Palavras, expressões e algumas irritações: medo

Olhando para o estado do mundo, fica-se sem saber se se há-de ter “receio” em maior grau de terroristas anónimos ou de malfeitores conhecidos. Como é que se hierarquiza o “pavor” entre cintos de explosivos, carros armadilhados, atropelamentos em massa e mísseis intercontinentais?

A origem desta palavra é latina, como muitas das que os falantes de português usam todos os dias. E noites. "Metus" derivou para “medo”. Sente-se por aqui e por outras geografias. 

Uma definição possível: “Fenómeno de inquietação súbita e violenta provocado pela consciência de ameaça ou perigo, real ou imaginário, em geral acompanhado de reacções fisiológicas.”

Pede o mundo aos cidadãos (ocidentais…) que não se deixem tolher pelo “medo”. Incentivam-nos a viajar, a assistir a concertos e outras iniciativas colectivas e a não fugir das multidões. Mas não se pode evitar o “amedrontamento”.

Olhando para o estado do mundo, fica-se sem saber se se há-de ter “receio” em maior grau de terroristas anónimos ou de malfeitores conhecidos. Como é que se hierarquiza o “pavor” entre cintos de explosivos, carros armadilhados, atropelamentos em massa e mísseis intercontinentais? Acresce ainda o “temor” das alterações climáticas, entre secas aqui, inundações ali, tufões acolá, tsunamis mais além.

Voltemos ao conceito de “medo”: “O que assusta, fantasma, alma do outro mundo.” E registam-se expressões como: “O papão, o homem do saco e outros medos infantis.” E não conseguimos deixar de pensar em (pelo menos) dois poderosos a desafiar-se com brinquedos perigosos como duas crianças, no que de mais assustador pode ter a infância, no sentido da disputa e irresponsabilidade.

O que é de realmente “meter medo” — enquanto “provocar susto ou receio, amedrontar, assustar” — é o facto de estarmos em presença de dois líderes mundiais (Trump e Kim Jong-un) desequilibrados e imprevisíveis. Nunca saberemos o que lhes passa pela cabeça. Além daqueles penteados.

A rubrica Palavras, expressões e algumas irritações encontra-se publicada no P2, caderno de domingo do PÚBLICO

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A rubrica A Semana Ilustrada, nesta edição da autoria de João Catarino, encontra-se publicada no P2

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