Festival Neopop sobe de patamar com Kraftwerk e Moderat

É o cartaz mais sonante de sempre do festival Neopop. Entre esta quinta-feira e sábado, em Viana do Castelo, dos Kraftwerk aos Moderat, será possível escolher entre electrónica tridimensional ou simplesmente para dançar.

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Os Kraftwerk no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, em 2015 Miguel Manso
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Os Kraftwerk no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, em 2015 Miguel Manso
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Os Kraftwerk no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, em 2015 Miguel Manso
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O público com os óculos Miguel Manso
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O concerto dos Moderat no Nos Primavera Sound em 2016 Paulo Pimenta
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O concerto dos Moderat no Nos Primavera Sound em 2016 Paulo Pimenta

É sem dúvida um ano de subida de patamar. Depois de uma dúzia de edições, o festival Neopop (que já se chamou Anti-Pop) aposta em grande em 2017 com o concerto 3-D dos históricos Kraftwerk e a presença de um dos grupos descendentes dos alemães que nos últimos anos melhor tem aliado música electrónica e imagem, ou seja, os seus compatriotas Moderat.

É verdade que ao longo dos últimos anos têm passado pelo Forte de Santiago da Barra, em Viana do Castelo, uma lista infindável de nomes credíveis (Carl Craig, Andrew Weatherall, DJ Harvey, James Holden, Jeff Mills, Junior Boys, Laurent Garnier, Matthew Dear, Herbert, Moodymann, Michael Mayer, Richie Hawtin ou Underground Resistance) mas até aqui o evento parecia apenas confinado à cultura DJ vocacionada para a dança.

É natural que a presença dos Kraftwerk, e também dos Moderat, venha a alterar um pouco esse cenário, com a provável comparência de público mais transgeracional, provindo de Portugal mas também de Espanha e de outros países, que não deseja apenas dançar mas também assistir a um bom espectáculo. É isso que ocorrerá com os Kraftwerk, no sábado, pela 01h00, num dia com curadoria da Red Bull Music Academy portuguesa.   

Quem já os viu ao vivo sabe que raramente falham. A sua sonoridade electrónica já não tem segredos. O que tem mudado nos últimos anos é o dispositivo cénico e o conceito do espectáculo, com o público de óculos tridimensionais postos nos olhos na direcção do palco, num espectáculo total de música electrónica, imagens retrofuturistas, som envolvente, luz translúcida, minimalismo, geometria rigorosa e palavras sempre precisas.

É um espectáculo de grande eficácia. Quem os foi vendo ao longo dos anos – em 2015 estiveram em Lisboa e no Porto e, em 2004, no Coliseu de Lisboa e no Sudoeste – sabe que nas últimas décadas não mudaram muito, optando por recriar o som e a atitude que seduziu sucessivas gerações desde os anos 1970, influenciando a quase totalidade da música actual.

Como nos dizia, em entrevista de 2004, o líder do projecto, Ralf Hütter, a partir de determinada altura o que lhes interessou foi readaptarem o material analógico para digital. Agora é o 3-D que lhes importa. Não surpreende num projecto cuja autoridade vai para lá da música, com alguns dos espaços mais icónicos da criação artística global (da Tate Modern de Londres ao MoMA de Nova Iorque), a não prescindirem de os programar. É esse projecto de arte total, como lhe chamava o professor universitário Uwe Schütte, que organizou há dois anos um simpósio à volta da obra do grupo, que fixou um imaginário (as auto-estradas, os transportes, a ecologia, os robôs, os computadores, o consumismo) em muitas canções que se tornaram icónicas como The model, Radio activity, The robots, Man machine, Trans-Europe Express ou Tour de France.

O músico português Fernando Abrantes, que integrou a formação em 1991, recordava numa entrevista que lhe fizemos em 2003 que durante os concertos a rígida atitude em palco era supervisionada. Mas quem for a Viana não tem que se preocupar. Os agentes em palco (Ralf Hütter, Fritz Hilpert, Henning Schmitz e Falk Grieffenhagen) podem estar imóveis, mas o sentido de espectáculo está garantido, com muito para ouvir, sentir e experienciar. Não é de todo previsível que a máquina Kraftwerk falhe.

Quem também não deverá dar tréguas à assistência é o trio Moderat (Quinta, 01h00), garantia de um bom espectáculo audiovisual, com som electrónico dinâmico, luz intensa e imagens de alta definição, tudo devidamente sincronizado, numa coreografia visual que amplia o poder das canções devolvidas do palco por Sascha Ring (Apparat) e Sebastian Szary e Gernot Bronsert (Modeselektor). O ano passado, em entrevista, diziam-nos que os seus concertos são como filmes com música lá dentro, e é um pouco isso, embora a densidade sonora prevaleça. Com três álbuns de estúdio e duas presenças em Portugal o ano passado (Primavera Sound do Porto e Lx Factory em Lisboa), o projecto de Berlim consegue associar o impacto da música tecno alemã com o som dos graves e melodias hipnóticas seguindo uma estrutura que se aproxima da canção pop.

Mas nem só destes momentos viverá o festival, com dois palcos a funcionar noite fora até à manhã seguinte, ao longo dos três dias. No campo das prestações ao vivo haverá ainda de contar com o sueco Axel Willner, ou seja The Field (sábado, 03h00), garantia de cadências electrónicas repetitivas e texturas ambientais que tanto induzem à hipnose como à fisicalidade, ou com os americanos Octave One (sábado, 05h30), guardiões da pureza do som de Detroit, transformando sintetizadores e sequenciadores em vagas de funk e ritmos sincopados house ou tecno.

O português Alex FX (sábado, 23h30), que regressou o ano passado com o álbum Echomental 1 deverá apresentar esse mesmo registo, povoado por magnífica electrónica sombria mas musical e intensa, enquanto o inglês Luke Slater deverá enveredar pelo tecno como Planetary Assault Systems (sábado, 03h00) o mesmo sucedendo com outro cúmplice da geração que começou a dar nas vistas nos anos 90, o holandês Speedy J (sexta, 04h30).

Como sempre haverá um numeroso contingente de DJs portugueses bem conhecidos (Ramboiage, Switchdance, Rui Vargas & Tiago, Sonja, Dexter, Magazino, Pixel 82, Trikk, Freshkitos, Terzi ou Frank Maurel) que ombrearão com alguns nomes influentes além-fronteiras, como o alemão Dixon (quinta, 20h00), o veterano da house nova-iorquina Danny Tenaglia (sexta, 00h30), ou a inglesa Paula Temple (sexta, 07h00), garantia de uma sessão pelo tecno mais livre. A britânica, tal como os multinacionais Tale Of Us (sábado, 09h30), escolheram Berlim para desenvolver a sua actividade. Não espanta. A cultura da música electrónica tem uma forte identidade na Alemanha. E não são apenas os Kraftwerk, como o Neopop tratará de confirmar numa edição sob o signo da electrónica alemã.

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