“Não saiu um único carro das linhas de produção da Autoeuropa”

Administração da fábrica automóvel convoca sindicatos para reunião na próxima semana, ainda antes da eleição da nova Comissão de Trabalhadores.

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Greve na Autoeuropa ainda não tem números de adesão definitivos por parte dos representantes dos trabalhadores LUSA/RUI MINDERICO

A administração da fabricante automóvel Autoeuropa acedeu receber em reunião, a realizar na próxima semana, os representantes dos sindicatos que convocaram a greve que nesta quarta-feira fez com que “não saísse um único carro das linhas de produção” da empresa em Palmela.

Mas a direcção da empresa já fez saber que as necessárias e desejadas negociações deverão ser lideradas “com uma comissão de trabalhadores eleita, à semelhança das boas práticas laborais da Volkswagen Autoeuropa e do grupo Volkswagen”. “A eleição de nova comissão de trabalhadores está marcada para o próximo dia 3 de Outubro. “Tal como foi afirmado pela administração da Volkswagen Autoeuropa, a empresa aguardará pela eleição desta nova comissão para iniciar um novo processo de negociação”, explicou ao PÚBLICO fointe oficial da Autoeuropa. 

Os argumentos dos trabalhadores que estiveram esta quarta-feira em greve vão ser levados à mesa de reuniões já na próxima semana, na audiência que foi convocada pela administração para o dia 7 de Setembro. As expectativas que Eduardo Florindo, dirigente do SITE-Sul, um dos sindicatos com mais representatividade na fábrica de Palmela, leva para essa reunião são elevadas: “Acreditamos que a coesão demostrada pelos trabalhadores levará a administração a ponderar uma nova solução para os horários de trabalho”, afirmou PÚBLICO. 

T-Roc atribuído "em exclusivo a Palmela". E aí ficará

"O T-Roc foi atribuído em exclusivo à fabrica de Palmela, e todo o volume de encomendas previsto deverá ser aí produzido", mantém a administração da empresa, em resposta escrita ao PÚBLICO, quando questionada sobre a hipótese de deslocalização da produção do novo modelo da VW para outra unidade do grupo alemão. 

Foi durante a apresentação mundial desse novo modelo que Herbert Diess, CEO da marca Volkswagen afirmou que "tendo em consideração a tradição de diálogo social que sempre existiu na fábrica de Palmela, acreditava que se chegaria a um acordo após a eleição da nova comissão de trabalhadores", recorda fonte oficial da Autoeuropa, não questionando dessa forma a manutenção da produção em Portugal.

Durante um intenso dia de greve, que começou às 23h30 de terça-feira, e terminou às 00h00 desta quinta, foram muitas as trocas de acusações e de números. Para começar, com as diferentes taxas de adesão: segundo a administração da empresa a paralisação de 24 horas convocada para esta quarta-feira teve uma taxa de adesão de 41%.

O sindicato mais representativo da empresa, o SITE-Sul começou por falar de 100%. Depois corrigiu. Eduardo Florindo, representante desse sindicato afirmou que taxas não importam. “O que importa é isto: uma empresa que produz carros esteve 24 horas sem que nenhum automóvel saísse das suas linhas de produção. Se isto não é paralisação total, é o quê?”.

Mas a troca de argumentos não se fez só dentro de portas, mas também fora delas, com o ex-coordenador da Comissão de Trabalhadores, o bloquista António Chora, a acusar o PCP e a CGTP de estarem “a fazer um aproveitamento da greve”.

António Chora diz que estes sindicatos têm “dezenas, senão centenas, de contratos colectivos de trabalho assinados” que prevêem turnos rotativos e que dão direito a apenas uma folga por semana: “As pessoas apenas têm uma folga por semana e têm uma folga a um sábado, ou a um domingo, ou um sábado e domingo de quatro em quatro semanas, no máximo dos máximos, e com valores inferiores àqueles que estavam ali em cima da mesa”, afirmou.

Confrontado pelo PÚBLICO com estas declarações, Eduardo Florindo escusou-se “a entrar em pormenores e detalhes, muito menos em discussões com o antigo coordenador”, para frisar um aspecto: “Não estamos contra o trabalho ao sábado ou ao domingo. Estamos contra sermos obrigados a trabalhar ao sábado. Há uma grande diferença nisso”.  O representante sindical dos trabalhadores diz que estes não contestam a necessidade de laboração contínua através dos 18 turnos de trabalho que a empresa pretende implementar a partir de Novembro, mas apenas a obrigatoriedade de trabalharem ao sábado.

Contactada pela Lusa, fonte oficial da tutela disse que o "Ministério da Economia está a acompanhar a situação na Autoeuropa e espera que haja acordo entre ambas as partes" - trabalhadores e a administração da empresa.

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