Sue, o T-rex mais famoso do mundo, vai mudar de visual

Montagem do esqueleto no Museu Field, em Chicago, vai sofrer alterações relativas à anatomia e postura. Descoberto em 1990, o fóssil foi comprado em leilão por uma pequena fortuna.

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O esqueleto do T-rex Sue Sue Ogrocki/REUTERS

O esqueleto do T-rex mais completo que se conhece está pronto para uma mudança de visual pioneira. O Museu Field de Chicago, nos Estados Unidos, anunciou esta semana que vai desmontar e voltar a montar o esqueleto daquele tiranossauro de 12,3 metros de comprimento conhecido pela alcunha Sue, talvez um dos fósseis de dinossauros mais famosos, para incorporar os últimos conhecimentos sobre este predador feroz do período Cretácico.

O enorme T-rex irá para um novo espaço de exposição do museu, enquanto o lugar que até agora ocupava na Sala Stanley Field receberá um modelo do maior dinossauro conhecido de sempre, o Patagotitan mayorum. Este dinossauro de pescoço longo e que andava nas quatro patas era um herbívoro que atingia os 37,2 metros de comprimento e as 70 toneladas. Viveu na Argentina há 100 milhões de anos, o que foi mais de 30 milhões de anos antes de o Tyrannosaurus rex perseguir as suas presas pela América do Norte. O maior animal que andou em terra firme de que há registo foi um membro de um grupo de dinossauros chamado titanossauros.

O próximo passo do museu é revelar o esqueleto em fibra de vidro do Patagotitan mayorum, que está a ser construído a partir dos fósseis de sete indivíduos e que, durante dois anos, também vai exibir alguns fósseis genuínos, incluindo um fémur de 2,4 metros de comprimento.

Tendo o nome da paleontóloga (Sue Hendrickson) que descobriu o esqueleto em 1990 perto de Faith, no Dakota do Sul (Estados Unidos), Sue é o maior, mais completo e bem preservado T-rex alguma vez descoberto.

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A paleontóloga Sue Hendrickson ao lado do pé do T-rex que descobriu John Weinstein/Museu Field/REUTERS

O Instituto de Investigação Geológica de Black Hills (no Dakota do Sul), onde trabalhava a paleontóloga, pagou cinco mil dólares (pouco mais de quatro mil euros) ao proprietário do terreno, Maurice Williams, um índio Sioux, para remover o esqueleto de 67 milhões de anos. Mas em 1992 iniciou-se uma batalha legal pela posse de Sue. O Governo norte-americano confiscou os ossos, alegando que a reserva índia, apesar de privada, se encontrava sob jurisdição federal.  

No final, foi Maurice Williams quem ficou milionário. Em 1997, Sue foi vendida num leilão da Sotheby’s de Nova Iorque. E foi o Museu Field que comprou o esqueleto por 8,4 milhões de dólares (sete milhões de euros), com a ajuda de mecenas como a McDonald’s e a Disney.

Da longevidade à força de uma dentada

O esqueleto de Sue será desmontado em Fevereiro do próximo ano e montado outra vez com alterações significativas de anatomia e postura na sua nova sala de exposições na Primavera de 2019, revelaram os cientistas do museu.

“Estamos a fazer vários ajustes no esqueleto para reflectir o conhecimento novo e aperfeiçoado”, explicou o paleontólogo Pete Makovicky, conservador-adjunto do museu para os dinossauros. A principal alteração, especificou o paleontólogo, será a junção de gastrálias, ossos que parecem um conjunto adicional de costelas que atravessam a barriga e que podem ter dado apoio estrutural para ajudar a respiração do dinossauro. Acrescentar estes ossos irá tornar ainda mais evidente quão gigante era Sue e que tinha uma barriga saliente, acrescentou Pete Makovicky.

Os cientistas também concluíram que a fúrcula tinha sido mal identificada em 2000 e vão substituí-la pela própria fúrcula do dinossauro. Formado pela fusão das duas clavículas, este osso bifurcado está presente em dinossauros terópodes (grupo de carnívoros bípedes, como o tiranossauro) e nas aves, seus descendentes evolutivos.

Também vão fazer ajustes nas costelas, para que o peito seja mais delgado e não pareça ter a forma de um barril e, ainda, arranjar a pata direita para que não esteja tão agachada. “Geralmente, temos apenas uma oportunidade de fazer uma coisa tão cara como montar o esqueleto de um fóssil para exposição. Estou feliz por irmos reparar e actualizar este fóssil incrível”, sublinhou por sua vez o paleontólogo Bill Simpson, que dirige as colecções geológicas do museu.

Pete Makovicky destaca a acumulação, desde 2000, de conhecimentos sobre o T-rex e os seus primos. “Sabemos mais sobre a longevidade dos tiranossauros (cerca de 30 anos) e como cresciam (muito depressa na adolescência) e, através de modelos de computador de Sue, a sua massa corporal foi revista e passou de cinco a sete toneladas para nove toneladas ou mais.”

Investigação ainda em curso está a examinar a composição molecular da cartilagem preservada em ossos de tiranossauros, e estudos recentes mostraram que o T-rex tinha a dentada mais poderosa de qualquer animal que já pisou terra firme, acrescentou Pete Makovicky.

Quando o modelo do esqueleto do Patagotitan estiver montado, os visitantes vão poder andar por baixo dele e tocar-lhe. A sua cabeça vai chegar até ao balcão no segundo andar do museu, quase nove metros acima do chão. O esqueleto de outro Patagotitan também está exposto no Museu Americano de História de Natural, em Nova Iorque.

Segundo o Museu Field, a doação de 16,5 milhões de dólares (13,9 milhões de euros) do Fundo Filantrópico Kenneth C. Griffin, criado pelo fundador e presidente da empresa de fundos de investimento Citadel LLC, permitiu levar por diante esta mudança de visual da Sue e juntar ainda o modelo do Patagotitan. Estas mudanças vão coincidir os 125 anos do museu, celebrados em 2018. 

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