Na Alameda Turquesa, “mais é mais” com berloques e pompons

A marca de sapatos é a criação de uma dupla, mãe e filha. Ana Domingues e Carolina Santos deram forma às coloridas sandálias da Alameda Turquesa.

“Aleimêda” – é mais ou menos assim, reproduz Carolina Santos, que alguns americanos pronunciam o nome da marca portuguesa mais conhecida pelas suas sandálias com coloridos berloques. Em conjunto com a mãe, Ana Domingues, a jovem blogger começou há sensivelmente quatro anos a marca de acessórios Alameda Turquesa, que se afirma num segmento premium. Antes disso, era a Carolina do blogue de moda French Fries.

Tudo começou com uma pulseira que a mãe desenhou e que a filha usou numa das suas publicações. Em resposta aos vários pedidos recebidos, decidiu aventurar-se com a mãe num negócio. Começaram em pequena escala, com uma loja no Facebook, onde vendiam as tais pulseiras e em 2014 estabeleceram a empresa. Mas foram as sandálias rasas com pompons coloridos e tiras compridas que se cruzam nas pernas que deram notoriedade à marca. A colaboração com grandes nomes da indústria da moda, como Anna Dello Russo – que as contactou para usar as peças em editoriais e publicou fotografias com as sandálias nas redes sociais – e a blogger italiana do The Blonde Salad, Chiara Ferragni – que as colocou à venda no seu site –, ajudaram a alavancar a marca.

“Temos clientes nos pedem para ajudar a soletrar [Alameda Turquesa], é muito engraçado”, conta Carolina. O “Turquesa”, esse, já “dizem bem”, continua. O nome da marca é inconfundivelmente português, mas é sobretudo para o estrangeiro que grande parte (aproximadamente 94%) das encomendas vai. Vendem sobretudo do próprio site e estão também presentes em lojas como a ShopbopBloomingdale’sVestiaire Collective e ainda no site de Chiara Ferragni. “Queríamos mesmo assumir que era português”, explica Carolina. 

Com o crescimento repentino e explosivo da procura, tornou-se imperativo para a Alameda Turquesa manter a identidade, aponta. Por outras palavras, não trocar valores como a estética e o design por qualquer proposta que lhe aparecesse à frente. É importante saber dizer “não” a “contactos que às tantas [podem levar-nos], nem que não seja por mal, [a] fugir àquilo [em] que acreditamos”, explica a jovem blogger e empresária. “Tivemos de escolher cuidadosamente onde queríamos estar, onde é que nos queremos posicionar”, exemplifica.

“Aconteceu tudo muito rápido”, recorda Carolina. “Normalmente as marcas têm uma fase – acho que é à volta de cinco anos – até serem conhecidas, até pessoas famosas começarem a usar, até terem interesse para saírem em editoriais. Connosco não aconteceu [assim]. Ainda não tínhamos loja online e fomos contactadas pela Anna Dello Russo para fazer um editorial da Vogue Japão”. 

Carolina diz que este ano esperam duplicar a facturação, sem revelar valores concretos. A consistência na qualidade dos produtos e a interacção com os clientes através das redes sociais – como o Instagram, onde somam quase 100.000 seguidores – são dois dos grandes trunfos na estratégia de crescimento da marca. “Tem sido muito positivo, porque temos tido o apoio das pessoas que gostam genuinamente de nós e que partilham as nossas coisas”, aponta Carolina. “Queremos continuar a crescer muito online.”

A marca afirma-se decididamente num segmento premium, com peças feitas à mão numa fábrica do Norte de Portugal. Cada par de sapatos representa em média quatro a cinco horas de trabalho. Os preços variam entre os 100 euros (pulseiras) e 535 (botas). 

Mais do que berloques

No que toca ao uso de berloques no calçado, as peças da Alameda Turquesa foram pioneiras e estão, como se diz em Inglês, on trend. Nas colecções das grandes marcas internacionais há desde malas com pompons – como aquela que Karl Lagerfeld lançou na colecção de Outono/Inverno de 2013, com um berloque criado à sua imagem, o Karlito – a peças de roupa com todo o tipo de adornos.

Mas não significa que a marca esteja condenada a um prazo de validade, como as fugazes tendências de moda. As duas fundadoras da Alameda Turquesa já provaram, aliás, que é possível criar peças diferentes que tenham tanto sucesso quanto as originais. Em Janeiro, lançaram os primeiros ténis, enfeitados com borlas e laços, cujo “nível de venda” foi idêntico ao do seu produto icónico. 

As peças que hoje melhor representam a Alameda Turquesa são as sandálias coloridas, mas, acima de tudo, o que define a identidade da marca é o elemento de diversão estampado em cada produto. Nas palavras de Carolina, os sapatos Alameda Turquesa são aqueles que “mudam completamente o [conjunto] que se está a vestir”. Mais do que cingir-se a peças com berloque e pompons, “a nossa marca vai sempre incidir nos pormenores, e sempre em alguma coisa diferente”, resume.

Curiosamente, está estética folclórica e colorida é a antítese daquilo que Carolina admira na arquitectura – a sua área de formação académica. Daquilo que aprendeu na faculdade, estava sempre intrínseco o valor de que, citando, Mies van der Rohe, “mais é menos”. “Às vezes brinco com a minha mãe que, na Alameda Turquesa, mais é mais”, partilha. “Mesmo a vestir-me sempre fui muito divertida, [sempre usei] muitos padrões. Tenho fotografias em pequenina, [em] que estou cheia de cores, dos pés à cabeça – a influência já vem [da minha mãe].”

A empresa – hoje com uma equipa de cinco pessoas – está sediada em Coimbra, cidade de origem da família. Tem também escritório no Porto. Carolina está à frente do marketing e a mãe é quem desenha as peças. “Divertimo-nos tanto a criar, a pensar e a trabalhar todos juntos que isso se reflecte nos nossos sapatos”, revela.

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