A falsa voz

A alta voz é típica de certas pessoas exibicionistas que não suportam uma conversa a dois porque têm um público de apenas uma pessoa.

É incrível a enorme quantidade de fios, cabos e adaptadores que ainda são necessários. Os cabos, para mais, são feios e monótonos. Quando é que se vai inventar uma alternativa?

Todos os anos saem telemóveis mais elegantes e inteligentes mas todos precisam de cabos fatelas e frágeis que irritantemente não são universais, vendidos a preços de ladroagem. Imagine-se que cada marca de electrodomésticos tinha um cabo específico para ligar à electricidade. Por quantos anos mais será preciso escrever “carregadores” na lista das coisas para levar para as férias?

Outro barrete é a chamada “função alta voz”, cujo som é pior do que o de um rádio de pilhas dos anos 60. Como é que se consegue ampliar tão mal?

A alta voz é típica de certas pessoas exibicionistas que não suportam uma conversa a dois porque têm um público de apenas uma pessoa. Nunca pedem licença: “Vou pôr-te em alta voz!”, dizem, com a mesma entoação com que diriam “estou a transferir cem mil euros para a tua conta!”

De repente mergulhamos naquele mundo fake em que toda a gente é obrigada a falar para a geral, trocando saudações ocas e falsos sentimentos: “Olá! Sabes quem é? Não estás a conhecer? É o Choupa! Sou eu outra vez: não sabes quem é o Choupa? Ó pá, não digas palavrões que os miúdos também estão a ouvir!”

Há pessoas que até pensam em alta voz. Em lugares públicos declamam a lista das tarefas daquele dia: “Queria ver se ia às finanças antes do meio-dia porque à tarde não posso. Tenho cá o meu sogro e combinei levá-lo à...”

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