Com uma mão nas medalhas e a outra nas sebentas

As Universíadas chegam hoje ao fim e Portugal conquistou cinco medalhas, duas delas de ouro, neste que é o maior evento do desporto universitário e por onde já passaram grandes figuras mundiais

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Francisco Belo
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Nuno Borges

Termina hoje em Taipé, Taiwan, a 29.ª edição das Universíadas, o maior evento do desporto universitário mundial. A cerimónia de encerramento inicia-se às 19h30 locais (12h30 em Lisboa) e a comitiva portuguesa traz na bagagem de regresso um total de cinco medalhas – duas dela de ouro – o que permite igualar em número a melhor participação de sempre. Mas as Universíadas significam muito do que as rodelas de metal precioso: nesta competição, atletas que “fazem uma vida desportiva mas pensam também na vida académica”, competem em igualdade de circunstâncias.

“É um palco muito interessante, onde podemos demonstrar as nossas capacidades com pessoas que estão na mesma condição que nós, que estão a estudar e treinar ao mesmo tempo”, destacou Francisco Belo, que conquistou o ouro no lançamento do peso, em conversa com o PÚBLICO. “Muitos dizem que a seguir aos Jogos Olímpicos é o palco mais importante do mundo. É interessante competir com pessoas que partilham deste espírito, que fazem uma vida desportiva mas pensam também na vida académica. São raros os casos daqueles que podem fazer vida do desporto”, acrescentou o estudante de Medicina, que participou nas Universíadas pela segunda vez.

Tal como Francisco Belo, Rui Bragança também é estudante de Medicina e em Taiwan encerrou um percurso de oito anos de desporto universitário com uma medalha de prata na competição de taekwondo na categoria -58kg (o mesmo resultado que tinha obtido nas Universíadas de Gwangju, na Coreia do Sul, em 2015). Um ano depois da estreia olímpica, no Rio de Janeiro, Bragança destaca a principal diferença entre os dois eventos: “Nos Jogos Olímpicos existe mais tensão. Claro que nas Universíadas toda a gente quer ter um bom resultado, obviamente, mas não há tanta tensão. Existe espírito de equipa, curiosidade por conhecer outras modalidades. E muitos atletas vão pela primeira vez a um evento deste género”, apontou ao PÚBLICO.

Não é por ser um evento para atletas-estudantes que o nível deixa de ser elevado. O adversário de Rui Bragança no combate pela medalha de ouro venceu na meia-final o tailandês Tawin Hanprab, que conquistara a prata no Rio de Janeiro 2016. No lançamento do peso, e poucas semanas depois de ter-se sagrado em Londres campeão do mundo pela terceira vez consecutiva, o polaco Pawel Fajdek conquistou mais uma medalha de ouro nas Universíadas. Prata na estafeta 4x100m no Rio de Janeiro (e bronze nos Mundiais de Londres na mesma prova), a jamaicana Sashalee Forbes venceu os 100m em Taiwan.

No presente como no passado, há grandes vultos do desporto mundial com passagem pelas Universíadas. Nadia Comaneci, a primeira atleta a ser classificada com “10” na ginástica olímpica, em Montreal 1976, despediu-se dos grandes palcos nas Universíadas de Bucareste, em 1981, com ouro no concurso individual e por equipas. A ginasta romena fugiria do país em 1989 para escapar ao regime de Ceausescu. Bicampeão olímpico nos saltos para a água em prancha a três metros e plataforma a 10m (1984 e 1988), Greg Louganis também conquistou duas medalhas de ouro nas Universíadas de 1983, em Edmonton.

“As Universíadas, pela maneira como estão formuladas, são uma competição muito interessante. Não posso dizer que é antecâmara dos Jogos Olímpicos, porque muitos campeões olímpicos competem nas Universíadas. Podemos comparar-nos com iguais, que têm os mesmos valores e compreendem a carreira desportiva e académica da mesma forma”, salientou Francisco Belo. “E só valoriza mais os atletas-estudantes conseguirem ir aos Jogos Olímpicos e debaterem-se com pessoas que fazem só aquilo na vida. O facto de termos estudantes-trabalhadores e estudantes-atletas a ir aos Jogos Olímpicos representar esses valores é muito importante”, acrescentou.

Na estreia em Universíadas, Nuno Borges conquistou a primeira medalha para o ténis português, um bronze. “São as minhas primeiras Universíadas e tem sido muito especial estar aqui. Adoro o facto de estarmos aqui em equipa, aprende-se muito”, confessou ao PÚBLICO o tenista que há um ano e meio rumou aos EUA para estudar Fisioterapia. “Gostava muito de poder chegar aos Jogos Olímpicos. Mas tenho um caminho longo até lá chegar”, acrescentou Nuno Borges. Se for necessária inspiração, basta olhar para os exemplos de Nelson Évora, Naide Gomes, Patrícia Mamona ou Fernando Pimenta, entre outros.

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