O que é a dark web?

Perguntas e respostas sobre uma parte mais obscura da Internet, frequentemente usada para actividades criminosas.

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A Europol descreve a rede como uma das maiores ferramentas dos criminosos online Reuters/KACPER PEMPEL

As autoridades italianas divulgaram há poucos dias o caso de uma modelo britânica raptada em Julho, em Milão, para ser leiloada online, na chamada dark web. O criminoso acabou por desistir do esquema e entregou a vítima no consulado britânico, depois de o leilão ser ignorado (ninguém fez uma oferta). Em Março, a Europol, o serviço europeu de polícia, classificou esta parte da Internet como uma das maiores ferramentas dos criminosos, descrevendo-a como o motor da criminalidade organizada na União Europeia.

O que é a dark web?

Uma pequena parte da World Wide Web, infame por ser utilizada por visitantes do mercado negro online. Resume-se a um conjunto de redes encriptadas (conhecidas como darknets) que estão intencionalmente escondidas da Internet visível através de sistemas de encriptação.Como tal, não se encontram sites da dark web através de pesquisas em motores de busca, ou ao escrever o endereço de IP em browsers normais.

É díficil encontrar a origem do conteúdo alojado nestas redes, visto que apenas podem ser acedidas através de software e configurações específicas. “A dark web pode ser vista como uma máscara da actividade ilegal na Internet”, diz Jorge Alcobia, director executivo da Multicert, uma empresa de segurança informática portuguesa. “É o contrário da chamada Internet visível, em que se conhecem os certificados de segurança, credenciações e máquinas utilizadas. Na dark web, os servidores, o domínio e a origem da informação são disfarçados, tornando-se um sítio apelativo a criminosos.”

A dark web foi alvo de atenção mediática em 2015, quando os dados extraídos do ciberataque ao site Ashley Madison (uma rede social para ajudar pessoas interessadas em trair os parceiros) foram aí disponibilizados.

É o mesmo que a deep web?

Não. A dark web é uma pequena parte da deep web que, por sua vez, inclui todos os sites da Internet que não se podem encontrar através dos motores de busca. Integra informação online escondida por palavras-passe, ou que apenas pode ser acedida através de software específico. Muitos dos conteúdos da deep web não têm nada de ilegal.

O que se encontra na dark web?

Conteúdo ilegal, mas não só. Várias pessoas – agências segurança, autoridades, activistas a lidar com informação sensível e jornalistas – utilizam a dark web porque oferece uma camada de segurança extra que cobre a sua identidade, e permite maior segurança e privacidade. Porém, a rede é conhecida pelos mercados negros online, onde se podem comprar drogas, documentos ilegais, serviços de assassinato, e pornografia infantil. Também se encontram serviços que prometem trocar a divisa digital bitcoin por outras moedas, visto que as bitcoins são muito utilizadas em transacções ilegais por facilitar o anonimato dos utilizadores.

De acordo com um relatório de 2017 da Europol, 57% das páginas da dark web contêm conteúdo ilegal. “A maioria do conteúdo na dark web não é legal”, diz Jorge Alcobia. “Sem ser para fins de investigação, não vejo motivos para alguém se dar ao trabalho de utilizar uma plataforma que mascara a identidade de IP e a máquina que estão a utilizar para uma simples navegação na Internet,” refere.

Um dos primeiros mercados ilegais a operar na dark web foi a plataforma Silk Road, que vendia vários produtos ilícitos, particularmente estupefacientes. Em 2012, as vendas anuais rondavam os 22 milhões de dólares. Foi desmantelado em 2013, porque as autoridades encontraram o criador, Ross Ulbricht, em flagrante delito a aceder à área de administração do Silk Road numa biblioteca pública em São Francisco, nos Estados Unidos.

Como se acede à dark web?

A forma mais comum de aceder a parte da dark web é através do browser da rede privada Tor (disponível gratuitamente, online). Além de ser utilizado para aceder a sites da Internet “visível”, serve para aceder a vários sites e serviços alojados na rede Tor (os sites em questão estão sob o domínio .onion). A rede I2P é outras alternativa.

Porém, devido à actividade ilegal associada à dark web, é preciso ter cuidado ao navegar estas partes da Internet. Recomenda-se o uso de uma rede virtual privada (VPN), e o bloqueio das câmaras e microfones do computador.

É seguro aceder?

“Não”, é a resposta imediata do director da Multicert. “Ninguém se vai associar ou ligar a um gangue para o conhecer melhor. Pode fazê-lo, mas corre o risco de se associar a actividade criminosa.” Alcobia menciona um caso nos Estados Unidos em que uma biblioteca foi acusada de estar envolvida em actividade ilegal, porque o IP (obtido pelos criminosos) tinha sido registado num acesso à dark web. "Quando alguém pouco cuidado acede à dark web corre o risco de ter a sua informação pessoal aproveitada e utilizada por criminosos e, depois, ter de provar a sua inocência”, avisa Alcobia.

Há casos de criminosos a utilizar a dark web em Portugal?

Sim. Cada vez há mais, segundo dados da Multicert. Desde empresas farmacêuticas que sofrem ataques informáticos e vêem patentes e fórmulas à venda na dark web, a donos de empresa que sofrem burla de identidade. Em Portugal, o sistema de reservas online de empresas na indústria hoteleira é um dos maiores alvos de ciberataques.

“A dark web não é só usada para vendas no mercado negro. Muitos criminosos online trabalham escondidos pela dark web. Tal como ninguém assalta um banco físico sem uma máscara, as actividades ilícitas online funcionam melhor sob o véu da dark web, que esconde o endereço IP e a máquina que os criminosos estão a usar”, diz Alcobia.

Como se apanha um criminoso na dark web?

Como um lobo que veste pele de cordeiro. Várias agências de segurança e empresas utilizam parceiras internacionais (com indivíduos que criam perfis falsos na dark web) para encontrar redes de crime a operar na dark web. Os investigadores entram em contacto com os criminosos – passando-se por possíveis clientes – para obter informação que os desmascare. As parcerias internacionais são utilizadas para evitar que os criminosos portugueses se sintam desconfiados por serem contactados com clientes oriundos do seu país.

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