A armadilha

Quanto mais despachamos, mais temos para despachar depois. O trabalho expande-se para ocupar a nossa disponibilidade.

Começa assim: primeiro, faz-se uma coisa de cada vez. Um almoço. Um trabalho. Uma empreitada. No dia seguinte começa-se outra vez do zero. Até chegar o dia - nunca tarda muito, infelizmente - em que se decide aproveitar fazer duas coisas ao mesmo tempo. Dois almoços. Dois trabalhos. Duas empreitadas.

Leva mais tempo e dá mais trabalho, claro. A atracção fatal é "já ficar feito". E, no dia seguinte, é, de facto, maravilhoso. O trabalho já está feito desde ontem. Fica-se com um pequeno feriado. Sabe bem...

Sabe tão bem que se decide levar as coisas ainda mais longe. No dia seguinte, em vez de fazer só um ou dois almoços, fazem-se três. Não leva três vezes mais tempo - mas quase. É um investimento. Pensa-se nos dois dias sem fazer nada que estamos a comprar com o nosso trabalho extra.

Nunca se pára em três. Vai-se sempre ao limite. Até que se está a gastar um dia inteiro a fazer almoços e jantares para uma semana. Durante os próximos 6 dias podemos descansar. Mas descansamos?

Todos os dias aproxima-se mais o dia de fazer comida para toda a semana. Esse dia torna-se insuportável - e parece recorrer cada vez mais depressa. Até que se tem saudades dos tempos em que só se fazia um almoço de cada vez. E o resto do dia ficava magicamente livre...

Isto é assim com todos os trabalhos da vida. Quanto mais despachamos, mais temos para despachar depois. O trabalho expande-se para ocupar a nossa disponibilidade. E não há uma maneira ideal de fazê-lo. Só a ilusão é que fica, para nos atormentar.

 

 

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