surgem como os piores, com 425.706 e 325.226 hectares de área ardida, respectivamente e na totalidade de cada um dos anos. O ano de 2008 surge, por seu turno, como aquele que apresenta um melhor registo, com apenas 17.244 hectares atingidos pelas chamas.

Distritos mais afectados

Castelo Branco surge, sem surpresas, como o distrito mais afectado no que concerne à área ardida: 37.234 hectares, o que representa cerca de 17% do total. Para esta posição cimeira no ranking dos distritos mais destruídos pelo fogo, contribuiu sobretudo o incêndio que começou na freguesia do Várzea dos Cavaleiros, no concelho da Sertã, e que destruiria 29.752 hectares de espaços florestais, ou seja 80% do total ardido no distrito.

O incêndio que, em meados de Junho, deflagrou em Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, recorde-se, alastraria também pouco depois aos distritos de Castelo Branco e de Coimbra, consumindo um total de 27.364 hectares, além de ter provocado a morte a 65 pessoas. Este distrito surge também como um dos mais fustigados pelos fogos, somando 25.593 hectares ardidos.

Também sem surpresas, o segundo distrito mais destruído pelas chamas é o de Santarém, com 35.937 hectares ardidos. Por detrás deste números, surgem os dois grandes incêndios que deflagraram no concelho de Mação e que, de acordo com as estimativas divulgadas então pelo autarca local consumiram cerca de 80% da área do concelho. O último destes incêndios, que deflagrou no dia 16 de Agosto, na freguesia de Aboboreira, queimou em poucos dias 12.897 hectares.

No corrente ano, ainda segundo o ICNF, a Autoridade Nacional de Protecção Civil decretou 66 dias de alerta especial de nível amarelo ou superior do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais, dos quais 28 foram em Agosto. Este mês surge, de resto, como campeão da área ardida, com 81.313 hectares, ou seja, 38% da área ardida neste ano. Mas, apesar de, na comparação com os meses anteriores, registar o maior número mensal de ocorrências (3921), este último de Agosto destaca-se, na análise do ICNF, por apresentar menos 9% de ocorrências em relação ao valor médio dos últimos dez anos para este mês.  

Do total de floresta ardida nos primeiros nove meses deste ano, 20.781 hectares inscreviam-se em terrenos da Rede Nacional de Áreas Protegidas. No Parque Nacional do Douro Internacional, por exemplo, arderam 6685 hectares, cerca de 7,7% da área total do parque.