Investigada morte súbita de 25 bovinos no concelho de Almodôvar

Em apenas cinco minutos os animais que aparentavam estar bem, começaram a espernear e a espumar e acabaram por morrer de patas para o ar.

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O proprietário decidiu divulgar o caso para alertar os criadores de gado da região Rui Gaudencio

Rita Vila Nova, a veterinária que presta serviço na Herdade da Caiada, no concelho de Almodôvar, reconheceu ao PÚBLICO nunca ter observado, na sua vida profissional, um “cenário tão horrível”. Foi apenas o tempo de virar costas para observar um grupo de animais que fora afastado de um pego na ribeira de Oeiras, um dos afluentes do Guadiana, para ser encaminhado na direcção de um casão onde seriam observados. Aparentemente estavam bem mas “ de repente, cinco vacas começaram a espernear e a espumar da boca e daí a poucos minutos estavam mortas” relata Rita Vila Nova sem conseguir esconder a sua perplexidade.

As causas da morte estão a ser averiguadas, mas o início deste insólito acontecimento reporta-se à manhã da passada segunda-feira, quando o trabalhador que trata da manada com 54 bovinos, chegou à herdade por volta das sete horas e se deparou com uma dúzia de animais mortos no meio do pasto. Não conseguiu identificar a causa , até porque, na véspera (último domingo) o funcionário tinha estado durante a tarde na exploração e, aparentemente, estava tudo normal. Os animais comiam e digeriam bem.

O funcionário chamou a veterinária que, quando chegou ao local, já contou 15 bovinos mortos. O que é que terá acontecido? Foi a sua primeira interrogação, até reparar que a cerca que rodeia a exploração pecuária, num dado ponto, fora substituída por uma vedação electrificada, que se encontrava partida, o que facilitou a deslocação dos animais até junto de um pego (pequeno charco) com água parada que permanece na ribeira de Oeiras. “Das duas, uma: Ou eles alimentaram-se de plantas venenosas que existem nas margens da ribeira ou beberam no charco” conjectura Rita Vila Nova.

Os animais que estavam vivos foram retirados das proximidades da ribeira, onde se encontrava outro grupo e no caminho para o casão “morreram mais cinco à nossa frente”. Ao todo foram 25, sem que a causa esteja, para já identificada.

A veterinária retirou fígados, rins, sangue dos animais e o que continham os seus estômagos. Um técnico do ministério do Ambiente foi chamado para recolher água do pego. Rita Vila Nova explicou ao PÚBLICO que em casos de morte repentina, tanto os rins como fígado não têm tempo de absorver eventuais substâncias contaminadas. Daí a necessidade da colheita de sangue e da retirada de amostra do estômago.

Numa primeira análise as suspeitas recaem sobre plantas venenosas ou sobre a água do pego por “concentrar metais pesados trazidos pelas escorrências da mina de Neves Corvo". Há vários anos, que são conhecidos casos de intoxicação por cobre, sobretudo em ovelhas. Nestes casos os animais vão definhando até que morrem, por vezes, ao fim de semanas. “Depois verificamos, pela recolha de tecidos nos ovinos, que o nível de cobre no seu organismo é muito elevado", nota a veterinária.  

 A morte dos bovinos e o modo como ocorreu, não tem equivalente, pormenor considerado preocupante que levou a empresa proprietária da herdade da Caiada a dar conhecimento público da situação, para alertar não só a comunidade como outros produtores pecuários. “Não é apenas a morte dos animais que está em causa”, vincou a veterinária, que quer ter a certeza que este não é  “um caso de saúde pública” que possa estender-se aos humanos.

A ribeira de Oeiras é um afluente do Guadiana e há anos que os que residem na sua bacia e sobretudo em Mértola, comentam que o que “ o que vem da ribeira de Oeiras não é coisa boa” observa Rita Vila Nova. O estudo de impacte ambiental que a Somincor efectuou para o projecto de expansão do zinco e apresentado em 2016 refere que a água do efluente industrial da mina (de Neves Corvo), "após tratamento", é lançada na ribeira de Oeiras (…). 

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