Carol Burnett volta à infância no Netflix

A veterana actriz cómica, uma lenda do entretenimento e da televisão norte-americana, será a protagonista de A Little Help with Carol Burnett, o novo programa que o Netflix anunciou para 2018.

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Carol Burnett fala com uma criança no teaser do seu novo programa Netflix
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A criança que mostra a Carol Burnett como funciona o mundo actual dr

Hoje com 84 anos, Carol Burnett diz sentir-se ainda com oito anos. É, talvez, por isso que a premissa de A Little Help with Carol Burnett, o novo programa do Netflix que irá para o ar em 2018, seja ela a falar com crianças de idades compreendidas entre os 4 e 8 anos. É mais uma das apostas recentes do serviço de streaming em programas que não sejam de ficção nem documentários, juntando-se a títulos como o talk show Chelsea, da cómica Chelsea Handler, a competição desportiva Ultimate Beastmaster ou a continuação, ainda por estrear, de Queer Eye for the Straight Guy, o programa dos anos 2000 em que um grupo de homens gay mudava o visual a homens heterossexuais.

Serão, pelo menos numa primeira temporada, 12 episódios de meia hora, gravados em frente a um público, em que Burnett e as crianças falam “dos maiores dilemas da vida”, com a ajuda de convidados famosos e pessoas comuns. Como só se estreia para o ano e é feito ao vivo, ainda só existe um teaser do programa. No curto vídeo, a actriz cómica é entrevistada por uma criança e tenta convencê-la das suas habilitações para apresentar o programa.

Desde os anos 1950 a invalidar questões sobre se mulheres podem ou não ter piada, Carol Burnett foi, de 1967 a 1978, a estrela dos 279 episódios de The Carol Burnett Show, um programa de variedades da CBS que a transformou num nome forte da comédia. Com sketches, números musicais e convidados diferentes em todos os episódios, que iam de músicos como Ella Fitzgerald, Dionne Warwick ou Ray Charles a estrelas de cinema como Burt Reynolds ou Vincent Price, passando por cómicos como Lucille Ball ou Steve Martin, entre outros.

O programa, um enorme sucesso de audiências que tinha um elenco fixo por onde passaram nomes como Tim Conway, Harvey Korman, Vicki Lawrence e, nas últimas temporadas, Dick Van Dyke, utilizava os consideráveis talentos de Burnett, que, além da comédia, incluem dançar e cantar, numa altura em que demonstrar tais habilidades já não estava tanto em voga como tinha estado décadas antes. Aliás, ao início, a CBS, a estação de televisão, queria convencer Burnett, que estava em ascensão, a fazer uma sitcom, mas a actriz lutou para que isso não acontecesse e aproveitou uma cláusula no contrato com a estação para levar a sua avante.

The Carol Burnett Show foi altamente influente. Para o bem e para o mal. Lorne Michaels, por exemplo, o criador e ainda hoje produtor executivo de Saturday Night Live, idealizou, em 1975, a sua série de variedades como algo que tinha de evitar tudo o que caracterizava o programa de Carol Burnett, que ainda estava no ar na altura e tinha um estilo que Michaels considerava antiquado e ultrapassado. Faltava-lhe, dizia, a subtileza de que ele procurava na comédia, com os actores muitas vezes a desmancharem-se a rir durante sketches – algo que, ainda assim, também viria a acontecer na criação de Michaels, que no ano passado até produziu Maya & Marty, um programa de variedades da NBC com um formato parecido com o do programa de Carol Burnett. A animosidade não é recíproca: há vários anos que há uma campanha de Facebook para Burnett apresentar Saturday Night Live e, numa entrevista de 2016, Burnett revelou a Larry King ter essa vontade, dizendo que nunca tinha sido convidada para tal.

Nem só desse programa de variedades se fez a carreira da actriz, contudo. Burnett ganhou vários Emmy e Globos de Ouro, tem um Grammy e foi nomeada para vários Tony. Em televisão, protagonizou especiais televisivos ao lado de nomes como Julie Andrews ou Dolly Parton, encabeçou Carol e Companhia, um programa de sketches de uma hora que em 1991 passou na RTP e apareceu em programas do universo dos Marretas e da Rua Sésamo. No cinema, trabalhou com realizadores como Billy Wilder, Peter Bogdanovich, John Huston ou Robert Altman, aparecendo em filmes como Annie ou Um Amor Simples.

Com tanto no currículo, a actriz não tem ficado parada. Em tempos recentes, escreveu e narrou o seu próprio livro de memórias, In Such Good Company: Eleven Years of Laughter, Mayhem, and Fun in the Sandbox. Foi, aliás, a versão narrada do livro que lhe valeu, no ano passado, um Grammy. Também tem aparecido em séries como Glee ou Hawai: Força Especial e gravou, como protagonista, o episódio-piloto de Household Name, uma nova sitcom com produção executiva de Amy Poehler, feita para a ABC, que entretanto foi posta de molho, ainda sendo provável que se venha a concretizar. Em Março, voltou a reunir-se com Julie Andrews e fantoches como os dos Marretas na série para crianças que Andrews tem no Netflix, Julie’s Greenroom.

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