Défice no ambiente em 2017: a partir de quarta-feira viveremos acima das possibilidades

Este ano a humanidade atinge seis dias mais cedo o limite de recursos do planeta Terra. A associação Zero sublinha o peso da pegada ecológica de Portugal, lembrando que eram precisos mais do que um planeta, se todos os países atingissem os níveis portugueses.

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Entre as várias propostas da Zero para reduzir o défice ambiental está a aposta numa economia circular, onde “a utilização e reutilização de recursos é maximizada" EPA/PIYAL ADHIKARY

A associação ambientalista Zero revelou esta terça-feira que a partir da próxima quarta-feira a humanidade atinge o limite de recursos disponíveis para este ano, mais cedo do que em 2016, quando este marco foi ultrapassado a 8 de Agosto. De acordo com a Zero, o último ano em que a humanidade respeitou o “orçamento natural anual”, fazendo com que os recursos existentes no planeta chegassem para o ano inteiro, foi há quase 50 anos, em 1970.

A Zero sublinha também o peso da pegada ecológica de Portugal, lembrando que eram precisos mais do que um planeta, se todos os países atingissem os níveis portugueses.“Se todos os países tivessem a mesma pegada ecológica que nós, seriam necessários 2,3 planetas”, lembra.

Para os ambientalistas da Zero, o consumo de alimentos (32% da pegada global do país) e a mobilidade (18%) são as actividades humanas diárias que mais contribuem para a pegada ecológica de Portugal. “Num mundo onde persiste uma enorme desigualdade em termos de distribuição de rendimentos e acesso a recursos naturais, estes dados são claros sobre a necessidade de se produzir e consumir de forma muito diferente”, defendem.

O chamado "overshoot day", quando os recursos se esgotam, “indica-nos que estamos a forçar os limites do planeta cada vez com maior intensidade, uma tendência que é urgente mudar para bem da humanidade e da sua qualidade de vida”, acrescentam os representantes da Zero.

Entre as várias propostas da Zero para reduzir o défice ambiental está a aposta numa economia circular, em que “a utilização e reutilização de recursos é maximizada" e que segundo os ambientalistas deverá ser "uma prioridade transversal a todas as políticas públicas”. “O ponto fulcral deverá ser a redução no uso de materiais, a promoção da reutilização e a extensão dos tempos de vida dos bens e equipamentos. Para ser eficaz, teremos de mudar o paradigma de ‘usar e deitar fora’, muito assente na reciclagem, incineração e deposição em aterro, para um paradigma de 'ter menos, mas de melhor qualidade’”, defende a associação.

A promoção de uma dieta alimentar saudável e sustentável, com a redução do consumo de proteína de origem animal e um aumento significativo do consumo de hortícolas, frutas e leguminosas secas, é outra das propostas da Zero. “Trará enormes benefícios à saúde de todos e uma redução significativa do impacto ambiental associado à alimentação”, sublinham os ambientalistas, lembrando que, em Portugal, tal significará uma aproximação da balança alimentar portuguesa ao que é defendido no padrão alimentar da roda dos alimentos.

A Zero propõe ainda a promoção da mobilidade sustentável assente em diferentes estratégias, designadamente a melhoria do acesso e das condições em que operam os transportes públicos, a disponibilização de condições e infra-estruturas que estimulem a “mobilidade suave” e a partilha do transporte (car-sharing).

“Evitar usar o cartão de crédito ambiental é um investimento no nosso bem-estar e qualidade de vida. Viver com pleno respeito pelos generosos limites do planeta Terra é a única forma de garantirmos um melhor futuro para todos”, defende a Zero.

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