Duplo homicídio, em tempo de festa

Mãe e filha foram baleadas na cabeça enquanto dormiam. O pai ficou gravemente ferido. O filho é o principal suspeito. Mas nega crimes.

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Casa onde foram encontradas as vítimas HOMEM DE GOUVEIA/LUSA
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Polícia Judiciária da Madeira está a investigar o duplo homicídio HOMEM DE GOUVEIA/LUSA

Passariam poucos minutos da meia-noite quando pelo menos três tiros, do que a Polícia Judiciária (PJ) pensa ser de uma caçadeira, terão ecoado em Santana, uma pequena cidade rural da Madeira. Manuel, Ana e Maria, foram atingidos na cabeça, enquanto dormiam na cama. As duas mulheres morreram no local, e o homem, transportado de urgência para o Hospital Dr. Nélio Mendonça, no Funchal, ficou em estado crítico. Assim continuava à hora do fecho desta edição.

Era uma tradição da família. Todos os anos, em Julho e Agosto, regressavam de França para apagar as saudades dos que deixaram para trás. As férias de uma vida de trabalho feita a limpar casas mais abastadas do que a deles eram sempre marcadas para bater certo com as festas da freguesia. Este ano voltou a ser assim. Manuel, de 78 anos, e Ana, de 74, vieram de França com o filho mais novo, Emanuel, de 40. A outra filha, Maria, de 53, chegou do Algarve — com o filho —, onde a família tinha investido as poupanças em imobiliário. Emiliano, de 51, já estava em Santana, onde residia na casa dos pais, no sítio das Queimadas e Fontes, bem no centro da cidade, depois de uma experiência mal-sucedida em França.

Foi o filho de Maria quem deu de caras com as vítimas. Estava com o tio Emanuel num café nas proximidades, quando decidiu ir a casa antes de seguir para a festa. Chamou polícia e bombeiros. “Quando chegámos, não sabíamos onde estava o suspeito, nem se estava armado”, conta ao PÚBLICO o comandante dos Bombeiros Voluntários de Santana (BVS), José António Freitas, explicando que as três vítimas estavam deitadas na cama. O “suspeito” de que fala José Antonio Freitas é Emiliano, que viria a ser detido ainda de madrugada num pub, nas proximidades do local do crime, por elementos da PSP, que acorreram em força e número a Santana, vindos dos concelhos vizinhos. Contam testemunhas citadas pela imprensa local que Emiliano estava embriagado, mas calmo. Não resistiu, estava desarmado.

Ao longo do dia de ontem a polícia varreu a zona à procura da caçadeira. Interrogou o suspeito, que terá negado a autoria dos disparos. Falou com vizinhos e familiares, e remeteu para hoje mais esclarecimentos de um caso que chocou não apenas Santana, como toda a ilha.

Desde o início do ano, este é o quinto homicídio na Madeira. O segundo envolvendo armas de fogo, que fizeram um total de seis vítimas.

José António Freitas é vizinho e amigo da família. Foi ele quem “orientou” as obras da casa amarela, enquanto o casal trabalhava em França. É dele uma das tantas vozes incrédulas, de uma cidade com menos de quatro mil almas. “Ele [o suspeito] tinha regressado a Santana havia uns cinco anos. Teve alguns episódios de conflitos em bares e assim, mas nada fazia prever esta tragédia.” Ricardo Teixeira, presidente da junta de freguesia local, confirma. “Fazia alguns biscates e cuidava dos terrenos.”

As festas em honra da padroeira do concelho, de que Ana era devota — “todos os anos dava dinheiro para o arraial” —, vão continuar, mas ensombradas pelo duplo homicídio.

O móbil do crime terá sido questões financeiras relacionadas com heranças.

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