Traficantes lançam migrantes ao mar ao largo do Iémen

Uma centena de pessoas terão morrido afogadas nos últimos dois dias. OIM fala no surgimento de uma "nova tendência".

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Funcionários da OIM falam com sobreviventes da travessia nas praias do Iémen OIM/Reuters

Cerca de uma centena de migrantes oriundos da Etiópia e Somália, muitos deles adolescentes, morreram afogados nos últimos dois dias ao largo do Iémen, depois de terem sido forçados pelos traficantes que os transportavam a lançar-se ao mar ainda longe da costa.  

O primeiro dos casos denunciados pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), que falou com sobreviventes, aconteceu quarta-feira. Ao avistarem embarcações que pensaram ser da guarda-costeira os tripulantes forçaram os cerca de 120 ocupantes do barco que pilotavam a atirar-se ao mar. Pelo menos 50 morreram, diz a organização, que encontrou 29 corpos nas praias da região de Shabwa. O mesmo cenário repetiu-se menos de 24 horas depois, desta vez com um barco onde seguiam 180 pessoas, das quais 55 não terão conseguido chegar à costa.

“Pode ser o início de uma nova tendência. Eles abandonam os migrantes junto à costa e dão a volta para ir buscar mais”, disse à Reuters Laurent de Boeck, chefe de missão da OIM no Iémen, onde desde o início do ano chegaram já mais de 55 mil migrantes, apesar da guerra e da crise humanitária que devasta o país.

Esta rota tornou-se popular entre os migrantes dos países do Corno de África por ser mais barata do que outras que conduzem à Europa, apesar dos riscos elevados – além da perigosa travessia nas águas agitadas do golfo de Áden e do mar Vermelho, muitos dos que conseguem chegar ao Iémen, na esperança de atingir as monarquias do Golfo, acabam por cair nas mãos de grupos criminosos.

“O desrespeito pela vida humana destes traficantes, tal como o de todos os traficantes de pessoas, é imoral”, disse ao jornal britânico Guardian o director-geral da OIM, William Lacy Swing. “Quanto é que vale a vida de um adolescente? Nesta rota para os países do Golfo pode ser tão pouco como cem dólares.”

Laurent de Boeck diz que muitos dos migrantes estão subnutridos por causa da fome e da seca que atinge há anos os seus países, o que torna ainda mais difícil que consigam nadar até à costa, e explica que muitos deles são enganados pelos traficantes, não sabendo sequer que o Iémen está em guerra. “Às vezes não acreditam quando lhes explicamos. Só por chegarem aqui acreditam que estão a meio caminho da prosperidade”, diz, acusando os traficantes de, depois de lhes venderem falsas promessas, os atirarem para a morte.

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