Num país de contrastes: a ciência e a técnica na gestão profissional de uma floresta sustentável

As universidades do interior podem e devem desempenhar um papel fulcral no novo paradigma das florestas e da sua gestão.

Num tema tão importante e indiscutivelmente abrangente, onde a floresta dispensa querelas políticas e onde facilmente os acordos de regime deviam ser possíveis, importa quebrar o enguiço sobre uma visão de futuro para o espaço abandonado que vamos desprezando e do qual nos lembramos apenas nos períodos de Verão e quando as desgraças nos obrigam a olhar para ele. Este é um tema sem cor política. Este é um tema cuja escala temporal de análise é sempre a de longo prazo que não se coaduna com mudanças de governos ou agendas políticas. Este é um tema técnico. Este é um tema de união entre os portugueses, porque da capacidade de lidar com ele depende muito do que será o futuro de Portugal.

É indiscutível que o desenvolvimento equilibrado só pode resultar do investimento na educação e em ciência. A Engenharia Florestal acarreta em si mesmo todas estas preocupações. Ela constitui em si mesma um reflexo destes contrastes, entre as oportunidades e os problemas que gere. As oportunidades ao conhecimento e à técnica que são fundamentais para gerir os contrastes da nossa floresta, para diminuir riscos e aumentar oportunidades, para criar pontes entre visões distintas, para tornar Portugal um país mais eficiente. A oportunidade associada ao conhecimento científico por aplicar, associado à vontade de sair das universidades e ir para o terreno trabalhar com os proprietários, os decisores públicos, os utilizadores destes produtos. Os problemas associados à incapacidade de aproveitar eficazmente esta fonte de conhecimento e o desígnio que tem, em contribuir e ser útil ao país, à economia, à sustentabilidade. Os problemas associados à necessidade de gerar uma dinâmica que transforme esta área de conhecimento cada vez mais atrativa e inspiradora de jovens que se querem tornar úteis às gerações vindouras, desde logo numa resposta de um período temporal quase imediato.

A floresta constitui-se indiscutivelmente como um dos recursos mais importantes do país, num contraste entre as monoculturas e uma diversidade de paisagens, entre o Norte e o Sul, que nos enriquece. Este é um país de contrastes. Desde logo o contraste entre esta diversidade das paisagens e a excessiva simplicidade de muita da floresta que encontramos.

O contraste entre a visão de oportunidade e de riqueza e as ameaças, como se viu recentemente com os exemplos de Pedrogão Grande e de Alijó. O que poderia e deveria ser fonte de riqueza (pela madeira produzida, pela biodiversidade animal e vegetal que suporta, pelas atividades de turismo, pela importância na regularização dos regimes hídricos, pela contribuição para a fixação de carbono, etc.) e os problemas que acarreta pela sua não gestão.

O contraste entre a aparente surpresa com que estes problemas surgem e a perceção que se podem repetir se nada for feito para inverter esta situação. O contraste entre o discurso e prática que negligenciam a transferência da técnica para a gestão tornando mais seguros estes espaços e potenciando todas as oportunidades. O contraste entre a forma como se privilegia o combate em detrimento da silvicultura preventiva, logo da gestão. O contraste entre a investigação que se vai fazendo, e a aceitação para a sua aplicabilidade. O contraste entre um litoral mais urbano, cuidado e mais reivindicativo e um interior mais abandonado e mais rural, silencioso e pouco exigente mas tão intimamente interligados.

É deste interior mais profundo que reforço o papel das instituições de ensino superior do interior, que compreendem melhor do que ninguém este potencial e os constrangimentos anteriores. Estas estruturas de conhecimento podem e devem desempenhar um papel fulcral no novo paradigma das florestas e da sua gestão. A Engenharia Florestal constitui-se como alavanca de conhecimento desta nova visão desejada. A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), e em especial o seu Departamento de Ciências Florestais e Arquitectura Paisagista, um dos pilares da investigação e do ensino Florestal em Portugal, estará sempre disponível para reforçar esta visão integradora da floresta.

O autor escreve segundo as normas do novo Acordo Ortográfico

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