Quanto Mais Quente Melhor é a melhor comédia de sempre

Quem o diz são 253 críticos de 52 países, sondados pela BBC para escolher as cem melhores comédias de cinema. Chaplin e Lubitsch são os mais citados, numa lista que tem Woody Allen, os irmãos Marx, os Monty Python e Jacques Tati entre os dez mais

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O filme de Billy Wilder, com Marylin Monroe, Jack Lemmon e Tony Curtis, destacou-se numa lista simultaneamente consensual e eclética DR

253 críticos de todo o mundo, de académicos a freelancers, de revistas e jornais conceituados a sites de crítica online – foi a eles que a BBC foi perguntar quais eram os melhores filmes de comédia de todos os tempos, numa sondagem global que vai do Canadá ao Chile, da Palestina à Polónia, do Irão a Israel. E em primeiro lugar da lista vem... Quanto Mais Quente Melhor, um dos títulos mais lendários da comédia clássica americana, realizado em 1959 pelo mestre Billy Wilder, no qual Jack Lemmon e Tony Curtis, testemunhas do Massacre do Dia de São Valentim, se disfarçam de mulheres para fugir aos gangsters e passam a integrar uma orquestra feminina onde pontifica Marilyn Monroe. Em segundo lugar vem Dr. Estranhoamor, a sátira da Guerra Fria de Stanley Kubrick com Peter Sellers e George C. Scott (1964) e em terceiro Annie Hall, o filme que lançou finalmente Woody Allen para o reconhecimento mundial, em 1977.

Feita por críticos provenientes de origens muito diferentes, a lista é simultaneamente consensual e ecléctica. Basta ver os filmes que completam os dez mais, onde é possível que uma escolha evidente seja ao mesmo tempo surpreendente: O Feitiço do Tempo de Harold Ramis – Bill Murray condenado a repetir sempre o mesmo dia (nº 4); a anarquia dos irmãos Marx com Os Grandes Armazéns de Leo McCarey (nº 5), dos Monty Python com A Vida de Brian (nº 6) e dos americanos Zucker/Abrahams/Zucker (Aeroplano! em nº 7); a câmara lenta observacional de Jacques Tati (Playtime – Vida Moderna em nº 8); a sátira aos excessos do mundo do rock This Is Spinal Tap (nº 9) e o burlesco fundador de Buster Keaton (Pamplinas Maquinista em nº 10). E a lista não esquece outros nomes clássicos: Charles Chaplin e Ernst Lubitsch – “recordistas” de filmes na lista, com quatro citações cada um – George Cukor, Howard Hawks, Frank Capra, Mel Brooks, Preston Sturges…

Christian Blauvelt, um dos críticos da BBC Culture, dissecou os números e apontou que se a votação tivesse sido restrita aos críticos dos EUA e Canadá, Dr. Estranhoamor teria sido o vencedor. E, apesar de 52 países estarem representados na lista, o grosso dos filmes citados são americanos. Há Tati (três presenças - para lá de Playtime, também O Meu Tio e As Férias do Sr. Hulot), três italianos - os Gangsters Falhados de Mario Monicelli (nº 45), o Divórcio à Italiana de Pietro Germi (nº 77) e Amarcord de Fellini (nº 85) - e as Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos de Almodóvar (nº 50). E há até filmes que é questionável se são comédias - Toni Erdmann de Maren Ade, que tem também a “honra” de ser o mais recente dos cem filmes da listaPulp Fiction de Tarantino ou as duas citações de Luis Buñuel, O Charme Discreto da Burguesia e O Anjo Exterminador.

Seja como for, mesmo com uma lista de 253 críticos de 52 países (118 mulheres e 135 homens), é inescapável: a produção americana é de facto o “centro” da comédia cinematográfica, dos clássicos do mudo (Keaton, Chaplin, Harold Lloyd) às gerações mais recentes (os irmãos Farrelly, Ben Stiller, Trey Parker e Matt Stone aliás South Park, os “afilhados” de Judd Apatow como Paul Feig e Adam McKay). Não podia faltar o orgasmo fingido de Meg Ryan em Um Amor Inevitável, o xerife negro de Cleavon Little na Balbúrdia no Oeste de Mel Brooks, ou o travesti de Dustin Hoffman em Tootsie.

