20 anos depois de Felgueiras, Filipe Teixeira reencontra Jorge Jesus

Trabalharam juntos há duas décadas, mas esta noite são adversários no duelo do Sporting com o Steaua Bucareste, da primeira mão do play-off da Liga dos Campeões

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FC Steaua Bucuresti/DR

Um treinador em início de carreira e um adolescente que dava os primeiros passos no futebol. Há 20 anos, os destinos de Jorge Jesus e Filipe Teixeira cruzaram-se no Felgueiras, onde o técnico chamava a jovem promessa para treinar com regularidade junto da equipa principal. Esta noite vão ser adversários na primeira mão do play-off de acesso à fase de grupos da Champions: o Sporting defronta o Steaua Bucareste (19h45, RTP1) e, apesar de ter saído lesionado no jogo do fim-de-semana, Filipe Teixeira viajou para Lisboa com a equipa. O duelo de Alvalade é o pretexto para uma conversa do médio português de 36 anos com o PÚBLICO, onde fala do orgulho por ter sido eleito o melhor jogador estrangeiro a actuar na Roménia em 2016 e dos tempos em que foi companheiro de equipa de Ronaldinho Gaúcho.

Chegou a coincidir com Jorge Jesus no Felgueiras?
Sim, eu tinha 16 anos e ele era treinador da equipa principal. Ainda cheguei a treinar com ele bastante tempo. Eu era juvenil mas já tinha contrato profissional e, aos 16 anos, ia treinar aos seniores. Lembro-me bem dele, apesar de não treinar com a equipa principal todos os dias. Mas quando era necessário chamavam-me.

E como é que ele era enquanto treinador?
Já era parecido com o que é hoje. É evidente que evoluiu bastante, tem novos métodos. Lembro-me de jogar contra equipas dele, quando eu estava na Académica, e é um treinador que gosta muito de futebol, percebe muito de futebol e não é por acaso que está onde está. Nos últimos anos treinou as equipas que treinou.

Como é que vai ser este jogo com o Sporting?
Vai ser difícil. A equipa do Sporting não precisa de apresentações. Tem um plantel recheado de jogadores de qualidade, jogadores de selecção. Cobiçados pelos maiores clubes europeus. Nós esperamos fazer um bom jogo em Alvalade para podermos no segundo jogo, em casa, chegar à qualificação.

Qual foi a reacção ao sorteio do play-off, quando souberam que iam jogar com o Sporting?
Toda a gente conhece a dimensão do Sporting a nível europeu. É uma equipa muito forte. Tendo em conta que tínhamos como possíveis adversários equipas como o Liverpool, o Sevilha, ou o Nápoles, era um dos clubes teoricamente poderia ser mais acessível. Teoricamente. Não era o pior que podia acontecer, mas sabemos de antemão que será difícil. O Sporting é uma equipa de ataque, que impõe um futebol de grande pressão e intensidade. Mas estamos preparados e queremos obter um bom resultado.

Comparativamente ao ano passado, o Sporting está mais forte ou mais fraco?
Vi um bocado do jogo com o V. Setúbal e é uma equipa forte, que impõe um grande ritmo no jogo. Houve algumas mudanças, nomeadamente na defesa. Mas o Jorge Jesus consegue sempre colocar as equipas a praticar um bom futebol, principalmente no início da época. Vai ser difícil, mas temos de estar optimistas para fazer um bom resultado em Alvalade e depois em casa ter a esperança de poder chegar à fase de grupos da Champions.

Jogar em Alvalade motiva a equipa?
Só tivemos tempo para pensar no Sporting depois do jogo de sábado. Temos feito muitos jogos: jogamos de três em três dias, é uma situação que me deixa perplexo. Jogámos no domingo, na quarta, no sábado e agora jogamos na terça-feira [hoje]. Depois vamos outra vez jogar no fim-de-semana. Parece-me que a Federação e a Liga não estão muito preocupadas com as equipas que estão nas competições europeias. É demasiado, desde o início da época que estamos a jogar de três em três dias.

