Reino Unidos avança com testes de camiões autónomos

Também esta semana, a Alemanha delineou regras éticas para os carros que venham a circular em piloto automático.

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Uma demonstração de tecnologia de condução autónoma, nos EUA Reuters/Jim Young

Passo a passo, os países vão lidando com as dificuldades legais, éticas e tecnológicas de um futuro com veículos autónomos nas estradas. Desta feita, foi a vez do Reino Unido fazer um novo avanço, com o Governo a autorizar os primeiros testes de camiões semi-autónomos em situações reais de circulação. A decisão foi tomada poucos dias depois de o Governo alemão ter concebido regras éticas para o comportamento dos carros autónomos.

O Governo britânico vai disponibilizar 8,1 milhões de libras (8,7 milhões de euros) para aquelas experiências com camiões semi-autónomos. Contudo, estes veículos ainda estão muito longe de poderem andar nas estradas sem um humano ao volante. O conceito – que deverá ser testado algures no final do próximo ano – implica que todos os camiões continuem a ter profissionais no lugar do condutor, caso seja necessária uma intervenção de emergência. Os camiões circularão em filas, que poderão ter, no máximo, três veículos. Com base no comportamento do camião na dianteira, os dois veículos de trás ajustam as respectivas velocidades e direcção.

Os camiões estarão conectados entre si, o que significa que têm acesso imediato à informação dos outros veículos (como uma travagem ou aceleração), em vez de usarem apenas sensores para detectar o que se passa em volta, como acontece com os carros autónomos que estão a ser desenvolvidos por várias empresas, desde a Waymo (do grupo do Google) a vários fabricantes tradicionais de carros.

Ter camiões a seguirem em fila nas auto-estradas tem também a vantagem de diminuir a resistência do ar para os veículos que seguem atrás, o que significa poupanças de combustível. Mas há quem teça objecções ao conceito. Citada pelo jornal The Guardian, a Associação Automóvel do Reino Unido argumentou que ter veículos pesados a seguirem juntos numa estrada poderá impedir os outros condutores de verem sinalização, bem como dificultar as entradas e saídas em auto-estradas.

A tecnologia não é nova e nos EUA já há camiões que fazem parte do percurso em piloto automático. Embora com menos atenção mediática que os carros do Google ou a tecnologia de piloto automático dos Tesla, os fabricantes de veículos pesados têm vindo a apostar neste género de tecnologia, com a ideia de aumentar a eficiência e segurança, e de reduzir custos para as empresas de transportes.

Já na Alemanha, um país com uma forte indústria automóvel que inclui marcas como a Volkswagen, Mercedes e BMW, o Governo delineou esta semana directrizes para um dos grandes desafios éticos dos carros autónomos, que tem preocupado especialistas e motivado vários estudos científicos: que decisões deve o carro tomar em caso de acidente iminente.

As regras, concebidas por um grupo de peritos em ética, legislação e tecnologia, determinam que um carro autónomo deve agir em todas as situações para poupar vidas humanas, mesmo que isso implique danos materiais ou matar animais. O comportamento pode parecer óbvio (até instintivo) no caso de um condutor humano, mas este tipo de regras precisam de ser programadas no software dos carros autónomos. De outra forma, estes poderiam acabar, por exemplo, por cumprir escrupulosamente todas as normas de trânsito, mesmo que isso significasse pôr em risco vidas.

“As interacções entre humanos e máquinas está a colocar novas questões éticas na era da digitalização e dos sistemas que aprendem sozinhos”, afirmou o ministro alemão dos transportes, Alexander Dobrindt, citado pela agência Reuters. “A comissão de ética do ministério é pioneira neste assunto e concebeu o primeiro conjunto de orientações para a condução autónoma.”

Abordando uma questão que alguns académicos têm analisado, os peritos decidiram também que os carros não poderão tomar decisões com base na idade, género ou condição física das possíveis vítimas.

Em caso de acidente inevitável, o carro deverá tentar poupar o máximo número de vidas. É uma regra que poderá não ajudar a vender a tecnologia junto dos consumidores. Um estudo publicado no ano passado indicou que a maioria das pessoas pretendia que os carros autónomos se comportassem de forma a provocar o mínimo número de vítimas em caso de acidente, o que poderia implicar sacrificar o condutor e passageiros – mas não estariam dispostos a comprar um carro programado para o fazer.

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