Jovens e consagrados no Verão Clássico do Centro Cultural de Belém

Oportunidade para seguir o aperfeiçoamento artístico das novas gerações de músicos e para apreciar prestigiados intérpretes em obras de câmara pouco interpretadas.

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O Centro Cultural de Belém acolhe a partir desta terça-feira a 3.ª edição do Verão Clássico – Academia Internacional de Música de Lisboa, uma iniciativa com direcção artística e pedagógica do pianista Filipe Pinto-Ribeiro, que combina um festival de música de câmara por intérpretes e professores de reputação internacional com uma série de masterclasses destinadas a estudantes e músicos profissionais. Até 10 de Agosto será possível assistir aos quatro concertos que compõe o MasterFest (dias 1, 4, 7 e 10, às 21h), a cargo dos professores, e aos seis concertos do TalentFest, (dias 2, 3, 5, 6, 8 e 9, às 15h30, com entrada livre), nos quais se apresentam jovens músicos participantes do Verão Clássico 2017, vários deles detentores de prémios.

Os responsáveis pela formação especializada nas masterclasses, também abertas ao público em geral na qualidade de ouvinte, são oriundos de prestigiadas instituições de ensino sediadas em cidades como Berlim, Paris e Lucerna, e solistas de agrupamentos tão importantes como a Orquestra de Paris, a Filarmónica de Berlim e a Orquestra Sinfónica da Rádio da Baviera. Este ano realiza-se pela primeira vez uma masterclass de oboé, com Ramón Ortega Quero, membro da Sinfónica da Rádio da Baviera e vencedor do Concurso ARD de Munique em 2007 após 40 anos sem atribuição de 1.º Prémio (entre os anteriores laureados encontram-se personalidades da estatura de Heinz Holliger e Maurice Bourgue). Os violinistas Corey Cerovsek e Elina Vähälä, a trompista Marie-Luise Neunecker, o violoncelista do Quarteto de Jerusalém Kyril Zlotnikov e o contrabaixista Gunars Upatnieks participam também pela primeira vez no Verão Clássico, na companhia dos já habituais Eldar Nebolsin (piano), Pascal Moraguès (clarinete), Isabel Charisius (violeta) e Gary Hoffman (violoncelo).

Segundo informação da organização, após 320 aulas em 2016, este ano estão previstas cerca de 380 aulas de oito instrumentos e de música de câmara, orientadas por onze professores de dez nacionalidades diferentes. As aulas decorrem simultaneamente em várias salas do CCB, tendo a AMEC/Metropolitana de Lisboa, disponibilizados  25 salas de estudo. Para a edição de 2017 foram seleccionados cerca de 150 participantes, dos quais dois terços são portugueses, alguns radicados no estrangeiro. Os restantes são oriundos de mais de 20 países. Foram também criados os Prémios Verão Clássico, destinados aos melhores participantes, os quais terão depois a oportunidade de se apresentar em concertos inseridos em temporadas musicais realizadas em Portugal.

Conforme escreve Filipe Pinto-Ribeiro no texto de apresentação, “o Verão Clássico fomenta assim a formação e a apresentação pública de jovens talentos, encorajando-os e apoiando-os na construção das suas carreiras, incentivando paralelamente o intercâmbio cultural. Permite também aos estudantes portugueses aceder, no seu próprio país, a “uma plataforma para o desenvolvimento do seu nível artístico e a possibilidade excepcional de aprendizagem com alguns dos mais prestigiados professores internacionais.” O Verão Clássico pretende também promover a descentralização, tendo apresentado no dia 21 de Junho, no Teatro Municipal de Bragança, um concerto e uma série de aulas abertas de piano, violino, violoncelo e música de câmara destinadas a alunos das escolas da região.

O programa do concerto de abertura (esta terça-feira, às 21h) inclui a Abertura sobre Temas Judeus, de Prokofiev, obra composta em 1919, pouco tempo depois do compositor se radicar nos EUA e destinada a um grupo de jovens músicos judeus seus compatriotas. Escrita para clarinete, piano e quarteto de cordas, um conjunto pouco habitual, seria em 1934 objecto de uma versão orquestral. Várias obras-primas da música de câmara do Classicismo e do Romantismo completam o programa, nomeadamente o Quarteto K. 370, de Mozart; os Romances op. 94, para oboé e piano, de Schumann; e o Trio nº1, op. 49, de Mendelssohn.

No dia 4 será a vez da “Festa Russa”. A abrir, o pianista russo Eldar Nebolsin tocará uma selecção dos belíssimos Prelúdios op. 23 de Rachmaninov, e a fechar será interpretado o célebre Trio nº 2, de Schostakovich. O destaque vai porém para o raramente tocado Quinteto op. 39, de Prokofiev, destinado a uma formação composta por oboé, clarinete, violino, viola e contrabaixo.

O universo do Romantismo estará em evidência no concerto do dia 7, no qual o excelente clarinetista francês Pascal Moraguès tocará a Sonata op. 120, nº2, de Brahms, seguindo-se a Melodia, para contrabaixo e piano, de Bottesini, e o Quarteto com Piano nº 2, op. 87, de Dvorák. Além de Moragués participam Filipe Pinto-Robeiro e Eldar Nebolsin (piano), Corey Cerovsek (violino), Isabel Charisius (viola), Gary Hoffman (violoncelo) e Gunars Upatnieks (contrabaixo). Os mesmos músicos, mais a trompista Marie-Luise Neunecker, actuam ainda no concerto de encerramento, no dia 10, com um programa formado pela Sonata para trompa e piano, op. 17, de Beethoven; pelo Gran Duo Concertante, de Bottesini; pela Suite para violoncelo solo, de Gaspar Cassadó; e pelo festivo Sexteto Op. 37, do compositor húngaro Ernö Dohnányi, destinado a um grupo formado por clarinete, trompa, violino, viola, violoncelo e piano. Para além de poder assistir ao processo de aperfeiçoamento artístico de músicos em formação e de profissionais, o público do Verão Clássico conta assim com a possibilidade de ouvir fascinantes repertórios de câmara raramente tocados em concerto.

 

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