Candidaturas ao superior voltam aos níveis anteriores à crise

Este é o terceiro ano mais concorrido desde o início do século. Há 52.579 alunos candidatos. É mais do que os lugares que universidades e politécnicos têm disponíveis. É preciso repensar a oferta?

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Miguel Manso

Há 52.579 estudantes que pretendem entrar num curso superior público no próximo ano lectivo. O número de candidatos à 1.ª fase do concurso de acesso, cujo prazo de submissão terminou à meia-noite desta quarta-feira, é o terceiro mais elevado desde o início deste século. O aumento da procura por um lugar numa universidade ou instituto politécnico confirma-se. E regressa, assim, aos níveis que eram registados antes da crise financeira.

“Estamos a voltar aos registos que deveriam ser os normais”, diz o presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores (CCISP), Nuno Mangas, sintetizando uma ideia partilhada pelos vários representantes do sector ouvidos pelo PÚBLICO.

Apenas em 2008 (53.451) e 2009 (52.812) houve mais concorrentes do que este ano. Esses anos marcaram, de resto, uma viragem na procura do ensino superior, que esteve intimamente ligada à crise financeira. O número de candidatos atingiu o máximo deste século em 2008, tendo depois descido consecutivamente até 2013, ano em que se registaram 40.785 submissões.

A procura de um lugar numa universidade ou politécnico encetou uma recuperação gradual nos quatro anos seguintes. O aumento acumulado do número de candidatos ao ensino superior entre 2013 e 2017 é de 28,9%, fazendo regressar a procura aos valores registados antes da crise.
 
Face a 2016, o crescimento do total de candidatos este anos cifra-se em 5,9%, revelam as estatísticas publicadas pela Direcção-Geral do Ensino Superior no seu site. “É fruto da recuperação económica do país”, avalia a presidente da Federação Académica do Porto (FAP), Ana Luísa Pereira. As famílias “estão mais optimistas”, sustenta a dirigente associativa, “e quando estão mais optimistas, procuram mais o ensino superior”.

O presidente da Comissão Nacional de Acesso ao Ensino Superior, João Guerreiro, defende que a recuperação se dá também ao nível da “confiança das famílias” nos méritos do investimento em formação.

Outros dois factores terão também ajudado: por um lado, o alargamento da escolaridade mínima obrigatória para o 12.º ano, que tem colocado um maior número de estudantes em condições de prosseguirem estudos para o ensino superior.

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Por outro, neste ano lectivo, houve uma melhoria nos resultados dos estudantes nos exames do ensino secundário em disciplinas como Matemática e Português, dois dos que são mais frequentemente requisitados como provas de ingresso pelas instituições superiores.

Mais procura do que vagas

O total de candidatos ao ensino superior para o próximo ano lectivo é mais elevado do que as 50.838 vagas que foram colocadas a concurso pelas universidades e politécnicos. É a primeira desde 2009 que o número de alunos que pretende entrar num curso superior suplanta a oferta existente.

Esta divergência vai obrigar o Governo e as instituições a reflectir, defende a presidente da FAP, Ana Luísa Pereira: “Não basta dizermos aos estudantes para virem para o ensino superior, também temos que garantir que todos os que têm essa intenção entram.”

O presidente do CCISP defende “prudência” quanto a um eventual aumento do número de vagas no próximo ano, sobretudo porque os responsáveis já sabem que “dentro de três a quatro anos”, vão começar a sentir-se as consequências da quebra demográfica ao nível do ensino superior.

António Cunha, do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, concorda com a postura do homólogo dos politécnicos, mas admite que a realidade da procura evidenciada este ano vai colocar em causa “pelo menos o congelamento de vagas”.

Esta regra tem vigorado nos últimos anos e impede as instituições de abrirem mais lugares nas licenciaturas e mestrados integrados, salvo excepções, como as que vigoram este ano para as áreas de Informática e Física.

“O país está deficitário em formação em determinadas áreas, não conseguindo dar resposta à procura que há no mercado de trabalho, e isso não pode acontecer”, defende António Cunha.

Os mais de 52 mil candidatos ao ensino superior conhecem o seu futuro a 11 de Setembro, dia em que são divulgadas as colocações. O processo de entrada nas universidades e politécnicos públicos apenas ficará concluído a 13 de Outubro, quando forem conhecidos os resultados da 3.ª fase.

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