Em 2016 foi eleito o melhor jogador estrangeiro a actuar na Roménia. O que significou esse prémio?
É um reconhecimento, apesar da minha idade – e eu não gosto muito de falar na minha idade – daquilo que eu faço dentro de campo. As coisas aqui têm-me corrido bem e sou acarinhado pelas pessoas. Penso que é um prémio merecido. Estou na Roménia há pouco mais de cinco anos e as coisas vão correndo bem.

Já está mais do que adaptado.
Sim, sim. Estou claramente adaptado ao futebol romeno, à cultura. Não é muito diferente, há algumas parecenças com a nossa. Estou bem, sou feliz aqui, e é importante continuar a poder competir a este nível. No ano passado [pelo Astra Giurgiu] estive na fase de grupos da Liga Europa, este ano gostava de entrar na fase de grupos da Liga dos Campeões.

Já passou por vários clubes na Roménia, agora representa o Steaua, um histórico. Quais são as principais diferenças em relação aos outros?
A principal diferença é a nível de condições. É um clube grande, nota-se pelas condições que oferece aos jogadores em tudo. Aquilo que o Benfica, FC Porto ou Sporting são em Portugal, aqui é o Steaua. A nível de condições é do melhor que pode encontrar-se na Roménia.

Como é o futebol romeno? É parecido ao português?
Nos últimos anos a crise sentiu-se no futebol e até houve equipas que desapareceram, como o Rapid Bucareste ou o Politehnica Timisoara. Isso reflecte-se no que é o futebol romeno hoje. Houve uma crise e, com todos estes problemas, o nível baixou. Mas no último ano as coisas melhoraram. Por exemplo, com o Astra Giurgiu, eliminámos o West Ham duas épocas consecutivas nas pré-eliminatórias da Liga Europa. Isso quer dizer alguma coisa. As equipas têm potencial.

Há dez épocas consecutivas que está no estrangeiro. Nunca houve a possibilidade de regressar a Portugal?
Não se proporcionou. Não é não querer voltar, mas não se proporcionou. Tenho 36 anos, para voltar a Portugal não é fácil. E aqui as pessoas vão-me vendo jogar dia a dia, vão vendo como estou fisicamente. E por isso estou no Steaua.

Ainda muito novo, aos 22 anos, jogou no Paris Saint-Germain. Que memórias tem dessa altura?
Era óptimo, trabalhei com excelentes jogadores, com quem aprendi muito. Ronaldinho Gaúcho, Pauleta, Hugo Leal... A qualidade dos jogadores que faziam parte da equipa faz-te aprender qualquer coisa todos os dias. É um clube grande, as condições eram excelentes. Paris é mágica e é um clube especial.

Imaginava que o PSG viesse a tornar-se aquilo que é hoje?
Sinceramente, sim. O clube e a cidade mereciam o que está a acontecer agora, ter investidores a apostarem muito forte. É uma das principais capitais da Europa, a nível de adeptos tem o estádio cheio em todos os jogos. É um clube enorme e merecia este tipo de investimento, para ter a equipa a lutar pela Liga dos Campeões.

Enquanto futebolista, como é que vê que um clube gaste 222 milhões num jogador, como o PSG fez com o Neymar?
O futebol tornou-se um negócio, há um marketing muito forte hoje em dia. Com certeza que em pouco tempo o PSG terá o retorno daquilo que pagou pelo Neymar. Se deram esse dinheiro é porque vão ganhar com isso. Há o aspecto dos direitos televisivos. E a Federação francesa e o campeonato francês também vão ganhar com isso. Chegou-se a um ponto em que tudo é possível, é negócio. É óbvio que, se me perguntarem se um jogador vale tanto dinheiro, diria que não. Mas estamos a falar de marketing e, nesse aspecto, é um investimento que vale a pena por aquilo que a imagem do jogador envolve.

Passou pelas selecções sub-18, sub-20 e sub-21. Gostava de ter tido uma oportunidade na equipa A?
Quando estava na Académica chegou-se a falar numa possível chamada, mas não era tão simples quanto isso, por ser um jogador de uma equipa de dimensão menor, ser chamado à selecção. Tenho consciência que era complicado, em função dos jogadores que estavam na selecção. Não aconteceu porque talvez não tivesse de acontecer. E sempre estivemos muito bem servidos. É evidente que seria um orgulho para mim, mas não aconteceu.

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