Efeito imprevisível

O atentado de Barcelona demonstra a globalização das vivências e ameaças e pode ter um efeito imprevisível na campanha de clausura nacionalista.

O brutal atentado de quinta-feira na Rambla, o passeio obrigatório para todos os que visitam Barcelona, implica um primeiro desafio. Sendo a capital catalã uma das zonas turísticas por excelência de Espanha é mais um teste à forma de vida do mundo de hoje. Se o turismo na Catalunha tivesse um recuo, se a multidão de nacionalidades que visitam Barcelona entrasse em debandada, seria a vitória dos mentores e executores da chacina.

Este é um lugar-comum após um atentado. Num país como Espanha que, desde 2015, se encontra no nível alto de risco de atentado terrorista, têm sido inúmeras as vitórias parciais no combate contra o jihadismo. Em 11 de Março de 2004, foram os comboios de Madrid o cenário da barbárie, na primeira acção de radicais islâmicos em solo europeu.

O atentado de quinta-feira decorre, porém, num ambiente peculiar da vida política catalã: o clima é de forte tensão nos últimos meses pela intenção de realização, a 1 de Outubro, de um referendo sobre a independência da Catalunha, considerado anticonstitucional por Madrid e pela maioria das forças políticas.

Não pode nem deve ser estabelecida uma relação de causa e efeito entre a febre nacionalista radical liderada pela Candidatura de Unidade Popular (CUP), que tem aumentado a sua influência na Generalitat  – o Governo Autónomo –  e o atentado na Rambla. Nem seria honesto equiparar a chacina da tarde de 17 de Agosto com os actos de vandalismo a pretexto da pressão turística, levados a cabo nas últimas semanas pela Arran, a organização juvenil da CUP.

Mas há uma incógnita. Saber se a insegurança que qualquer atentado suscita pode contaminar a já atribulada caminhada para a ruptura com Espanha, programada para 1 de Outubro. Há crescentes indicadores de que os catalães estão a virar as costas ao salto no escuro que lhes é proposto. O atentado demonstra a globalização das vivências e ameaças e pode ter um efeito imprevisível na campanha de clausura nacionalista, propagandeada com a semântica de muitos antis (anticapitalista, antiturística, antiespanhola…).

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