Mesmo assim, há lacunas inexplicáveis: o recém-falecido Jerry Lewis, um dos génios do cinema cómico, tem apenas dois filmes na lista - As Noites Loucas do Dr. Jerryl em nº 73 e O Homem das Mulheres em último lugar – e Blake Edwards, responsável por êxitos como 10 – Uma Mulher de Sonho ou a série da Pantera Cor-de-Rosa, tem um único título (mas que único – A Festa, em nº 23). Significativa é também a grande quantidade de comédias dos últimos 25 anos, e a ausência de clássicos do pós-guerra. Por exemplo, as populares comédias inglesas produzidas pelos estúdios Ealing estão praticamente ausentes – a excepção é Oito Vidas por um Título, de Robert Hamer, em nº 86.

Mas, no geral, e face à presença de clássicos como Casamento Escandaloso ou O Apartamento, não haverá muita gente a resmungar com a escolha – mais com a sua ordenação. O debate segue dentro de momentos.

OS 50 MAIS

1. Quanto Mais Quente Melhor (1959) de Billy Wilder

2. Dr. Estranhoamor (1964) de Stanley Kubrick

3. Annie Hall (1977) de Woody Allen

4. O Feitiço do Tempo (1993) de Harold Ramis

5. Os Grandes Armazéns (1933) de Leo McCarey

6. A Vida de Brian (1979) de Terry Jones

7. Aeroplano! (1980) de Jim Abrahams, David Zucker e Jerry Zucker

8. Playtime – Vida Moderna (1967) de Jacques Tati

9. This Is Spinal Tap (1984) de Rob Reiner

10. Pamplinas Maquinista (1926) de Clyde Bruckman e Buster Keaton

11. O Grande Lebowski (1998) de Joel e Ethan Coen

12. Tempos Modernos (1936) de Charles Chaplin

13. Ser ou Não Ser (1942) de Ernst Lubitsch

14. O Grande Escândalo (1940) de Howard Hawks

15. Monty Python e o Cálice Sagrado (1975) de Terry Gilliam e Terry Jones

16. O Grande Ditador (1940) de Charles Chaplin

17. As Duas Feras (1938) de Howard Hawks

18. Sherlock Holmes Jr. (1928) de Buster Keaton

19. As Três Noites de Eva (1941) de Preston Sturges

20. Balbúrdia no Oeste (1974) de Mel Brooks

21. Luzes da Cidade (1931) de Charles Chaplin

22. Frankenstein Júnior (1974) de Mel Brooks

23. A Festa (1968) de Blake Edwards

24. Withnail e Eu (1987) de Bruce Robinson

25. A Quimera do Ouro (1925) de Charles Chaplin

26. O Meu Tio (1958) de Jacques Tati

27. O Apartamento (1960) de Billy Wilder

28. Uma Noite Aconteceu (1934) de Frank Capra

29. Um Amor Inevitável (1989) de Rob Reiner

30. As Férias do Sr. Hulot (1953) de Jacques Tati

31. Tootsie (1982) de Sydney Pollack

32. Arizona Júnior (1987) de Joel e Ethan Coen

33. O Repórter: A Lenda de Ron Burgundy (2004) de Adam McKay

34. As Meninas de Beverly Hills (1995) de Amy Heckerling

35. Serenata à Chuva (1952) de Stanley Donen e Gene Kelly

36. Um Peixe Chamado Wanda (1988) de Charles Crichton

37. A Quimera do Riso (1941) de Preston Sturges

38. Casamento Escandaloso (1940) de George Cukor

39. Uma Noite na Ópera (1935) de Sam Wood

40. Por Favor Não Matem as Velhinhas (1967) de Mel Brooks

41. Borat (2006) de Larry Charles

42. Com a Verdade Me Enganas (1937) de Leo McCarey

43. MASH (1970) de Robert Altman

44. A Melhor Despedida de Solteira (2011) de Paul Feig

45. Os Gangsters Falhados (1958) de Mario Monicelli

46. Pulp Fiction (1994) de Quentin Tarantino

47. A República dos Cucos (1978) de John Landis

48. Ladrão de Alcova (1932) de Ernst Lubitsch

49. O Charme Discreto da Burguesia (1972) de Luís Buñuel

50. Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988) de Pedro Almodóvar

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