Cartas ao director

Carta a Miguel Torga

Caro Amigo e Mestre, nasceste há já 110 anos! E, estranhamente (?), Portugal mudou tão pouco! Contudo, a tua mãe (que garantia que lhe tinhas falado quando ainda estavas na sua “barriga”) acreditava que vinhas para mudar muito do que estava errado. De facto, tu, “sinaleiro da esperança”, deixaste-nos uma sinalética de enorme qualidade. Repara em três “respostas eternas às perguntas do mundo” que nos legaste:

— Há “carvalhos, e velhos castanheiros,/ A cuja sombra um dormitar celeste/ Pode tornar os sonhos verdadeiros”;

— “Viver é ser no tempo intemporal/ É nunca, a ser o mesmo, ser igual/ É encontrar quando nada se procura”;

— Só há uma lepra humana pior do que o despotismo: a cobardia. [...] A vida faz-nos sempre a mesma exigência: o exercício quotidiano da coragem e do risco.”

Portugal é, e tu tinhas plena consciência disso, o país do “Quasi”. Temos um assombroso património geográfico, histórico e literário, mas continuamos, em inúmeros aspectos, a ser um “Portugalinho” (Eugénio Lisboa).

É urgente sabermos explorar com mestria a máxima camoniana segundo a qual é imprescindível sabermos “o como, o quando e onde as coisas cabem”. Quanto à tua obra, e no que me diz respeito, penso que já a conheço suficientemente bem. Tem-me, contudo, faltado a arte (e a coragem?) de conseguir persuadir políticos, académicos, jornalistas e agentes de viagens de que vale a pena pegar no teu legado. “Orfeu Rebelde”, prometo-te continuar a trabalhar. Tu dizias: “O futuro é o meu reino,/ E eu caminho.” Assim será! Não desesperes!

José Cymbron, Lisboa

Habitação: será desta?

As informações que o PÚBLICO nos transmite da entrevista do ministro responsável pela Habitação dão-nos esperança que finalmente não haja casas vazias a degradarem-se e que as classes com menos posses tenham possibilidade de encontrar um lar correspondendo às suas necessidades. Não é com bairros sociais que se resolve a falta de casas no mercado de arrendamento e se dá aos portugueses a mobilidade necessária aos empregos que se vão encontrando, às escolas ou até ficar mais perto de familiares. Claro que os senhorios têm direito a receberem um rendimento da sua propriedade, mas a habitação pública deve ser alargada para aquilo que o ministro chama de “arrendamento acessível”. Vamos a ver se será desta que Lisboa e muitas outras cidades terão os seus centros reabilitados e animados por gentes que ali moram e ali vivem.

Maria Clotilde Moreira, Algés

Prestação Social para a Inclusão

A criação da Prestação Social para a Inclusão (PSI) é da mais elementar justiça. Contudo, os componentes para a atribuição são restritivos: “incapacidade igual ou superior a 80% e idade igual ou superior a 18 anos e inferior a 55 anos, ou pessoas com idade entre os 55 anos e a idade normal de reforma, certificados através de atestado médico de incapacidade multiuso”. A atribuição do PSI independentemente do nível de rendimento prova que o Governo é de todos os portugueses. Contudo, se a avaliação da incapacidade for feita por médicos que consideram aptos para trabalhar pessoas incapazes, o PSI fica no congelador.

Ademar Costa, Póvoa de Varzim

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