PUsain Bolt atreveu-se a desiludir o público. O público, apaixonado pela previsibilidade, tinha exigido que ele ganhasse. Mas Usain Bolt revelou-se um ingrato. Pegou nas justas expectativas do público e limpou o rabo com elas.

O público estava à espera que Bolt ganhasse porque ganhar é o que ele costuma fazer. Repare-se que não estava a pedir-lhe para fazer uma coisa que não tivesse feito antes. Não, o público apenas desejava uma simples repetição. Talvez parte do público nunca tivesse visto Bolt ganhar, ali mesmo à frente, em tempo real, que é sempre tão excitante, desde que não haja novidades.

Sensacionalmente foi Justin Gatlin, com 35 anos de idade, que ganhou. Mas o público não gostou. Os media britânicos, incluindo a BBC, referiu-se a ele como um "two-time cheat". Gatlin ganhou a corrida com toda a justiça e dignidade, sendo sinceramente congratulado por Bolt, mas o público apupou-o. O público quis castigar e humilhar o vencedor só porque ele não tinha correspondido ao papel que lhe tinha sido atribuido. Foi muito bonito. O atletismo foi enobrecido por aquela reacção. O público assistiu à vitória histórica de Gatlin e fez tudo para tentar estragar a ocasião. Felizmente, como contou Marco Vaza aqui no PÚBLICO, Gatlin registou e seguiu em frente: "Os apupos foram mais altos que alguns aplausos. Mas fiquei na minha pista e foi uma noite mágica".

Na verdade todos os finalistas correram como o vento. Estão todos de parabéns. Que diferença fazem umas cagajésimas de segundo?